O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ao Mestre Com Carinho


Muito tem se falado em educação ultimamente, tanto na televisão quanto na internet. Parece que as pessoas estão acordando para um tema que realmente é importante para a sociedade e cuja precariedade começa a apresentar resultados, refletidos na quantidade de analfabetos funcionais, violência no trânsito, falta de conteúdo e simplificação dos programas de televisão e mídia impressa, etc. Aqui mesmo no RS a rede de comunicação local resolveu promover a campanha "a educação precisa de respostas", basicamente, procurando entender por que o Brasil é o sexto país em termos de economia no mundo e apenas o octogésimo oitavo no ranking de educação. Embora de propósito nobre, não sei qual vai ser o resultado prático de tal campanha midiática. Ao menos, serve como reflexão. Se bem que, se a população não está educada satisfatoriamente, será difícil que a massa entenda a mensagem e reflita sobre do tema. Mas acho que estão tentando fazer a parte deles. Se a educação fosse uma preocupação permanente dos meios de comunicação, provavelmente a influência que eles têm poderia colaborar no sentido de fazer as pessoas pensarem mais em vez de assistirem novelas. Por outro lado, se a TV está fazendo isso é porque talvez os governos, teoricamente os principais responsáveis, não estão cumprindo com seu papel principal de investir na educação do seu povo.

O tema é bastante complexo, sem dúvida. Mas sabe-se que é pela educação que as nações saem do fundo do poço e tornam-se prósperas de verdade. Esse deve ser o começo de tudo. Não deve ser a única forma de reerguer a economia, logicamente, mas há de ser uma das principais. Já mencionei aqui que, em minha opinião, o problema está na qualidade de ensino muito mais do que na estrutura das escolas públicas (que hoje recebem mais verbas do que no meu tempo). E falo com a propriedade de quem tem uma esposa professora dentro de casa. Além das baixas remunerações, percebe-se que muitos professores estão desmotivados, sem vontade de dar aula, sem alegria em ensinar. Alegria e entusiasmo são quase 70% de um indivíduo que leciona. Sem isso, ele não busca a excelência, não se atualiza. E a qualidade do ensino em geral cai. Se até este básico lhe falta, para onde vamos? Como se não fosse o bastante, este profissional precisa lidar com a nova geração de pais, que terceirizam a sua parte na educação dos filhos aos mestres e ainda responsabilizam estes pelas baixas notas obtidas por suas crias. Não é à toa que o número de jovens que gostaria de seguir carreira de professor é cada vez menor. 

Ser professor, mais que um trabalho, deve ser encarado como uma missão. E das mais nobres. Acho que se você não encarar um pouco por essa perspectiva, nem vale a pena tentar entrar nessa carreira. Lembro-me de um episódio dos meus tempos de estudante que relata bem isso. O ano era 1997 e eu estava no quarto e último ano do segundo grau técnico do curso de Processamento de Dados. Era um ano bastante movimentado para mim. Tinha acabado de conseguir meu primeiro emprego com carteira assinada (já havia começado a trabalhar dois anos antes, mas como estagiário) e tive de passar a estudar à noite, haja visto que também o quarto ano só era ministrado neste período. Além das aulas e do trabalho, era o ano da formatura. Eram duas turmas de quarto ano e eu era o líder das duas. Era uma responsabilidade grande, mas eu tinha orgulho daquilo. Não apenas por representar duas turmas ao mesmo tempo (a divisão era apenas física, visto que todos se conheciam dos anos anteriores), mas porque ali estavam apenas os melhores. 

Deixem-me fazer um parêntese para explicar: Naquela época, o Mascarenhas de Moraes, em Cachoeirinha-RS, era uma das escolas técnicas mais conceituadas do estado, mais que muitas escolas particulares. Além do primeiro grau, tinha quatro opções de cursos no segundo grau, sendo três deles profissionalizantes. A partir do segundo ano (o primeiro era básico para todo mundo), podia-se optar por um determinado caminho. Além do curso básico, chamado de "Geral" pelos alunos, e que tinha como foco maior a preparação para vestibulares, a escola oferecia os cursos de Secretariado (predominantemente de público feminino), Contabilidade e também o de Processamento de Dados. Este último, além de possuir um ano a mais que os outros, tinha aulas aos sábados e era preciso fazer um teste de aptidão e raciocínio para poder entrar, não bastava querer. E foi neste que eu me enfiei. Por isso trabalho com TI até hoje... O caso é que o curso era considerado extremamente difícil pelos alunos da escola. Era comum ver o pessoal comentando pelos corredores: - Tu vais fazer PD? Dizem  que é para louco, que os alunos se matam estudando, etc., etc. Bem, depois de tanto tempo, posso dizer que era difícil, sim, mas não tanto para quem já pretendia trabalhar com TI, como eu. Mas é fato que, dos cerca de 150 alunos que iniciaram o segundo ano (divididos em 3 turmas), apenas uns 20 conseguiram terminar o quarto ano. Um verdadeiro funil.

No meio de toda essa correria, eu ainda tinha de me preocupar com os estudos, obviamente. O curso exigia dois estágios: um externo (que eu estava cumprindo no meu primeiro emprego) e outro interno, que consistia em desenvolver um sistema e entregá-lo ao final do ano. Eu e mais duas colegas (minha prima era uma delas), desenvolvemos um sistema de gerenciamento de uma farmácia, em Clipper (!). Nunca foi utilizado na prática, mas funcionava a contento e serviu para nosso aprendizado e aprovação. 

Dentre as matérias regulares da grade curricular do quarto ano, estavam as de "Análise de Sistemas" e "Banco de Dados", ambas ministradas pelo mesmo professor. Ele, aliás, trabalhava como DBA num grande banco estatal e dava aulas à noite, como fazia a maioria dos professores do curso. Ou seja, o magistério não era sua principal atividade. Mesmo assim, suas aulas eram das melhores e ele era extremamente capacitado. Talvez isso fosse exatamente um dos diferenciais do curso. Como a maioria dos professores tinha sua própria empresa ou trabalhava em bons cargos na área de TI, isso potencializava a experiência e o aprendizado dos alunos. Esses caras faziam isso pela missão de ser professor, uma vez que sua remuneração nos locais onde trabalhavam durante o dia era claramente maior. É um tipo de compromisso que pouco se vê hoje em dia.

As provas das duas matérias supracitadas costumavam ser bem difíceis, como não podiam deixar de ser, dada a relevância dos conteúdos. O professor era extremamente exigente também. Posso dizer que aprendi muito com as aulas dele, mas a sua principal lição não foi técnica, mas de caráter, daquelas que você nunca mais esquece. 

Naquele ano, além das mudanças na LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que versaram sobre o valor médio da nota para aprovação, formatos de recuperação, etc., a escola também precisaria mexer na grade curricular para o ano seguinte. Com isso, as duas disciplinas mencionadas se converteriam em uma só, mas com igual carga horária. Na prática, mudava pouca coisa. Só que havia um componente crucial: como as duas matérias deixariam de existir, o aluno que fosse reprovado em apenas uma delas, por exemplo, não teria como cursá-la de novo no próximo ano, nem por dependência. E também não poderia cursar a disciplina unificada, pois estaria repetindo uma das matérias na qual havia sido aprovado no ano anterior. Certamente isso traria muitos problemas. O professor, que sabia disso previamente, manteve o ritmo das aulas como se nada estivesse acontecendo, sem revelar nada aos alunos. Estávamos tendo as mesmas aulas difíceis que todas as turmas anteriores haviam tido, sem nem imaginar que tais mudanças estavam a caminho. Eis que, em uma das últimas aulas do ano, ele chega para a turma e diz: - Pessoal, por conta dessas mudanças na lei e na grade curricular, não irei reprovar ninguém nessas duas matérias. Estão todos aprovados.

Naquele momento eu fiquei meio tonto. Não entendi porque ele não havia contado nada para a turma logo que soube. Depois, entendi tudo. Se ele tivesse contado no começo do ano que ninguém iria ser reprovado, certamente o grau de comprometimento da turma iria ser muito menor. O interesse nos conteúdos, idem. Haveria faltas em massa, ninguém faria as provas, mas, principalmente, ninguém aprenderia coisa alguma. Ele poderia simplesmente ter cancelado as aulas quando soube das mudanças, mas preferiu continuar vindo de outra cidade quase todas as noites para dar uma aula que não iria reprovar ninguém. Preferiu continuar as aulas como sempre foram, com o mesmo grau de exigência, e com a mesma dedicação. Naquele momento eu percebi  o quanto um professor, ainda que não fosse de carreira, poderia demonstrar o quanto estava comprometido com o aprendizado dos seus alunos. 

Sei que é complicado exigir o mesmo comprometimento de alguém que é mal remunerado e que só tem o magistério como fonte de renda (professores de carreira em geral). Porém, igualmente importante é ressaltar que o comprometimento com a educação também se dá por outros motivos, como este que relatei. Este episódio me inspirou, de certa forma, a acreditar nas pessoas com quem trabalho e a procurar não desistir delas, mesmo quando as coisas não vão bem. Assim como o meu professor, muitas vezes os líderes de equipe lidam com informações que não podem compartilhar num primeiro momento, mas que serão importantes mais adiante. O que faz a diferença é você jogar a favor do grupo. E é isso que eu tento fazer no meu dia-a-dia no trabalho, muito por causa daquela atitude me mostrou que sempre vale a pena tentar.

Obrigado, professor!


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Caminhos Diferentes


Nunca fui um expert em economia e nem em política, embora não deixe de acompanhar ambos os assuntos com certa frequência. Uma questão a qual sempre tive curiosidade de saber a resposta diz respeito a por que pessoas que, teoricamente, vieram da mesma realidade, acabam tomando caminhos tão diferentes na vida. O capitalismo diz que cada pessoa deve se preparar para o mundo que a espera. Ela é responsável pelo seu próprio sucesso ou fracasso. O socialismo coloca a culpa na concentração de renda. Francamente, nunca acreditei que fosse só isso ou aquilo. Acho que tem muito mais coisa envolvida, seja o ambiente em que a pessoa cresceu, sejam as condições e estruturas familiares, a sua vontade e dedicação, as oportunidades, a sorte, etc. Enfim, a resposta não tem apenas uma origem. No decorrer de uma vida ou carreira, muita coisa acontece e te direciona ou te faz escolher este ou aquele caminho.

Minha família tem origens simples. Até chegar à faculdade, eu só havia estudado em escolas públicas, em bairros que eram, na sua maioria, igualmente simples. Isso significa escolas com recursos limitados. Aqui abro parênteses: muita gente reclama das escolas públicas de hoje, mas, da visão de quem é casado com uma professora, posso afirmar que, ao menos em termos de recursos e estrutura, as escolas públicas em que eu estudei estão melhores hoje do que na minha época. Não sei, obviamente, se é uma realidade geral. Mas é fato. Há mais verbas e projetos vindos do governo e melhores condições para aprendizado. Hoje você tem aula de música, passeios regulares, laboratórios com computadores, salas de audiovisual decentes, escolas abertas aos sábados com atividades extracurriculares, etc. Isso não acontecia no meu tempo. Talvez a culpa pela dita “crise na educação” seja oriunda de outros fatores, como a qualidade de ensino, preparo dos professores, políticas de administração das escolas, etc. Lembrem-se de que a LDB mudou em 1997 e nivelou por baixo as notas de corte para aprovação. Parece que hoje se faz de tudo para um aluno não repetir o ano, mesmo que não tenha condições de seguir uma série adiante. Acho que foi aí que as coisas começaram a piorar em termos de ensino. Culpar o governo pode ser sempre o mais cômodo (já que, na maioria das vezes, a culpa é dele mesmo), mas há de se ter uma visão mais holística do problema. Não fossem esses fatores, não teria problema nenhum em colocar meu filho em uma escola pública quando ele tiver idade. De qualquer modo, em recursos e estrutura, houve uma clara evolução, ao menos nas escolas em que eu estudei e que acredito que sejam bem administradas. Ainda está longe do ideal e daquilo que se encontra na maioria das escolas particulares, mas pode ser um começo. Falta melhorar o ensino, prioritariamente. Enfim, fechemos os parênteses.

Como eu dizia, passei por três escolas públicas entre o primeiro e segundo graus (hoje ensinos fundamental e médio), sendo uma municipal e duas estaduais. O exemplo que eu queria ilustrar vem da segunda escola, que é estadual, onde eu estudei da quinta à oitava série.

Num fim de semana desses, estávamos em casa pensando no que fazer para o almoço. Ninguém estava a fim de ficar horas na frente do fogão ou da churrasqueira, até porque tínhamos um compromisso no meio da tarde. Pela praticidade, decidi ir até um desses estabelecimentos que vendem churrasco pronto. Comprei o que tinha de comprar e, ao sair, o rapaz que cuidava da máquina de frango assado me chamou: - E aí, lembra de mim? Estudei contigo na sexta série! De fato, lembrava dele, embora não do seu nome. Fiquei com vergonha de perguntar, mas nem sei se ele lembrava do meu. Não tinha muito contato com ele naquela época. Éramos de “tribos” diferentes. Ele era da “turma do fundão” e eu era um "CDF" que sentava na primeira fila. Numa rápida conversa de uns dois minutos ele perguntou se eu estava estudando, como estava a vida, essas coisas. O cara foi super gente boa, diga-se. – Esse aqui vivia estudando, disse ele aos seus amigos, referindo-se a mim. Modéstia à parte, sempre me dediquei aos estudos e os levei a sério, mesmo que me chamassem de “CDF”, “quatro olhos”, e coisas do tipo (ainda não se usava a expressão “Nerd”).  Bem, me despedi (até porque não queria atrapalhar o trabalho dele), e fui embora. Cheguei a ver ele outras vezes ali, mas depois não vi mais. Talvez tenha trocado de emprego, sei lá.

O curioso é que, depois de um tempo, fiquei me perguntado sobre como aquele cara teria parado ali, assando frangos. Nada contra o trabalho dele, pelo contrário, eu valorizo e respeito todo mundo que trabalha, independente da função. Mas é claro que ele tomou um caminho diferente do meu. Não sou nada pretensioso, sou uma pessoa bem simples. Sempre mantive minhas raízes e creio que é isso que me deixa com os “pés no chão” em relação ao mundo. Não dá pra reclamar do que se tem, especialmente quando você já teve bem menos. Não que eu possua grandes bens materiais, mas acho que vivo bem com o que conquistei. Tive a chance de me formar, fazer pós-graduação, falar outros idiomas, ter vivências em projetos internacionais, ter minha casa, meu carro, estruturar uma família, ter filho, plantar árvores. Enfim, ainda falta escrever um livro e comprar meu Opalão. Um dia chego lá... Como eu disse, não dá pra reclamar.

Mas eu fiquei pensando que aquele cara provavelmente não teve isso. Mas como, se, em determinado lugar no tempo, nós estávamos no mesmo lugar e, teoricamente, com as mesmas oportunidades pela frente? O que nós dois fizemos de tão diferente um do outro? Confesso que não sei a resposta correta, mesmo porque não conversei tanto assim com ele para saber. Também não conhecia a realidade dele naquele tempo em termos de estrutura familiar, condições financeiras, etc, mas imagino que fossem próximas das minhas. Não tenho a menor condição para dar uma de antropólogo, mas talvez algumas evidências possam trazer pistas. Cursei a sexta série em 1991, aos 12 anos. Nessa época, ele já era repetente por duas vezes e tinha 14 anos. Era da “turma do fundão”, como eu mencionei. Ou seja, estudar não parecia ser o foco principal daquela  galera. Creio que ele não deve ter feito faculdade. Do contrário, estaria provavelmente trabalhando com outra atividade. Ele não era dos caras mais populares da turma, mas andava com eles. Tinha a malandragem que eu não tinha. Eu só tinha as minhas notas boas. Nunca sequer fiquei em recuperação na minha vida (nem na faculdade).  Para ele e para boa parte dos “populares”, era normal ter de recuperar conteúdos. 

Eu não sabia se estava certo, mas se eu tirasse uma nota baixa ou ficasse em recuperação, isso seria uma derrota incrível pra mim, me envergonharia profundamente e a meus pais. Eu, pelo menos, enxergava as coisas assim. Por diversas ocasiões, eu via pessoas que sempre ficavam em recuperação e achavam aquilo normal, agiam com naturalidade. Eu não. Deixava de ser o mais descolado ou o mais “pegador” da turma porque queria realmente estudar. E segui sendo assim nos anos seguintes e na faculdade. Não acho que tenha deixado de aproveitar a escola por conta disso. Fiz muitos amigos, tive muitas histórias pra contar. Mas na hora de estudar, eu levava a sério. Talvez essa tenha sido a diferença entre a gente. Se eu fosse relapso, certamente não teria conseguido cursar a faculdade e trabalhar com tecnologia. Creio que quando você não se dedica aos estudos, acaba não dando a devida importância a isso e vai naturalmente relaxando, deixando em segundo plano. Quando percebe, perdeu anos da sua vida sem conseguir sair do lugar. Recuperar esse tempo nem sempre é fácil e você acaba tendo poucas opções profissionais para o seu futuro.

Não é minha intenção julgar os outros (e quem sou eu para fazer isso?). Muitas pessoas preferem viver com mais simplicidade ou porque se cansaram de suas vidas corridas demais. Lembram-se do filme “Beleza Americana”, onde o personagem do Kevin Spacey largou anos de carreira numa empresa para virar atendente de lanchonete, porque queria algo com o mínimo de responsabilidade possível? E ainda comprou um Firebird... É um extremo, mas serve como ilustração. Como eu disse no início deste post, não há apenas uma resposta para essa diferença de caminhos trilhados. Mas acho que, no caso do meu ex-colega, que estava no mesmo tempo e local que eu em determinado momento da v ida, talvez as escolhas dele em relação à dedicação aos estudos tenham sido determinantes para termos seguido caminhos tão distintos. Não sei se foi isso exatamente que aconteceu. Eu apenas imagino, dadas as poucas evidências que tenho. Mas pela conversa em frente à "televisão de cachorro", acho que esse pode ter sido, ao menos, um dos fatores.

E isso é algo comum. Assim como vemos pessoas que não conseguiram construir uma carreira como a que construímos, também temos exemplos de pessoas que foram mais longe do que nós. Sempre vai haver alguém que teve mais sucesso que você. Particularmente, sempre prefiro reencontrar pessoas que estão tão bem ou melhores do que eu. Gosto de ver o sucesso dos outros. Mas nem sempre é o que acontece. Justamente por isso é que não podemos ter ilusões. É importante que se valorize aquilo que se conquistou. E, para conquistar, é preciso esforço, trabalho e dedicação. E uma das bases de tudo é a seriedade com que você encara as coisas, começando pelos estudos. O conhecimento adquirido valerá a pena mais tarde e tende a lhe abrir mais portas e lhe dar mais opções, como trabalhar em algo que você gosta e não apenas por necessidade. Se você restringir seu conhecimento, limitar-se ao lugar comum, essas opções diminuem e os efeitos serão sentidos logo ali adiante.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Até Quando o Idioma Será uma Barreira?

Semana passada, depois de vários meses pensando e planejando, finalmente iniciei meu curso de mandarim. Isso mesmo. Vou aprender a falar chinês. Tecnicamente falando, será meu quarto idioma, além do português (nativo), inglês (usado no trabalho, diariamente) e espanhol (aprendido por hobby e gosto pessoal, embora não seja fluente, pois não pratico todos os dias). Gosto também de italiano, mas não posso considerá-lo nesta lista, já que e meu conhecimento é apenas superficial e não tenho prática alguma. Quem sabe um dia...

Mas por que escolhi logo o mandarim? Bem, antes de tudo, é preciso entender porque eu quis aprender mais um idioma. 

Eu tenho uma necessidade mental de estar sempre absorvendo conteúdo. Não consigo evitar. Preciso estar aprendendo algo todo dia, senão fico com a sensação de que o dia foi em vão. Por mais que eu goste de futebol, não foram poucas as vezes que deixei de ver um jogo, até mesmo do Inter, para assistir um documentário interessante. Depois da graduação e pós-graduação, é normal você dar um tempo para descansar. Eu não consigo. Se não estou formalmente envolvido com algo, fico lendo, assistindo documentários, fazendo alguma certificação, etc. Mas tem vezes que você sente saudades do ambiente acadêmico ou da interação com colegas em uma turma. E tem a questão da disciplina. É mais fácil assumir um compromisso quando você está pagando por ele. 

Embora ainda receba convites de antigos professores com quem mantenho contato, não me sentia com vontade de encarar um mestrado, dados os horários incompatíveis com minha agenda atual e o nível de dedicação que eu teria de ter e que não é possível hoje, até porque, dar atenção à família é importante também. Sendo assim, achei que aprender um novo idioma se encaixaria nas minhas necessidades de aprendizado versus tempo disponível.

Eu queria tentar algo diferente, que fugisse um pouco das línguas latinas e anglo-saxãs, que são parecidas entre si. Dedicar-me formalmente a aprender Italiano ou Alemão, embora eu tenha curiosidade sobre elas, não me traria aquele ar de novidade total ou talvez não representasse a quebra de paradigma que eu procurava. Resolvi então que aprenderia uma língua oriental. Como japonês, árabe e coreano não possuem um apelo comercial tão significante, a escolha pelo mandarim foi quase que natural. E já nas primeiras aulas eu pude ver que realmente é bem complicado e desafiador. Terei cinco anos bem interessantes pela frente. Comparo o aprendizado de uma nova língua a uma criança aprendendo a falar. Leva uns cinco anos até que ela se expresse corretamente, com fluência, no próprio idioma. E quando ela aprende a escrever, começa com palavras e frases mais simples, até outras mais complexas. Quando se começa a aprender um bnovo idioma, mesmo sendo mais velho, acontece algo bem parecido. Mas devo dizer que gostei bastante e, embora saiba que não vai ser fácil, sei que vou conseguir aprender, porque tenho uma certa facilidade para essas coisas. 

A China é cada vez mais uma potência econômica, devendo ser a maior do planeta em alguns anos. Falar mandarim com certeza vai ser bem útil. Mesmo assim, são poucos os brasileiros que falam. Há mais chineses falando português hoje do que brasileiro falando mandarim. Isso pode ser um ponto a meu favor, lá na frente. Ao menos, eu penso assim. Mas não estou aprendendo só para fins profissionais. Imagino que falando inglês, espanhol e, daqui a uns anos, mandarim, eu possa viver e trabalhar em praticamente qualquer lugar do mundo. Aprender um novo idioma, mais que isso, te dá acesso a toda uma cultura diferente, expande a sua mente. E, como disse Einstein, depois que sua mente se abre para uma nova ideia, ela nunca mais volta ao tamanho original. É isso que encanta. Estar em um país completamente diferente, com outra cultura, outros costumes, outro jeito de viver e conseguir se comunicar com as pessoas é algo mágico. 

Embora tenha usado meu humilde exemplo como base para ilustração, o assunto principal deste post não sou eu. A questão aqui é o aprendizado de uma língua estrangeira, que, por incrível que pareça, ainda é um tabu no Brasil. E digo que ainda é um tabu por dois motivos:

1 - O Brasil não tem um segundo idioma, nem oficial, nem extraoficial. É o português e pronto. Uma segunda língua não é disseminada decentemente, nem na escola. O inglês transmitido nos ensinos fundamental e médio raramente vai além do  "verb to be", por exemplo. Na Europa é comum países com dois idiomas oficiais. E naqueles onde há só uma língua nativa, não é tão difícil encontrar alguém que fale inglês. Lógico que há exceções e resistências, mas o default é você conseguir falar inglês na maioria dos países do velho continente. 

2 - Talvez o Brasil esteja vivendo o seu melhor momento no cenário mundial em toda a história. Hoje todo o mundo sabe que o Brasil existe e que a Capital Federal não é Buenos Aires. Era de se esperar que as pessoas estivessem mais preparadas e mais gente estivesse falando outro idioma, visto que o trabalho, assim como os negócios, está cada vez menos separado pela geografia. Mas os que falam outra língua ainda são poucos, se considerarmos uma população de 200 milhões de habitantes. Talvez China e EUA possam se dar ao luxo (por enquanto), de terem apenas uma língua oficial (se bem que na China há diversos dialetos e nos EUA há muitos latinos falando Espanhol, mas vamos nos ater à questão mais comercial da coisa), pois são as maiores economias e seus idiomas são os mais falados. Logo, ditam as regras. Mas não é o nosso caso. Tomara que um dia seja. Já pensou todo mundo aprendendo português?

Essa questão do idioma fica mais clara quando vejo as dificuldades encontradas pelo RH aqui na empresa. Muitas vagas levam meses para serem preenchidas ou acabam sendo canceladas porque os candidatos não tem um nível de inglês adequado, mesmo que sejam bons tecnicamente. Como a maioria dos grandes projetos e clientes da empresa estão nos EUA, esse é um skill importantíssimo, ainda mais pela interação diária, inerente ao trabalho. Até na sede de São Paulo, maior mercado do país para profissionais de TI, o RH encontra dificuldades semelhantes. Eu achava que isso já tinha mudado, mas, pelo visto, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Sinceramente, já passou da hora dos profissionais procurarem essa qualificação. 

Além de tudo isso, estamos às vésperas de uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Como vamos atender os turistas? É sabido que a maioria deles vai usar o inglês para se comunicar. Nossos taxistas, lojistas e demais prestadores de serviços estão preparados? Talvez só a rede hoteleira esteja, e olhe lá. Nas demais áreas, eu creio que estamos longe disso. Basta ir até a rodoviária ou ao aeroporto para ver o tamanho da deficiência e do despreparo em relação a essa questão. 

Claro que tem bem mais gente falando inglês no Brasil hoje do que há 10 ou 15 anos, mas ainda há menos do que seria preciso. Acho que avançamos em passos lentos neste ponto. Talvez a educação não tenha conseguido acompanhar o ritmo do crescimento econômico. Mas há também o fator interesse. Quem quer, sempre dá um jeito. Escolas de idiomas estão por aí aos milhares. Minha esperança é que a Copa e as Olimpíadas possam mudar um pouco as coisas, que deixem um legado além das obras físicas. Mas o bom mesmo era que as coisas mudassem antes, para já estarmos preparados, não só para os eventos esportivos citados, mas para os próximos anos de crescimento pelos quais o país tende a passar. O problema é que o Brasil tende a funcionar de maneira reativa, não proativa. As coisas até tem andado, mas às vezes só andam na base do “pegando no tranco”.

Minha dica é começar o quanto antes. Colocar seu filho numa escola de idiomas ainda na infância certamente o ajudará depois, seja lá qual for a carreira que ele queira seguir. Mas atenção: criança tem de brincar também, não se pode transformá-la em uma máquina de estudar, mas é importante ela saber o quão útil isso pode ser. Na adolescência também é útil, mas é mais complicado, dadas as rebeldias que a idade trás consigo. A vantagem é que, quanto mais novo, mais fácil é para se aprender uma nova língua. É assim nos países desenvolvidos: os idiomas adicionais são aprendidos na infância. É uma mudança de cultura, sem dúvida. Mas eu acho que seus filhos agradecerão mais tarde.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Crescer e o CRESCER


Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas. Ela baseia-se em um princípio simples: na sua empresa você provavelmente levará muito mais tempo para ser promovido e/ou ter um aumento do que se for aprovado em um processo de seleção e for trabalhar em outra empresa, na mesma função que ocupa hoje. Se a empresa for concorrente, mais chances de isso acontecer. Se você amigos lá, mais um ponto a seu favor. E, se, além de tudo, você for muito competente e qualificado, melhor ainda, certo? Nem sempre...

A dinâmica do mercado de TI tem mudado de forma muito rápida. Observando a Região Metropolitana de Porto Alegre, podemos ver que o mercado ainda está aquecido. Há uma defasagem de profissionais para as vagas em aberto na área. Mas o que tem chamado a minha atenção é a forma como essa oferta está se apresentando. Tenho conversado com dois amigos: um querendo mudar de emprego, buscando salário ou oportunidades melhores (leiam-se também desafios); outro que está desempregado e na luta por um espaço. Ambos são profissionais de TI capacitados e com uma considerável experiência em suas respectivas funções. Mas nenhum deles está conseguindo seu objetivo. De acordo com eles, as vagas para um profissional considerado “Sênior” (os dois se enquadram nesse perfil para a maior parte das empresas, considerando os requisitos que as vagas pedem) são raras. O oposto disso parece ocorrer para os profissionais "Júnior", onde há uma farta oferta.

Na ótica deles, é nisso que está o tal "aquecimento do setor de TI", que está baseado em subsídios e fomento a empresas novas e que gera um boom de novos empregos todos os dias. Porém, esses novos empregos estão surgindo em maior quantidade para os cargos que exigem menos experiência e capacitação. As empresas parecem estar preferindo investir mais em profissionais que elas possam formar do pagar "caro" por um profissional mais amadurecido. Eles estão em um grande dilema: por um lado, as vagas para os profissionais "Sênior" estão escassas. Por outro lado, os salários pagos para vagas "Júnior" são baixos demais para o curriculum deles (e, óbvio, eles não pretendem regredir profissionalmente). Além disso, no caso do que está desempregado, mesmo que se proponha a ganhar menos, as empresas o consideram qualificado demais para a vaga de "Júnior" e também acabam não o contratando, para evitar insatisfações ou frustrações futuras.

Não sou um especialista em análise de mercado (embora me interesse bastante pelo tema), portanto não sei dizer se as coisas estão se desenhando exatamente dessa forma no mercado da região, mas não creio que eles estejam totalmente errados. Trocar de emprego para conseguir um aumento parece ser bem mais fácil para quem é "Júnior" ou "Pleno" do que para quem é "Sênior" e já está num outro patamar em termos de remuneração. Ao menos, teoricamente. Mas o que dizer para pessoas que trabalham há anos em uma função, tem um ótimo background, são capacitados e atualizados, mas não conseguem emprego? Eu diria: - Não pense apenas em outro emprego. Tente mudar de função. Tente algo maior! Se você estiver desempregado, você pode tentar no mercado. Mas não se candidate apenas a vagas para a mesma função que você ocupava, mire algo acima disso. E claro, tenha competência para tanto.

Por exemplo: se você é um programador "Sênior", tem experiência, capacitação e liderança, tente uma vaga, digamos, de líder de desenvolvimento ou de gerente de projetos. É possível que você consiga. Provavelmente você não começará como "Sênior", mas o salário inicial pode ser maior ou ao menos perto daquilo que você ganha atualmente (ou ganhava recentemente), e você ainda teria para onde progredir, crescer, sair da zona de conforto. Você tem de considerar que estaria começando uma nova carreira, com novos desafios, e teria que buscar outros tipos de especializações. Mas não era disso que você precisava? Acho que vale a pena arriscar nesse sentido. Não que você não deva continuar procurando vagas para a sua função, mas talvez existam mais chances aí do que simplesmente tentar bater sempre na mesma tecla. Você pode até descobrir competências que nem sabia que tinha. Se isso for possível na empresa onde você trabalha hoje, melhor. Se não, vá a luta!

Eu vejo esse tipo de crescimento como sendo a melhor forma de você se manter no mercado de trabalho no mundo atual de forma mais longeva. Aquela visão de você entrar numa empresa e trabalhar vinte anos na mesma função não existe mais. Você precisa buscar mais do que novas oportunidades. Deve buscar novas carreiras, aprender o novo e empreender sempre. Mas isso requer certa dose de coragem e vontade de mudar. E se você conseguir, não levará muito tempo para perceber o quanto vale a pena.



* Adaptação do texto escrito em 25/06/2008

 

quinta-feira, 29 de março de 2012

A Liderança Tem Lá Seus "Vazios". Será Mesmo?


Suponha que você seja um daqueles profissionais de TI bem conceituados, que vive se atualizando, que tem uma experiência considerável naquilo que faz e que vem conseguindo levar sua carreira com seriedade e sempre tentando, de maneira honesta, subir degraus de forma gradual e consistente até que... Você vira líder de uma equipe!

Tudo parece acontecer naturalmente, afinal você trabalhou duro e estava preparado para esta oportunidade. Você então faz milhares de planos e tenta ressuscitar em sua mente todos aqueles conhecimentos acadêmicos sobre gestão de pessoas, liderança, gestão de equipes, etc.

Logicamente, depois de certo tempo, você começa a perceber que a atividade de líder possui atributos diferentes daqueles aos quais você estava acostumado na época em que trabalhava com atividades meramente técnicas. Toda aquela conversa que você sempre ouvia sobre a responsabilidade maior e a cobrança que aumenta na mesma proporção, começa a fazer sentido. Aliás, você passa a ver que muitos daqueles clichês de liderança que você muitas vezes desdenhou agora não são mais apenas "conversa pra boi dormir". Você passa a ter outras preocupações e outras entregas para fazer, em níveis distintos daqueles de antes.

Em alguns momentos, você não sabe por que, mas sente-se meio sozinho. E essa sensação aumenta à medida que você não é mais executor direto de algumas das tarefas do projeto, mas agora é quem as coordena e as delega. Se você começou a trabalhar num cargo de liderança ou já trabalha em um, certamente essa sensação já passou por pela sua frente alguma ou algumas vezes. Mas, por que será que esse tipo de coisa acontece?

Eu acho que isso é devido ao fato de que, muitas vezes, os bons profissionais são extremamente apegados ao seu trabalho. Gostam muito daquilo que fazem. Têm paixão por aquilo que fazem. É como se cada projeto novo colocado em prática fosse uma espécie de “filho”. Talvez isso explique um pouco o "vazio" que um líder de equipe sente em determinados casos. Como agora ele não está tão intimamente ligado à execução das tarefas técnicas e/ou inerentes ao processo produtivo em si, tendo outras pessoas nessa função, há uma sensação de distância ou até de desconfiança em relação ao que precisa ser feito. Ele sabe que tem de delegar, mas sempre fica com o “pé atrás”, pois não tem aquela certeza absoluta de que estão fazendo as coisas tão bem quanto ele fazia. Que líder de equipe nunca sentiu isso, mesmo que momentaneamente?

Esse tipo de posicionamento pode parecer um tanto egoísta, mas acontece. O que o líder precisa ter em mente é que, a partir do momento em que lhe é incumbida uma liderança de equipe, outras atividades e responsabilidades irão preencher com sobras todos os vazios que ele sente em relação ao que fazia antes. Não raro, ele acabará ainda mais atarefado do que antes. Você, como líder, passa a ser verdadeiramente o representante de um grupo, ao qual recaem muitas expectativas. E faz parte da sua função lidar com elas. Pressão também existe, mas é inerente ao processo. Esta é, sem dúvida, uma mudança de paradigma que pode requerer uma adaptação grande, dependendo do seu perfil, mas que também vai proporcionar um amadurecimento profissional incrível.

Se você está hoje em uma posição de liderança, é porque certamente trabalhou e merece estar lá, ou pelo menos consideram você a pessoa certa para estar lá. Portanto, lembre-se de que você terá outras coisas a mostrar, irá aprender coisas novas, sentirá as diferenças em relação à cobrança, terá de administrar conflitos e verá, finalmente, que aqueles ensinamentos sobre liderança da época da faculdade não eram apenas conversa acadêmica. Eles realmente formarão a base de conhecimento necessária para administrar esse novo rumo da sua carreira. E você não vai querer mais voltar atrás, pode ter certeza.



* Adaptação do texto escrito em 15/01/2009


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ao Sair, Deixe a Porta ABERTA


É bastante comum, em fases de transição nas empresas, vermos uma quantidade grande de pessoas sendo dispensadas ou indo embora por conta própria, em busca de oportunidades melhores. E eu observo que as pessoas saem ou "são saídas" com pensamentos bem diferentes, inclusive entre aquelas que vão pelo mesmo motivo. É incrível como as pessoas reagem e os sentimentos que elas demonstram nesses casos. Umas saem tristes, porque não queriam sair por algum motivo. Tem as que saem furiosas, porque acharam uma injustiça terem sido demitidas. Outras saem com medo, porque não esperavam pela demissão e agora não sabem como proceder ou se conseguirão outro emprego logo. Há também aqueles que simplesmente ignoram o fato e nem se preocupam, pois possuem outras rendas e essa não é uma prioridade. Enfim, descrever todos os estereótipos aqui é quase impossível, tamanha a sua variedade. 

Quando se fala em trabalho em TI, precisamos levar em conta o tamanho do mercado. Em se tratando do mercado gaúcho (mais especificamente da Região Metropolitana de Porto Alegre, onde concentram-se a maioria das empresas de TI de ponta), pode-se dizer que ele é, de certa forma, "pequeno". A variedade de empresas não é tão grande como no caso de São Paulo, por exemplo. E, nessa fase de aquecimento da economia, você pode passar por várias empresas durante os anos, muitas vezes reencontrando pessoas que trabalharam com você em outras oportunidades. Eu mesmo já passei por essa experiência algumas vezes e tenho certeza de que, mais cedo ou mais tarde (ou pelo menos enquanto eu estiver trabalhando no RS), isso vai acontecer de novo.

Não menos impossível é você retornar para uma empresa na qual já trabalhou e que gostava de trabalhar. Essa dinâmica maluca hoje em dia é mais comum do que se pensa. Bem diferente daquela filosofia oriental que algumas empresas adotavam até o início dos anos 90, onde você trabalhava 30 anos no mesmo lugar e jamais pensava em sair. A estabilidade era quase garantida. Meu pai, por exemplo, ficou mais de 20 anos na mesma empresa, até se aposentar. Isso é quase impossível de se ver atualmente, ainda mais em mercados que mudam constantemente. Li em uma dessas revistas empresariais  que a média de tempo que um funcionário passava em uma mesma empresa era de cerca de 15 anos na década de 80, passando para menos de 8 anos nos dias atuais. E se formos filtrar apenas a área de TI, essa média baixa drasticamente. Eu chuto que deva ser de uns 2 a 3 anos. Com toda essa mudança de contexto, me pergunto diariamente como lidar com esse mundo.

Se você conversar com consultores especializados, provavelmente irá ouvir as velhas máximas do "mantenha-se sempre atualizado", "estude sempre", etc. É óbvio que isso é importante. Eu diria que é fundamental. Outra questão a se considerar é bem conhecida e está relacionada ao seu networking, ou seja, a sua capacidade e quantidade de relacionamentos com outras pessoas que possam indicar seu trabalho para outras empresas. Parece estranho, mas esse pode ser um diferencial entre você e outro candidato. 


Mas, entre todos esses fatores, existe um que pouca gente menciona nas revistas ou palestras e que é sim muito importante para encarar tudo isso. Esse fator consiste no "como" você sai de uma empresa. É um tipo de coisa que só a experiência vai ajudando a gente a perceber. Você pode sair de uma empresa deixando portas abertas ou fechadas. Vamos observar as duas situações.

Comecemos então pelas portas fechadas. Se você já trabalhou em algum lugar onde não se sentia bem ou não estava satisfeito, é bem provável que, aos sair de lá, tenha sentido vontade de falar tudo o que queria sobre a empresa durante a famosa entrevista de desligamento, certo? Tem gente que lava a roupa suja mesmo, coloca à tona todas as suas frustrações. Você poderia estar insatisfeito bem antes de sair e isso pode até ter influenciado no seu desempenho. Se seus gerentes tiverem notado isso, pior: você poderá sair deixando uma má impressão. E se você "chutar o balde", como fez a Jane, nem se fala. É quase certo que as portas naquela empresa se fecharão pra você e, pelo menos enquanto seus conhecidos estiverem ali, você não terá um bom conceito entre eles, e um eventual retorno será muito difícil de acontecer. 


Da mesma forma, pessoas que trabalharam com você e foram para outras empresas poderão levar consigo esse conceito e poderão disseminá-lo. Isso parece meio cruel, mas, nos bastidores, é o que acaba acontecendo. É a disfunção do networking, ou networking negativo. Você terá de trabalhar muito para mudar essa imagem ou então, por exemplo, migrar para outro mercado onde você não seja conhecido e, obviamente, tratar de corrigir os problemas anteriores.

Mas para quem consegue manter a tranquilidade, mesmo nos momentos ruins e de insatisfação e age com maturidade nesses casos, é possível que o cenário seja diferente. Se você sempre fez um bom trabalho e se preocupou em ser sincero sem ser estúpido ou sem provocar nenhum problema para a empresa, há boas chances de você retornar àquela companhia no futuro. Mais do que isso, você cria o networking saudável e positivo, onde as pessoas recomendam você onde elas estiverem. Não é fácil pensar dessa forma. Eu mesmo levei algumas pancadas até perceber que não vale a pena gerar certos conflitos. Ao contrário, deixar uma boa impressão por onde você passa é muito bom para seu futuro profissional. Mas atenção: quando falo em deixar uma boa impressão, estou dizendo que isso deve vir através de um trabalho sério e bem feito, de méritos reais e de suor. Bajulação, fingimento e assemelhados estão dispensados desse conceito. Competência sim é a palavra-chave aqui.

Acredite, nós só percebemos o quanto isso é bom no momento em que saímos e quando a entrevista de desligamento é repleta de elogios e de sinceras intenções de que a empresa gostaria de um dia contar com você novamente. E se você repassa isso por onde você vai, as chances de você estar sempre no mercado, aprendendo e vivendo novas experiências é muito maior. Por isso, pense bem nas suas atitudes. Nunca deixe de brigar pelo que quer, mas saiba fazer isso com maturidade e méritos, pois seu comportamento pode influenciar no seu futuro mais cedo do que você imagina.



 *Adaptação de texto escrito em 25/08/2008


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quando os Bons Podem Prejudicar


Qualquer gerente que seja competente sempre vai preferir ter ao seu lado os melhores profissionais. Se você perguntar, é isso que você vai ouvir. Mas, por mais incrível que possa parecer, em alguns casos a escolha não depende apenas de competências técnicas. Este é o caso da Jane.

A Jane trabalhava numa empresa multinacional de TI, na área de qualidade de software. Era uma excepcional profissional e muito competente naquilo que fazia. Ela tinha uma produção muito acima da maioria de seus colegas de projeto. Não raro, ela abraçava as tarefas de outros e conseguia cumpri-las no prazo, mesmo tendo de fazer as suas em paralelo. Alguns de seus colegas reconheciam sua capacidade e viam nela um grande potencial de crescimento. Só que essa gana toda em produzir e tentar crescer não foram transformadas em promoção ou aumento de salário.

Ela era competente, porém gananciosa. Só que não exatamente de uma maneira saudável. Não bastava para ela seguir os degraus da estrutura de cargos da empresa. Ela queria ir direto para cima e depressa demais. Trabalhava muito, porém sempre fazia questão de dizer a todos o quão melhor era em relação a seus colegas e o quanto alguns eram incompetentes. Alguns realmente eram incompetentes, mas a abordagem com que ela tratava esse assunto acabou gerando diversos conflitos na empresa. 


Pelo fato de achar que era mais competente (de certa forma, era, mas não necessariamente "a" mais competente), raramente aceitava suas notas nas avaliações que o RH fazia. Não que ela não merecesse, mas sabemos que em algumas empresas o papel do RH, infelizmente, é sempre deixar um "algo mais" a ser buscado, pois, se o profissional tiver nota máxima, não terá o que buscar até a avaliação seguinte, de acordo com essa “teoria”. É meio perverso, mas acontece e é preciso saber lidar com isso. Mas Jane não aceitava e reagia sempre de maneira áspera, falando mal de outras pessoas, incansavelmente buscando justificativas, juntando "provas" de sua competência e da incompetência dos outros para mostrar ao RH e tentar fazê-los ver o quanto estavam errados.

Todo esse esforço de autopromoção acabou gerando um clima muito pesado no time, visto que depois de um tempo ela já não deixava sua insatisfação restrita ao RH. Nem os gerentes foram poupados. Ela realmente resolveu "chutar o balde no pau da barraca". Chegou ao ponto de dizer que era boa demais para aquela empresa. Obviamente, não tardou a ser demitida. Mas não deixaria barato: antes de sair, ainda conseguiu deixar contra ela até as últimas pessoas que a apoiavam, aplicando novamente a mesma estratégia. Perdeu a razão, literalmente.

Como tinha um bom currículo, não demorou a encontrar outro emprego. Até fez com que seus ex-colegas achassem, por um tempo, que talvez tivesse sido injustiçada de alguma forma. Isso até o dia em que foi demitida novamente, pelos mesmos motivos, e sempre dizendo que "um dia encontraria uma empresa que merecesse alguém como ela e que reconhecesse o valor seu trabalho diferenciado". Sinceramente, não sei se já conseguiu. 


A linha entre ser bom e ser arrogante pode ser tênue, dependendo de como a pessoa lida com isso. No caso da Jane, houve falhas do RH, mas o principal foi que faltou jogo de cintura a ela para administrar a situação e sobrou prepotência. De nada adiantou ser uma profissional tecnicamente qualificada se ela sucumbiu ao ego na primeira vez em que se viu contrariada ou injustiçada. As coisas podem não estar fáceis em muitas ocasiões, mas você não precisa deixá-las ainda piores e, de quebra, contaminar toda a sua equipe.

Tudo isso me faz pensar em um ponto diversas vezes esquecido hoje em dia: por mais qualificado e competente que possa ser, você nunca sabe tudo. É sempre preciso ter humildade, tanto para aprender com os outros (competentes ou não), quanto para respeitá-los. E também para lidar com as adversidades. Nosso mundo de ciências exatas (?) muitas vezes nos afasta desses tipos de valores. Ter em mente que o seu conhecimento não é absoluto e que você eternamente estará aprendendo algo novo talvez seja o passo principal para ser um profissional cada vez melhor. É por aí que você começa a ser respeitado e mantem-se competitivo. 




* Adaptação do texto publicado em  23/06/2008



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os Nerds não Saem Mais de Férias. Eles Agora Aprendem Gestão!

O Johnny era um nerd daqueles de carteirinha. Embora fosse um cara muito bom para se bater um papo sobre qualquer coisa, ele acabava sempre falando de computador, Linux, Redes, etc. Sabe como é, né? O cara respirava a tal da informática, a ponto de ter engordado uns 15 quilos depois de ter mudado o plano de banda-larga que tinha em casa, entende?

Pois bem. Certo dia, a empresa resolveu, numa daquelas febres de final de ano, que iria mudar completamente sua estrutura de TI. Toda a área de desenvolvimento de sistemas iria mudar radicalmente. A empresa precisava se reorganizar de alguma forma, pois estava crescendo e sua estrutura física de média empresa já não comportava mais o seu tamanho em termos de trabalho e produção.

Eis que o gerente de TI chega pro coitado do
Johnny, que era, até então, um "simples programador", e fala: - Cara, com essa nova estrutura, tu vais ser gerente da área de sistemas de Automação Comercial. O Johnny fez uma cara de apavorado e disse, com voz de menosprezo a ele mesmo: - Mas não é o meu perfil, eu nunca gerenciei nada antes! - Ah, pois é, mas agora tu tens uma nova oportunidade, disse, com aquela cara e sorriso daqueles vendedores que aparecem na TV, o gerente de TI.

Um tempo depois o
Johnny descobriu que tinha habilidades que nem ele sabia. Ele conseguiu ser um bom gerente de área, mesmo não tendo formação administrativa. Se não me engano, até hoje ele está nessa empresa como gerente e não escreve mais uma linha de código sequer.

Com as novas dinâmicas de trabalho nas empresas, os nerds que possuíam formação meramente técnica começam a ter de abraçar gerências de áreas ou de projetos. Isso, muitas vezes, para quem não tem preparo, pode ser desastroso. Nem todos têm o jogo de cintura que o
Johnny tinha e, muitas vezes, não dão certo no novo posto. Mas o que dá pra notar é que, cada vez mais, o pessoal técnico está se vendo diante de um dilema: Quem diria que um dia teriam de estudar administração? Pois é, os tempos mudam.

Tenho notado que muitos gerentes nerds estão entrando em MBA's de gestão empresarial, gestão de TI, gestão disso, gestão daquilo. Em SP, por exemplo, você encontra MBA's cujos preços variam de R$ 10 mil a R$ 60 mil. Tem pra todos os gostos e para todos os bolsos. É lógico que essa variação de preços tem lá suas justificativas, afinal, alguns cursos oferecem até mesmo módulos de estudo no exterior incluídos no pacote. Tem também a questão de estudar em escolas renomadas, de status, etc. Algumas empresas pagam os cursos mais caros para seus executivos, porque acham importante a qualificação, ou para manterem esses caras motivados e sem pensar em trocar de emprego, afinal, são um capital intelectual estratégico para a empresa. Tem muito engenheiro, analista de sistemas e outros mais procurando preencher uma lacuna de habilidades que lhes faltam. Falando francamente, muitos deles estão procurando, na verdade, conhecimento em uma área que achavam superficial e sem tanta importância, comparada às habilidades técnicas.

Particularmente, sempre achei que faltava administração na informática. Eu presenciei muita burrada sendo feita e muita decisão sendo tomada por falta de conhecimento ou mesmo por falta de vivência administrativa. Por mais embasamento técnico que um sujeito tenha, ser um gestor requer o desenvolvimento de várias outras habilidades que eles nunca iriam conseguir em um tutorial na internet. E o mais interessante é que, com todo esse conhecimento técnico, eles têm um grande potencial para tornarem-se bons gestores. Os bem preparados, inclusive, tomam lugares dos bacharéis em administração em muitas empresas.

Lógico que, para tanto, precisam vencer uma série de barreiras. Uma delas é deixarem de ser "bichos-do-mato", precisam parar de serem nerds introvertidos e se relacionarem mais e melhor com as pessoas. Afinal, uma das gestões a que precisarão ter ciência é a gestão de pessoas, que hoje em dia deixou de ser tarefa exclusiva do RH nas empresas e passou a ser incumbência de cada gerente, líder, gestor ou coisa que o valha.

De experiência própria, eu digo que vale muito a pena. Eu continuo sendo um nerd (tá bom, pseudo-nerd), mas hoje em dia sou bem menos. Quem não é nerd e conversa comigo quase nem nota que sou um. Aprendi, de certo modo, a ter habilidade de conversar com vários tipos de pessoas diferentes. Isso vem com o tempo. Mas o ato de deixar de ver o próprio umbigo e passar a olhar as coisas de forma sistêmica me ajudou muito a entender melhor o mundo. E aqui, a ciência da administração, tão criticada por muitos técnicos, ajuda pra caramba. Mais que isso, ela (quem diria) está se tornando a grande salvação para as carreiras desse pessoal que achou que ia ficar "escovando bit" para o resto da vida e que agora se vê liderando uma equipe. O
Johnny que o diga...



* Adaptação do texto publicado em 19/11/2007


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ser ou Parecer Inovador? Eis a SUA Questão!

Pra nós, que trabalhamos na área de TI, ouvir falar em inovação é algo quase que corriqueiro. Não tem um dia que não se houve um gerente ou líder de equipe falar em inovação ou em ser inovador. É inovação pra cá, inovação pra lá... Essa gente que mexe com computador é meio obcecada por isso, não é verdade? Talvez até seja. 

Porém, dá pra contar nos dedos aqueles que realmente entendem o que é inovação. Provavelmente a maior parte das pessoas confunde inovação com invenção. O problema, na verdade, é que muita gente "materializa" a inovação em forma de um produto, quando, na verdade, ela pode vir na forma de um processo melhor, na forma de um novo modelo de gestão, de um novo conceito de logística, etc. Enfim, há várias ramificações por onde a inovação pode caminhar.

O que parece não estar claro para muitos gerentes de TI é que a inovação diferencia-se da invenção por um motivo bem peculiar às empresas: geração de resultado. Isso mesmo. É pra isso que uma empresa existe, não é? O que caracteriza uma inovação é justamente a sua capacidade de transformar-se em resultado, ou, em outras palavras, dinheiro. 

Aquele seu vizinho maluco que vive inventando coisas diferentes não é, necessariamente, um inovador. Ele o será se conseguir ganhar dinheiro com esses inventos. E ganhar dinheiro não significa simplesmente vender o invento. Nesse caso, ele seria apenas um inventor com skill de vendas!

As empresas inovadoras assim o são justamente pela sua capacidade de transformar ideias em geração de resultado. Quem não conhece os famosos casos a respeito da 3M, da Google, Apple, entre outras, de criações que viraram verdadeiras minas de ouro? Essas empresas produziram ideias que não só venderam, mas que criaram um mercado novo a partir delas, ditaram a forma de como todo o resto do mercado deveria se comportar. Algumas até influenciaram culturalmente gerações, mudando sua forma de trabalhar, de se comunicar e até mesmo de se relacionar. Isso é inovação.

Agora, vamos ao ponto. Será que você trabalha em uma empresa inovadora? O quão satisfeito profissionalmente você é por isso? Há diferenças em se trabalhar numa empresa dessas em relação às outras? As respostas para essas questões dependem da percepção de cada um de nós. Excluindo-se aquelas velhas histórias de empresas onde os funcionários jogam futebol durante o expediente, trabalham de bermuda com estampas coloridas todos os dias, têm dias da semana só para ficar em casa tendo ideias e fazem viagens a lugares bonitos com tudo pago apenas para buscarem inspiração, nem sempre as coisas são tão bonitas assim, principalmente no mercado de TI "real". Existem alguns casos como esses, claro, mas, normalmente as empresas da área não são tão "boazinhas" assim, pois trabalham sob uma perspectiva de estrutura enxuta e funcional. E não há nada de errado nisso.

Vamos analisar os casos fictícios (mas nem tanto) do Bruce e do Billy. Eles trabalham em duas grandes empresas multinacionais. A empresa onde o Bruce trabalha é uma gigante na produção de televisores de alta definição. São milhares e milhares deles por dia, sendo produzidos em fábricas de diversas partes do mundo. Na verdade, a empresa em si não fabrica nenhum componente das TVs. Ela apenas compra as partes de outros fornecedores e monta diferentes modelos para vender. O famoso OEM. A empresa tem um processo de produção, distribuição e logística que é considerado modelo e, portanto, inovador. Mas, para que tudo isso funcione, é preciso uma forte estrutura de TI. O Bruce trabalha nessa área. Ele é analista de sistemas e recebe um salário muito acima da média do mercado. Ele vive brigando com os gerentes, que parecem estar no século passado, com conceitos absurdos e com uma visão de processos completamente ultrapassada. Ele, que não é nenhum especialista em mercado, mas sabe como ninguém sobre o funcionamento da sua área, consegue ver os absurdos que são solicitados nos sistemas pelos gerentes de negócios e que ele, sem muita influência política, tem de encaminhar para o desenvolvimento. A empresa tem uma estrutura enorme, porém inchada, muito porque há bastante gente gerenciando e pouca gente fazendo. Em outras palavras, muito cacique para pouco índio. Além disso, ele enxerga que as cobranças, especialmente por prazos, parecem não ser tão fortes, pois sempre tem muito dinheiro para os projetos e, se algum problema ocorre, aparentemente é algo simples de se contornar, ao menos financeiramente. Isso tudo o frustra de certa forma, pois sabe que muito mais poderia ser feito com os recursos financeiros de que a empresa dispõe.

Já o Billy trabalha, também como analista de sistemas, em uma empresa concorrente da empresa em que o Bruce atua. A diferença é que essa empresa desenvolve e fabrica seus principais televisores, terceirizando uma ou outra produção de menor escala. Esse tipo de escolha de atuação de mercado faz com que a essa empresa tenha a obrigação de possuir uma área de Pesquisa e Desenvolvimento, aquela mesma área que a gente tende a achar que é a "salvação da pátria" das empresas, a responsável por gerar as ideias geniais, que se transformam nos produtos que o Michael Porter chama de "Estrelas", que já nascem dando altos lucros. Da área de P&D já saíram muitos produtos que se tornaram sucesso de vendas. Nessa empresa, inovar é algo que está intrínseco na cultura organizacional, todo mundo é estimulado a ter ideias. Billy convive com pessoas de pensamento muito mais aberto, visões mais modernas de mercado e que parecem respirar inovação. Seu salário não é tão alto quanto o de Bruce, mas é considerado compatível com o mercado. Mesmo com uma grande market share, a empresa cobra muito os seus colaboradores, que têm metas de desempenho claras a serem cumpridas. Monotonia é algo que não se vê nessa empresa e as metas atingidas são recompensadas com prêmios que estão de acordo com o que foi conseguido.

Temos aqui dois exemplos diferentes de inovação, No primeiro, a inovação está nos processos de produção e logística, e aparentemente não se reflete no restante da empresa, que parece comportar-se como a maioria das autarquias em termos de atitude. No segundo caso, a inovação está nos produtos, em como fazer TVs melhores. E essa cultura é passada para as outras áreas. 

A moral da história é simples: dependendo do seu perfil, um ou outro trabalho pode ser o mais adequado pra você. Pessoas que gostam de ter ideias e sempre estão buscando o novo poderiam incomodar-se, caso estivessem no lugar do Bruce. Do mesmo modo, pessoas extremamente racionais e binárias provavelmente não se encaixariam no emprego do Billy

Mas acreditem, parecer inovador e ser inovador são duas coisas bem diferentes. E trabalhar em um lugar realmente inovador também é bem diferente do que trabalhar em um lugar onde existe a "inovação de fachada". Podemos optar em ganhar mais e estamos sujeitos a coisas com as quais não concordamos, ou ganhar um pouco menos e trabalhar com mais estímulo e qualidade de vida. Pense nisso quando estiver fazendo sua próxima entrevista de trabalho. Você gostaria de ser o Bruce ou o Billy?


* Adaptação do texto publicado originalmente em 21/11/2007

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Cer" Ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica: as empresas para as quais ele presta serviço pedem sempre que o candidato a uma vaga tenha o máximo de certificações possíveis. É como se isso fosse um atestado unilateral de competência e conhecimento. Interessante, segundo ele, é que, na maioria dos casos, as empresas não conseguem esse profissional "ideal" e acabam optando por outros que não têm tantas certificações ou até que não tenham nenhuma, mas sejam experientes e tenham bom conhecimento das funções a serem realizadas. É aí que mora a questão: Até onde as certificações são realmente necessárias e o quanto elas atestam a respeito da qualidade e capacidade de um profissional?

Bem, como estou no mercado há uns bons anos, acho que posso dar alguns pareceres de experiências e de percepções MINHAS a respeito do assunto. Já vi muitas pessoas extremamente competentes e qualificadas e que nunca fizeram nenhuma certificação, mas desempenham suas tarefas com excelência, são extremamente importantes para as empresas para as quais trabalham e mantêm-se atualizadas com muita leitura e participando de cursos com frequência. Conheci um professor de gestão de projetos que nunca foi certificado PMI, mas sabia na prática toda a metodologia, aplicava no seu trabalho e ainda dava cursos para candidatos à certificação. Ganhava muito bem trabalhando para diversas multinacionais e era referência no tema. Também já vi casos de pessoas que faziam certificações para ganhar aumento ou para melhorar o currículo. Alguns eram realmente bons profissionais, outros nem tanto. Mas tinham a dita certificação em seus currículos. Opostos a esses casos também já vi. Tenho amigos extremamente competentes que tiram todas as certificações que aparecem. Alguns conseguem melhores postos no trabalho, outros não. E, óbvio, tem gente sem certificação que é incompetente e desatualizado. Estes, em geral, são totalmente contra as certificações.

É um assunto realmente complexo. Cada certificação tem características diferentes. Algumas são simples de se obter, têm provas relativamente fáceis. Outras são extremamente complicadas. Em geral, quanto mais difícil, mais é preciso estudar para as provas e mais cara é a certificação. Algumas delas exigem renovação após um determinado prazo, obrigando o indivíduo certificado a fazer novas provas ou comprovar participação em eventos relacionados ao tema. Dificultar as coisas muitas vezes é uma saída para tornar a certificação mais reconhecida e tentar fazer com que os candidatos estudem, aprendam e permaneçam atualizados, o que é válido.

Por outro lado, as certificações são, na sua maioria, de cunho teórico, bastando que se estudem os manuais e livros (com mais ou menos dedicação) para que sejam obtidas. E, nesse sentido, elas pouco contribuem para o trabalho prático ou para comprovar capacidade ou competência profissional de alguém. É como se fosse uma preparação para concurso público: todo mundo estuda muito, decora, etc., mas, na prática do dia a dia, talvez as matérias não sejam ou não tenham sido todas utilizadas. Por outro lado, quem já tem bastante experiência a sabe de cor todos os macetes da sua função, muitas vezes (com certa razão) não dá tanta importância assim para esse tipo de coisa.

Mas as empresas pedem. E se você não tem, pode estar perdendo uma vaga para alguém que, mesmo sendo menos competente que você, já tenha. Certo? Em termos. Eu parto do princípio que ser competente e manter-se atualizado independe de certificação. Como gerente, não seria o único critério que eu usaria para diferenciar dois profissionais. Saber fazer e querer fazer pode ser mais importante do que simplesmente saber. Então, o que eu recomendaria para alguém que pretende fazer certificações ao longo de sua carreira? Bem, eu diria: - Faça! Mas não fique apenas apegado a isso. Certificações são boas para aprendermos teorias novas que possamos utilizar na prática ou reciclar conhecimentos esquecidos, são boas para nos mantermos atualizados (embora existam outros meios para isso), e são boas para nos ajudar a melhorar nosso trabalho e como fazemos as coisas. Mas as certificações sozinhas não nos dão a real noção que a prática e a experiência oferecem.

Eu acredito que um profissional deve primeiro ser bom no que faz e depois se preocupar em buscar uma certificação. Não interessa o tempo que leve uma coisa ou outra, mas a sequência lógica deveria ser essa, no meu ponto de vista. A certificação deveria ser a ratificação, a confirmação daquilo que um profissional sabe e não uma prova a ser vencida por um estudante para habilitá-lo a um trabalho que ainda não conhece na prática. No mundo corporativo não se deve brincar com coisa séria. Você deve dominar (teórica e praticamente) seu trabalho, aquilo que será o objeto de sua futura certificação. Já existem "incompetentes certificados" demais nas empresas de TI, que adoram posar de superiores, mas que, num momento de aperto, acabam recorrendo aos profissionais mais experientes e hábeis, mesmo que não possuam certificação alguma. Ser uma referência é mais importante, se me fiz entender.

Como dizem no interior, um ovo que só tem casca não sustenta. É preciso ter a gema e a clara. É o conteúdo que nos provê alimento. A forma como vamos utilizá-lo para nos alimentar (cozido, frito ou cru) é uma escolha nossa. Portanto, escolha certo. Se você é gerente, considere "o todo" em um profissional, sua experiência e habilidades, e não apenas seus diplomas. E se você é um profissional, preocupe-se em ter certificações que lhe ajudem em termos profissionais e que lhe sejam realmente úteis, mas não dependa apenas disso. Seja primeiro bom no que faz e, acima de tudo, goste daquilo que faz. Esse certamente é o primeiro passo para garantir que as suas certificações ajudarão a refletir você profissionalmente.




* Adaptação de texto originalmente publicado em 17/07/2008