O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os 5 Álbuns de Rock que Todo Mundo Devia Ouvir Antes de Morrer

O mundo mudou e, com ele, muitas outras coisas. Uma delas, devemos concordar, foi a indústria da música. Já se vai o tempo onde vender disco era a principal fonte de receita dos artistas. Desde que a música se digitalizou, popularizando o mp3 e, com ele, a pirataria, as coisas não são mais as mesmas. Pirataria sempre existiu, mas a internet tornou ela mais fácil e acessível. Mesmo as formas legais de comércio digital, como o iTunes, não tiveram piedade do pobre do disco. Ainda há lançamentos em CD, claro. O velho vinil, por incrível que pareça, está ressurgindo em alguns mercados de nicho. Mas a forma mais popular hoje é, sem dúvida, a música digital.

E tem suas razões para sê-lo. Com um pequeno tocador de mp3 você já consegue armazenar e transportar milhares de músicas, coisa que nos tempos dos toca-discos, toca-fitas e até mesmo CDs era impossível. Ainda tem gente que prefere as mídias antigas. Embora os ouvidos de 90% da população não percebam a diferença, há aqueles que defendem a tese de que nada se compara em qualidade ao som do vinil. Pode até ser, mas é preciso um aparelho muito bom para não ouvir os tradicionais chiados dos discos antigos. Disso eu não sinto falta, embora concorde em parte quanto à questão técnica da coisa.

Inegavelmente, é muito mais prático hoje em dia. Se não fosse o mp3, o cartão de memória, o meu smartphone e os fones bluetooth, eu jamais conseguiria levar para qualquer lugar as milhares de músicas que tenho armazenadas. É uma beleza mesmo. 

Só que tem um ponto que a tecnologia não conseguiu substituir: a identidade visual dos discos. Essa era a parte mais legal de você comprar um. Você chegava da loja, desembrulhava o vinil e tinha uma capa, simples ou dupla, que identificava unicamente aquela obra. Era parte da concepção artística. Dava alma ao álbum. Fazia com que fosse possível "ver" as idéias ali expressadas. Ainda tinha o encarte interno, com as letras das músicas, fotos, etc. Comprar um disco era uma experiência. Admira-me como a Apple, que sabe como ninguém sobre experiência do consumidor, ainda não tenha desenvolvido um jeito pra isso. Ou outra empresa, que seja. O fato é que isso se perdeu com o tempo. Ainda lembro-me das discussões ferrenhas com amigos, onde filosofávamos acerca de algumas capas de discos. Dessa parte eu sinto falta, com certeza.

Os discos ainda tinham um algo mais que se perdeu: o fato de terem dois lados. Normalmente, o lado A de um disco continha as músicas de trabalho e/ou as mais comerciais, aquelas enviadas para as rádios para a divulgação inicial. O lado B era mais experimental, onde os artistas tentavam criar as obras mais de acordo com gostos pessoais, tentar novos conceitos, instrumentos, arranjos, etc. Muitos álbuns eram concebidos tendo essa diferença sendo o seu direcionador. A escolha da ordem das músicas levava isso em conta também. O Vinil e o K7 ainda tinham essa separação. O CD acabou com a brincadeira. E o mp3 acabou com o CD e com o conceito de álbum. Essa é a parte chata.

Todo esse baita falatório aí em cima foi só pra contextualizar o propósito deste post. Como muitos devem saber, eu sou um amante do bom e velho Rock and Roll, e acho que a geração atual está perdendo muito em termos de conteúdo nas músicas, não só no Rock, mas em geral. Assim como a música ficou mais acessível, também os músicos ficaram mais acomodados. Parece que os roqueiros estão com preguiça de pensar. Ou então não têm mais no que se inspirar. Nem as letras nem os arranjos parecem dizer algo de útil. Pode ser nostalgia da minha parte, mas não vejo exemplos que demonstrem o contrário.

Mas enfim, o ponto principal é que o disco tinha o poder de perpetuar as obras dos músicos. E, dentre tantos discos clássicos do Rock, eu listaria cinco deles que todo ser humano deveria ouvir ao menos uma vez na vida. São consideradas as obras-primas de seus autores e estão na minha lista de preferidos. Escolhi cinco porque acho um número suficiente para coisas preferidas em cada área. Mais do que isso não é preferência, e sim uma mera listagem de coisas das quais se gosta. Curiosamente e por acaso, depois de um tempo eu descobri que meus cinco discos de rock favoritos estão entre os dez melhores da história, de acordo com o Rock AndRoll Hall of Fame, da Revista Rolling Stone, que lista um total de duzentos. Ou seja, minhas dicas não são nada furadas, elas têm um bom embasamento e contam com o suporte relevante da opinião pública (risos).

Vou listar apenas discos internacionais, mas prometo fazer uma lista nacional um dia desses para postar aqui. Não vou me alongar muito nas descrições de cada um. Para isso, há links nos respectivos títulos, que apontam para a Wikipedia. E também, se eu falar tudo, vai tirar a vontade de muitos em procurar saber mais a respeito de cada obra. E a idéia é justamente instigar você, querido leitor, a ter a curiosidade de buscar mais informações. Os discos estão organizados por ordem de lançamento, não de preferência. Então, você que ainda não ouviu nenhum deles, ouça e aprenda como é que se faz rock de verdade. Se possível, consiga o disco ou CD, para entender como uma capa pode expandir a compreensão da percepção dos artistas ali registrados e fazê-lo visualizar a obra como um todo.


Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967): Sem dúvida, o melhor disco dos Beatles. Para muitos (muitos mesmo) é considerado o melhor disco da história. Não por acaso, está em primeiro lugar na lista do Hall of Fame. É um divisor de águas na carreira da banda de Liverpool. A Beatlemania  estava enfraquecida, eles não queriam mais fazer discos ao estilo iê-iê-iê. Deram uma pausa nas turnês e puderam, pela primeira vez, ter tempo suficiente para se dedicar a um novo álbum. Ao ser lançado, inovou tanto em técnicas de gravação quanto em sonoridade, usando instrumentos poucos comuns para a época. Para se ter uma idéia da dimensão dessa obra, praticamente todos os discos aí abaixo tiveram ou usaram conceitos deste aqui. Por isso ele está no topo. Ele também ficou famoso por ter as músicas todas como sendo sequências umas das outras e pela própria capa, repleta de fotos de celebridades, e que gerou diversas teorias de mensagens subliminares, incluindo a de que Paul McCartney havia morrido. Curiosamente, dois grandes sucessos da banda ficaram de fora do disco. Strawberry Fields Forever e Penny Lane originalmente fariam parte dele, mas acabaram entrando apenas no álbum seguinte. Porém, até hoje parecem nunca ter saído de lá, tamanha sua integração com as demais canções.

Músicas:

Lado A
1. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"  
2. "With a Little Help from My Friends"      
3. "Lucy in the Sky with Diamonds"      
4. "Getting Better"      
5. "Fixing a Hole"      
6. "She's Leaving Home"      
7. "Being for the Benefit of Mr. Kite!"      

Lado B
1. "Within You Without You"      
2. "When I'm Sixty-Four"      
3. "Lovely Rita"  
4. "Good Morning Good Morning"  
5. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)"  
6.
"A Day in the Life"      



Led Zeppelin IV (1971): Esse álbum tem uma importância muito grande para o rock porque deu a ele clássicos que até hoje tocam nas rádios. Ok, isso todos os discos dessa lista fazem. Só que esse aqui tem algumas particularidades. Se o Sgt Peppers foi o melhor disco da história, o quarto álbum do Led Zeppelin tem aquela que é considerada a melhor canção de rock da história: Stairway to Heaven. Todo mundo que toca violão aprende o solo dessa música desde as primeiras aulas. O disco está no quarto lugar do Hall of Fame. O lançamento também teve seus fatos inusitados. Imagine que você seja uma banda famosa e lance um álbum sem título, cuja capa tem apenas fotos e quatro símbolos, um representando cada integrante. Nem o nome da banda aparece. Pois é, esse é o caso. E isso deve ter sido um dos fatores que criaram toda a mística do disco e o fizeram ser um recordista de vendas, elevando o Led Zeppelin ao status de superbanda, com todos os excessos a que isso tem direito. Ele sequer tem um nome oficial até hoje, sendo conhecido por pseudônimos como "Zoso" (que parece ser a palavra escrita no primeiro símbolo), "Four Symbols" ou simplesmente "Led Zeppelin IV". Até os catálogos têm dificuldades de listá-lo por conta disso. Eu prefiro a última denominação. O disco é repleto de clássicos, tem o melhor do Hard Rock, com uma qualidade musical incrível, de uma das bandas mais incríveis.

Músicas:

Lado A

1. "Black Dog"
2. "Rock and Roll"
3. "The Battle of Evermore"
4. "Stairway to Heaven"

Lado B
1. "Misty Mountain Hop"
2. "Four Sticks"
3. "Going to California"
4. "When the Levee Breaks"




Dark Side of the Moon (1973): O que dizer de um álbum que contém canções que exploram malesas humanas como dinheiro, tempo, loucura, morte, etc. se tornar um dos mais vendidos da história? Mais do que isso, este disco tem uma sonoridade inigualável, experimentações inéditas até então, com direito até a pitadas de música eletrônica. Em 1973! É a masterpiece do rock progressivo, sem questionamentos. Também mudou tudo o que se ouvia falar do Pink Floyd. Os caras viraram gênios da noite para o dia, plenamente justificado, diga-se. É um disco onde o instrumental é o protagonista, até as vozes parecem melodia. Ocupa a segunda posição do Hall of Fame. Depois dele, muita gente passou a mudar os parâmetros de audição musical, inclusive para as passagens de som de shows. Quer testar a fidelidade de qualquer aparelho de áudio? Coloque este disco para tocar! É daqueles álbuns que eu chamo de "chapantes". Você ouve e fica meio aéreo. Experimente ouvi-lo sozinho, num lugar silencioso e com bons fones de ouvido. Vai entender o que eu digo... Embora a capa seja das mais famosas, talvez o fato mais interessante seja a suposta sincronia do disco com o filme "O Mágico de Oz", de 1939. A banda sempre negou essa relação, mas é notório que tem caroço nesse angu. Ou melhor, tem coincidências demais. Na internet é possível encontrar a versão do filme sincronizada com o disco. Você certamente vai se surpreender. Com o disco.

Músicas:

Lado A
1.
"Speak to Me/Breathe"
2. "On the Run"
3. "Time/Breathe (Reprise)"
4. "The Great Gig in the Sky"

Lado B
1. "Money"
2. "Us and Them"
3. "Any Colour You Like"
4. "Brain Damage"
5.
"Eclipse"



The Joshua Tree (1987): Se o U2 é uma das bandas mais ricas do planeta, muito ela deve a este disco. Diferente de outros álbuns clássicos, não há nenhuma mística envolvendo este. A árvore que dá título à obra é uma planta que nasce no deserto, resistente ao calor e ao frio que faz à noite. Também tem simbolismos bíblicos, mas o nome foi usado apenas artisticamente, não tem um significado específico. O disco é famoso e vendeu muito porque tem ótimas músicas. Antes dele, o U2 era uma banda que fazia músicas com alguns temas políticos e sociais. Continuou sendo, mas, depois dele, virou o que vemos hoje: uma superbanda moderna. O disco é uma espécie de crítica aos EUA do período Ronald Reagan. Fala das duas Américas que eram visualizadas: a América mítica, da liberdade, e a real, das restrições políticas e da ganância dos políticos. Até hoje é considerado o melhor álbum do U2, estando também na quinta posição do Hall of Fame dos discos definitivos do rock. Foi justamente por causa deste disco que eu comecei a acompanhar a obra deles mais de perto. A curiosidade é que um dos maiores hits, "With or Without You" quase foi descartada por ser considerada simples demais. Imagina só se isso tivesse realmente acontecido. É daquelas coisas pequenas que podem mudar toda uma história apenas por um detalhe. Que bom que não mudou.


Músicas:
Lado A
1. "Where the Streets Have No Name"  
2.
"I Still Haven't Found What I'm Looking For" 
3. "With or Without You"      
4. "Bullet the Blue Sky"  
5. "Running to Stand Still"
 
Lado B
1. "Red Hill Mining Town"  
2. "In God's Country"   
3. "Trip Through Your Wires"
4. "One Tree Hill"       
5. "Exit"   
6. "Mothers of the Disappeared"




Nevermind (1991): Este é apenas o segundo álbum de estúdio do Nirvana, mas teve o efeito de um tsunami no mundo do rock no início dos anos de 1990. Ele foi responsável por trazer o movimento grunge aos holofotes definitivamente. O disco tem aquela que é considerada a melhor capa de todos os tempos, mas bom mesmo é o som variado e agressivo que ele tem. Eu gosto de outras bandas do mesmo estilo, como o Pearl Jam, mas este disco é de uma grandiosidade que não chegou a nenhuma outra banda de Seatle. Estourou nas paradas rapidamente e seu sucesso meteórico acabou por causar toda uma pressão em quem ainda não estava acostumado a lidar com ela. A pressão da fama obtida por esse trabalho é considerada uma das causas do suicídio de Kurt Cobain. Mas essa é outra história. Esse disco é épico porque acabou com a mesmice que estava se tornando o rock na época. Quebrou paradigmas. Instrumentalmente muito bem concebido, é possível sentir toda a sua energia meio depressiva ao ouvi-lo. É o único disco dos anos 1990 que está entre os dez mais do Hall of Fame (é o décimo, exatamente). Kurt achava que podia mudar o mundo. Ao menos, conseguiu mudar o rock. Pena que hoje as coisas parecem estar se acomodando de novo. Estamos precisando de um novo Nirvana.


Músicas:
Lado A
1. "Smells Like Teen Spirit"
2.
"In Bloom"
3. "Come as You Are"
4. "Breed"
5. "Lithium"
6. "Polly"
 
Lado B
1. "Territorial Pissings"
2. "Drain You"     
3. "Lounge Act" 
4. "Stay Away" 
5. "On a Plain" 
6. "Something in the Way"




Bem, espero que tenham gostado da lista. Obviamente tem muitos outros discos legais, mas eu listei aqueles dos quais eu mais gosto. Fiquem à vontade para comentar e dar suas opiniões. Essa é a minha lista. Faça você a sua também! Ah, e lembram-se do que eu falei no início do post, de que as músicas de antes tinham mais conteúdo e melhor arranjo? Eu dei uma outra olhada na lista do Hall of Fame e percebi que não há, nem entre os dez, nem entre os vinte primeiros, um disco sequer que tenha sido lançado de 2000 para cá. Por que será, hein?





quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.


A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes. Mais que um simples clichê de propaganda de uísque, essa frase faz todo o sentido quando se fala de música, especialmente. Músicas clássicas de Beethoven, Bach, Vivaldi, dentre tantas outras composições seculares, são prova irrefutável disso. O tempo passa, mas elas sempre se fazem presentes, sempre estão aí para serem lembradas. E estão porque marcaram de tal maneira suas épocas que os pais as repassaram para os filhos, até os dias contemporâneos. 

Será possível que o Rock alcance tal proporção? Eu e você provavelmente nunca saberemos, mas nossos tataranetos talvez saibam. Uma coisa é certa: algumas músicas são tão conhecidas que, só por terem seus títulos pronunciados, são capazes de reconhecimento quase instantâneo. São, portanto, candidatíssimas à perpetuidade. Não há como “Stairway to Heaven”, “Yesterday”, “Bohemian Rhapsody”, entre outras, não se tornarem eternas, assim como seus intérpretes originais. E por quê? Porque são ótimas, ora essa! 

O Brasil também tem seus ídolos eternos: Tom, Elis, Chico, Vinícius... Mas estamos falando de rock, não é mesmo? Bem, aí nós podemos citar Raul, Cazuza e muitos outros. Só que talvez nada se compare, no rock brasileiro, à Legião Urbana. Uma banda que foi (e ainda é) capaz de realmente influenciar uma geração inteira e arrastar multidões de seguidores. E quando eu falo de realmente influenciar, o digo em termos de sentimento, atitude, personalidade. Tive muita sorte de ser adolescente naquela época. 


 
E porque a Legião é tão cultuada? Simples: As músicas diziam o que queríamos ouvir, ou então falavam sobre experiências que eram comuns a muitos de nós. Havia toda essa identificação, como ainda há naqueles que estão descobrindo a banda agora. As coisas mudaram muito da década de 1980 pra cá, é verdade, mas nem tudo mudou. Letras como “Que país é Esse”, “Perfeição”, “Vento no Litoral”, “Metrópole”, “Índios”, continuam a fazer sentido como se tivessem sido escritas ontem. Um colega disse esses dias: “- Ah, isso é saudosismo. Já vi pesquisas onde se comprova que tendemos sempre a achar que a nossa geração é melhor do que as que passaram”. 


Pode até ser, em certos casos. Mas com música é diferente. Não venham me dizer que “Delícia, delícia, assim você me mata. Ai, se eu te pego, ai, se eu te pego” é melhor do que “Sei o que devo defender, e, por valor, eu tenho e temo o que agora se desfaz”. A belíssima letra de “Metal contra as Nuvens”, aliás, fala sobre um cavaleiro medieval e sua luta nas cruzadas. Como o próprio Renato Russo dizia, esse é o tipo de coisa que você só vai ver na Legião. E realmente não se viu nada parecido no Brasil desde então.

Renato começou a cantar, dito por ele, achando que era punk. De fato, não era mesmo. Seu pai era funcionário público do Banco do Brasil e, por conta disso, Renato viveu parte da infância em Nova Iorque, EUA. Não tinha origem punk nessa história. Ademais, a temática de sua poesia e o conteúdo de suas letras mais lembravam antigos menestréis ou algumas bandas de heavy metal do que propriamente Ramones ou Sex Pistols, embora ele fosse fã de ambas. Tanto, que escreveu um artigo (sob um pseudônimo) para o Melody Maker, à época da morte de Sid Vicious. Mas vai dizer a ele que ele não era punk... Como eu mencionei, ele achava que era. Criou uma banda com o nome de Aborto Elétrico, origem da Legião e do Capital Inicial, promoveu shows e quebra-paus homéricos, daqueles de causar inveja a muito adolescente revoltado do underground londrino. Vêm dessa época boa parte das composições da Legião e do Capital, como “Faroeste Caboclo”, “Música Urbana”, “Fátima”, etc. Mesmo com o fim da banda, ao apresentar-se como “O Trovador Solitário”, já menos revoltado, ele produziu obras-primas como “Eduardo e Mônica”, um dos maiores sucessos da Legião.


 
Era um gênio como letrista. Um dos três maiores do Brasil, na minha modesta opinião (os outros dois são Chico Buarque e Raul Seixas). Porém, suas composições em nada seriam válidas sem a emoção com que as interpretava. Certa vez, Dado Villa-Lobos disse que Renato era capaz de cantar um simples “parabéns a você” e fazer você chorar no final, tamanha a sua capacidade de contagiar as pessoas. Era muito confiante. Dava-se ao luxo de ditar "ordens": pedia que ouvíssemos seus discos no volume máximo e era prontamente atendido. Ele conseguia isso porque cantava com o coração. E isso cativava os fãs, que viam ele, um cara adulto e intelectualizado, passar pelos mesmos questionamentos que seus fãs, na sua maioria adolescentes, passavam. A Legião só era o que era porque tinha também Dado e Bonfá (não falo do Renato Rocha porque ele saiu da banda muito cedo e não adquiriu a mesma alma e identidade dos demais), caras que mal sabiam tocar no começo e que viraram verdadeiros ícones. 


 
É evidente, para não dizer espantosa, a diferença entre o primeiro disco da banda e o segundo, lançado dois anos depois. É qualquer coisa de impressionante a evolução alcançada. Ali eles começaram a unir belas letras a belos arranjos. Tão marcantes que, basta ouvir um acorde e você já sabe que está tocando Legião. Como isso era possível, se as músicas, em sua maioria, tinham apenas três míseros acordes? Não sei. Sinceramente, tento descobrir isso até hoje. 

A Legião conseguiu, como poucos, falar de política sem fazer politicagem, levantar questões polêmicas sem o narcisismo de hoje, criticar sem precisar dizer palavrão, falar de amor sem ser pedante ou parecer piegas. Isso tudo, mais o fato de ter como público uma juventude pós-ditadura e, de certa forma, mais intelectualizada, onde simplificar demais não era uma obrigação para se fazer entender, foi o que catapultou a banda para o sucesso quase que devocional. Uma “Religião Urbana”, como se dizia. Muitos foram os hit singles, mas arrisco a dizer que as melhores músicas da Legião não são as mais famosas, aquelas que as FMs tocaram à exaustão. Estou falando o óbvio pra quem é fã, mas, para os que conhecem superficialmente o trabalho da Legião, fica a dica: Dêem uma olhada na discografia completa. Tem obras ótimas ali e que nunca foram músicas de trabalho, como "Os Barcos", uma das minhas preferidas. 

Naquela época, ainda era possível ganhar dinheiro com venda de álbuns (leia-se LP e K7), e shows e aparições na TV não eram tão frequentes. Comparado a hoje, a Legião fez poucas apresentações ao longo de 10 anos. Ter tido a chance de vê-los ao vivo é algo digno de se comemorar. Era 28 de Maio de 1994. Garoava, mas não me lembro de estar frio. Eu acabara de completar 15 anos, dias antes. Resolvi me dar um presente de aniversário. Aproveitei uma festa na minha escola no mesmo dia como desculpa e fui ao show, sem meus pais saberem, com amigos que pagaram pra mim. Talvez tenha sido única vez que tenha feito isso na minha vida de bom filho CDF, mas foi por uma boa causa. O Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre, estava lotado. Dizem que eram 22 mil pessoas. É de se acreditar, pois mal conseguia sentir meus pés encostarem no chão. Por vezes, parecia estar flutuando por cima dos tênis dos outros. Lembro que, dois anos antes, o Roxette tinha colocado 17 mil pessoas lá e tinha sido recorde de público. Bem, se foi isso, já era o tal recorde... 


Reprodução da chamada do Show de 28 de Maio de 1994. Clique para ampliar.

Os shows eram raros, mas valiam a pena, pois duravam cerca de 2 horas e eram muito interativos. E sucesso era o que não faltava. Mal sabia eu que aquela seria a última turnê que a Legião faria. Ao menos, aproveitei cada segundo. Só veria um show tão bom em 2010, estrelado por um Beatle. 

O dia em que o país perdeu Renato Russo, 11 de Outubro de 1996, foi bem triste. Não por ele apenas, mas porque eu sabia que, a partir daquele momento, tinha acabado também a Legião. Eu estudava de manhã e trabalhava à noite, no CPD da escola onde eu cursava o segundo grau técnico. Fiquei sabendo da notícia pelo rádio, perto do meio-dia, quando cheguei da aula. Naquele tempo a gente ainda não tinha meios de saber das notícias em tempo real, como hoje. E não se levava rádio pra ouvir na sala de aula. Escola era pra estudar e ainda era comum respeitar os professores. Foi quase sem querer (com o perdão do trocadiho) que fiquei sabendo. Liguei o rádio num desses programas de flashback (sim, já existia isso naquela época) e notei que estavam tocando diversas músicas da Legião em sequência. Pensei: legal, um programa especial! Logo, no intervalo de um dos blocos, o locutor falou a famigerada frase: “- Pra você que está chegando agora, faleceu nesta manhã o vocalista e líder da Legião Urbana, Renato Russo (...)”. Fiquei alguns bons segundos atônito, congelado na frente do aparelho três-em-um. Depois, joguei minha carteira na parede e proferi um sonoro "Puta que pariu!". 

Estava bravo, muito mais do que triste. Como o cara deixava os fãs assim? Como ficaríamos sem ter uma referência musical? Não era pelo Renato. Era pela obra dele que eu esbravejava. Coisa de guri de 17 anos. Saí e fui à casa de um amigo, igualmente fã. Ele soubera quase no mesmo momento que eu. Quando cheguei, ele estava indo me contar. Não havia o que fazer a não ser sentar na sala e ouvir Legião o resto do dia e tocar violão, como música para acampamentos. Lembro que naquela noite não fui trabalhar. Não conseguiria. Fiquei em casa gravando tudo o que passava na TV sobre o assunto. E gravei tudo o que apareceu nos dias subsequentes também: Fantástico, Programa Livre, Jornal Nacional, tudo o que podia. Enchi uma Fita VHS (no modo EP, claro) com todo o material que conseguira. Hoje é muito mais fácil, pois tem Youtube. Tanto, que encontro todo aquele conteúdo on-line e, por isso, já até me desfiz da tal fita. Bendita tecnologia! Era muito mais roots ser fã naquela época! Hoje é tudo facilitado por um milhão de opções, efeitos benéficos da “era do compartilhamento”.

É importante deixar claro que Renato Russo nunca foi exatamente aquilo que eu considero como um exemplo de bom comportamento. Mas qual roqueiro é? Teria o Rock alguma graça se fossem os roqueiros todos bonzinhos, cantando só músicas melosas e usando roupinhas coloridas? Algum tipo de público poderia gostar disso? Ops... 

Você não precisa repetir o comportamento destrutivo de seus ídolos para achar que as obras deles são geniais. Há de se saber separar as coisas. Às vezes, eles mesmos o fazem. Renato fazia. Disfarçou magistralmente suas mazelas nas músicas sendo muito sutil. Quantos verdadeiramente param pra refletir que “Pais e Filhos” fala sobre suicídio e que “A Montanha Mágica” é sobre o vício dele em heroína? Ah, vai me dizer que você achou que “ela se jogou da janela do quinto andar” e “minha papoula da Índia, minha flor da Tailândia” não passavam de licença poética? Que “Soldados” era realmente sobre luta armada? Come on!

Tamanha sagacidade só era possível porque Renato era uma pessoa muito culta, que lia muito, era poliglota. Tenho certeza de que se ele ainda estivesse aqui, diria: - Crianças, aprendam: a leitura vai muito além de meros 140 caracteres! Mas, além disso, Renato tinha um diferencial: parceiros de banda tão bons quanto ele. Justiça seja feita, Dado e Bonfá são compositores, junto com Renato, de grande parte da obra daa Legião, embora pouco se comente. Logicamente, Renato se encarregava mais das letras, e Bonfá e Dado as músicas, mas há participação de todos em tudo, em boa parte das músicas. É aquele caso clássico onde tudo se combinou perfeitamente e o resultado saiu o melhor possível. Todos eles são a alma da banda! Não dá pra pensar em Legião Urbana sem lembrar dos três, não adianta tentarem. Mesmo que Renato aparecesse e falasse mais (como todo vocalista), poucas bandas conseguiram ser uma pessoa só tão bem quanto esses três caras foram.



 As letras da Legião conquistavam por isso. Pela poesia encoberta que, muitas vezes, só os fãs entendiam. Talvez se a banda surgisse hoje, não teria feito tanto sucesso. Afinal, parece que cada vez mais a tarefa é simplificar, entregar um produto pronto, que não exija muito esforço em ser decifrado. Tem coisa boa? Tem. Mas não faz mais tanto sucesso como antes. Parece que só aquilo que não acrescenta coisa alguma intelectualmente é que é capaz de cair nas graças do povo. 

Sintomático...

Sei que o bom é relativo. Mas não vejo evidências, sequer empíricas, de que o rock brasileiro esteja melhor em geral, seja nas composições, seja nos músicos. Duvido que surja algo tão relevante quando a Legião Urbana tão cedo. Não é sempre que rock consegue produzir cultura ou influenciar comportamentos e levar isso às massas ao mesmo tempo. Acontece uma vez a cada cem anos ou mais. Não é saudosismo, nem nostalgia. É constatação, simplesmente.

Os clássicos são eternos, já dizia o adágio popular. E nisso, a Legião tem mais em comum com Vivaldi do que apenas “As Quatro Estações”. Como o compositor italiano, a obra da banda de Brasilia ainda vai atravessar muitas gerações, porque é boa, porque é sempre atual, sempre bonita. Urbana Legio realmente Omnia Vincit, inclusive o tempo.

  

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Dia em que Porto Alegre Virou Liverpool


07 de Novembro de 2010. Dia histórico e inesquecível!

Um Beatle em Porto Alegre! Um Beatle! Que dia poderia ser mais incrível que este em termos de shows internacionais? Pra quem é fã da maior banda de todos os tempos, poder ver Sir Paul McCartney de perto é o suprassumo das realizações. E eu consegui ver bem de perto!

Sou Beatlemaníaco confesso, mas não imaginava poder ver um show desses tão perto e tão de perto. Até que um dia, divulgaram que Paul faria uma turnê pela América do Sul. Como eu já esperava shows apenas em Buenos Aires e São Paulo, comecei a pensar na possibilidade de comprar o ingresso e viajar para assistir o show em uma das duas cidades. Afinal, se não fosse naquele momento, talvez nunca mais tivesse essa chance In my Life.

Eis que anunciam um show extra, que seria o primeiro deles, em Porto Alegre, mais precisamente no Beira-Rio, Templo Colorado. Não podia ser melhor! Na volta de Paul ao Brasil, depois de 1993, seu primeiro show da série seria logo aqui e no estádio do meu Inter. Que honra! Já imaginava a “guerra” para comprar ingresso, seja on-line ou pessoalmente. Sabia que acabariam em questão de horas, o que, de fato, aconteceu.

A parte boa era que os ingressos seriam vendidos primeiramente para os sócios do Inter, pela internet. As vendas começariam às 8h00 da manhã do dia 7 de outubro. A parte ruim é que nessa data eu estava em Los Angeles (timezone de 4 horas a menos em relação a Porto Alegre). Já estaria de volta no dia do show, mas teria de me virar pra comprar o ingresso estando nos EUA. Mas isso não me fez desanimar. Acordei à 3h30m da manhã, como um Blackbird que canta na calada da noite, e fiquei dando "F5" no site dos ingressos para ter certeza de que, ao abrir, seria um dos primeiros a comprar. E fui. O site abriu as vendas às 3h56h da manhã (7h56m no Brasil), um pouco mantes do previsto, e eu, por já estar ali há tempos, fui premiado e consegui acessar e comprar meu ingresso sem maiores problemas. E, como não iria ter de gastar com viagem para ver o show, comprei o mais próximo do palco (e mais caro, consequentemente). Tinha de ser esse. Não estava disposto a ver um show histórico de longe.

Comprei o ingresso e voltei a dormir, pois tinha de trabalhar de manhã. Ao acordar, verifiquei que a minha compra estava confirmada. Tranquilidade. Ao navegar pelas redes sociais, vi que muitas pessoas estavam tendo problemas em comprar, seja pelo site ficar fora do ar, seja pela demora na confirmação. Daí eu vi que fiz bem em acordar de madrugada.

No dia do show, também organizei uma logística pra facilitar minha vida. Cheguei no Beira-Rio à 8h00 da manhã (o show era à 9h00 da noite). Já tinha uns 10 carros aguardando para abrir o estacionamento da Av. Padre Cacique, que fica ao lado do Ginásio Gigantinho. Entrei e cruzei todo o pátio, até chegar bem em frente às cancelas do outro lado, de frente para a Av. Beira-Rio. Só tinha eu ali naquele setor, mas eu sabia que seria fundamental ter o carro ali para a hora de sair do show, pois o estacionamento iria lotar.

Fiquei na fila o dia todo, no sol escaldante do verão que estava por iniciar. O pessoal improvisou papelões como teto, apoiando-os nos cercados da fila. Ficou parecendo uma vila de fãs. Fãs apaixonados, diga-se. Todos se ajudavam, guardando lugar para o outro ir ao banheiro ou comer alguma coisa. Era como se todos vivessem no Yellow Submarine. Vieram até entrevistar a gente!
 

Vila de papelões na fila de espera

 

Foto tirada pelos repórteres do site Terra (eu em primeiro plano)
 
Os portões abriram-se às 18h30m e eu consegui ficar bem perto do palco, como se pode ver. Valeu cada esforço! O show durou 3 horas e não é possível explicar o que se viu ali. Som perfeito, imagem perfeita, um Paul interativo, com direito a um "mas bah, tchê" e um "ah, eu sou gaúcho". Todas as músicas que eu queria ouvir estavam ali. Não faltou nada. O melhor show de todos os que eu tinha visto até então.








  
Consegui até gravar um vídeo, obviamente tremido, devido à empolgação, mas dá pra ter uma boa idéia do que foi o show:




Na volta, bingo! Meu carro era um dos primeiros, logo à frente dos portões de saída. Nem fila eu peguei. Entrei nele e saí direto para a cancela. Quando estava chegando em casa, ouvia no rádio os repórteres falando que o público recém começava a deixar o estacionamento. Rá, Band on the Run, baby!

Foi o tipo de coisa onde tudo deu certo. Desde a compra do ingresso até a saída do show. Não é sempre que acontece. Mas planejar com antecedência ajudou bastante. Deve ser porque eu tinha de estar lá. E quando tem de ser, o universo conspira, dizem. Acho que foi o que aconteceu naquela noite. No dia seguinte, eu só pensava que Yesterday havia sido A Day in the Life.