Suponha que você seja um daqueles profissionais de TI
bem conceituados, que vive se atualizando, que tem uma experiência considerável
naquilo que faz e que vem conseguindo levar sua carreira com seriedade e sempre
tentando, de maneira honesta, subir degraus de forma gradual e consistente até
que... Você vira líder de uma equipe!
Tudo parece acontecer naturalmente, afinal você trabalhou duro e estava preparado
para esta oportunidade. Você então faz milhares de planos e tenta ressuscitar em
sua mente todos aqueles conhecimentos acadêmicos sobre gestão de pessoas,
liderança, gestão de equipes, etc.
Logicamente, depois de certo tempo, você começa a perceber que a atividade de
líder possui atributos diferentes daqueles aos quais você estava acostumado na
época em que trabalhava com atividades meramente técnicas. Toda aquela conversa
que você sempre ouvia sobre a responsabilidade maior e a cobrança que aumenta
na mesma proporção, começa a fazer sentido. Aliás, você passa a ver que muitos
daqueles clichês de liderança que você muitas vezes desdenhou agora não são
mais apenas "conversa pra boi dormir". Você passa a ter outras
preocupações e outras entregas para fazer, em níveis distintos daqueles de
antes.
Em alguns momentos, você não sabe por que, mas sente-se meio sozinho. E essa
sensação aumenta à medida que você não é mais executor direto de algumas das
tarefas do projeto, mas agora é quem as coordena e as delega. Se você começou a
trabalhar num cargo de liderança ou já trabalha em um, certamente essa sensação
já passou por pela sua frente alguma ou algumas vezes. Mas, por que será que
esse tipo de coisa acontece?
Eu acho que isso é devido ao fato de que, muitas vezes, os bons profissionais
são extremamente apegados ao seu trabalho. Gostam muito daquilo que fazem. Têm
paixão por aquilo que fazem. É como se cada projeto novo colocado em prática
fosse uma espécie de “filho”. Talvez isso explique um pouco o "vazio"
que um líder de equipe sente em determinados casos. Como agora ele não está tão
intimamente ligado à execução das tarefas técnicas e/ou inerentes ao processo
produtivo em si, tendo outras pessoas nessa função, há uma sensação de
distância ou até de desconfiança em relação ao que precisa ser feito. Ele sabe
que tem de delegar, mas sempre fica com o “pé atrás”, pois não tem aquela
certeza absoluta de que estão fazendo as coisas tão bem quanto ele fazia. Que
líder de equipe nunca sentiu isso, mesmo que momentaneamente?
Esse tipo de posicionamento pode parecer um tanto egoísta, mas acontece. O que
o líder precisa ter em mente é que, a partir do momento em que lhe é incumbida uma
liderança de equipe, outras atividades e responsabilidades irão preencher com
sobras todos os vazios que ele sente em relação ao que fazia antes. Não raro,
ele acabará ainda mais atarefado do que antes. Você, como líder, passa a ser
verdadeiramente o representante de um grupo, ao qual recaem muitas expectativas.
E faz parte da sua função lidar com elas. Pressão também existe, mas é inerente
ao processo. Esta é, sem dúvida, uma mudança de paradigma que pode requerer uma
adaptação grande, dependendo do seu perfil, mas que também vai proporcionar um
amadurecimento profissional incrível.
Se você está hoje em uma posição de liderança, é porque certamente trabalhou e
merece estar lá, ou pelo menos consideram você a pessoa certa para estar lá.
Portanto, lembre-se de que você terá outras coisas a mostrar, irá aprender
coisas novas, sentirá as diferenças em relação à cobrança, terá de administrar
conflitos e verá, finalmente, que aqueles ensinamentos sobre liderança da época
da faculdade não eram apenas conversa acadêmica. Eles realmente formarão a base
de conhecimento necessária para administrar esse novo rumo da sua carreira. E
você não vai querer mais voltar atrás, pode ter certeza.
* Adaptação do texto escrito em 15/01/2009
quinta-feira, 29 de março de 2012
A Liderança Tem Lá Seus "Vazios". Será Mesmo?
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