O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

Mostrando postagens com marcador Dia-a-dia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dia-a-dia. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Evolução


O mundo mudou ou as pessoas é que estão pensando menos? Ou será que são as duas coisas? Estamos realmente evoluindo?

Eu me faço essas perguntas quase diariamente. E não é apenas pelo que vejo no ambiente de trabalho e nas mudanças que ocorreram e vêm ocorrendo nos últimos anos, mas também pelo comportamento das pessoas no dia-a-dia. Parece que tudo ficou mais simples, ou melhor, menos complexo. Tanto as máquinas, ferramentas, utensílios, como os próprios relacionamentos. Parece que há uma tendência extremada à simplificação das coisas, ou melhor, em alguns casos, a palavra mais adequada parece ser mesmo "superficialização".

Quem está na faixa dos 30 anos ou mais sabe muito bem do que falo. Como o mundo mudou de 15, 20 anos pra cá! Às vezes até me espanta. Óbvio que muita coisa mudou pra melhor. A tecnologia nos deu uma nova forma de viver. Ao mesmo tempo, ela criou alguns tipos de comportamentos bem distintos daqueles com os quais tínhamos aprendido a conviver. Só se fala em "acompanhar o ritmo dos novos tempos". Mas que ritmo é esse? Será que tudo tem que acompanhar esse ritmo? Você acompanha?

Eu sinceramente acho que a educação tem um grande papel nisso tudo. A forma como as pessoas recebem educação em casa e nos bancos escolares mudou e, por conseguinte, mudam também comportamentos, estrutura familiar, etc. Mas a educação não fez nada sozinha: posso estar enganado, mas a tecnologia, em minha opinião, ao mesmo tempo em que causou tanta evolução, também é uma das responsáveis pela mudança na educação em geral.


Quando eu estava na escola, a nota média para você passar de ano era 7,0. Em algumas instituições, era 8,0. E normalmente o nível de ensino era relativamente bom, mesmo em escolas públicas. E se você não atingisse essa média, ficava em recuperação. Se ainda assim não alcançasse o objetivo, repetia o ano e ponto final. Já mencionei isso aqui, mas não custa refrescar a memória dos leitores: eu estudei minha vida toda em escola pública e nunca tive moleza. Ficar em recuperação já era uma baita derrota pessoal. Repetir o ano então era um completo desgosto, pra você e para sua família. Eis que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) muda lá em meados dos anos 1990 (acho que em 1997), e estabelece que a média para aprovação passasse a ser 5,0. Caramba! 5,0 era nota "vermelha" antes. Para mim, era o fim tirar 5,0 numa prova! Pensei comigo: agora qualquer um vai passar de ano. Mas, como se ainda não bastasse, a LDB "evoluiu" e atualmente é praticamente proibido um professor reprovar um aluno, tamanha a quantidade de "recuperações" a que ele é submetido até que consiga a média. Ou seja, a modernização do ensino agora está no fato de ninguém mais repetir o ano, não importa o quanto tenha aprendido. Nessa lógica, a repetência é péssima para o futuro profissional. Com uma lei mais "moderna", isso não mais acontece e você poderá chegar mais rápido a uma formação e, consequentemente, ao mercado de trabalho. Só que ninguém se lembra de "como" esse indivíduo vai chegar ao mercado. A consequência já pode ser vista, basta analisar a dificuldade em se preencher as vagas especializadas, principalmente nos setores como TI e saúde, onde sempre há mais vagas que candidatos.

Pra ajudar, a Internet está produzindo o que alguns chamam de uma "nova língua portuguesa". Eu prefiro chamar de "uma geração de analfabetos digitalizados". Como as pessoas parecem ter preguiça de escrever corretamente ou até mesmo de pensar hoje em dia. É uma dificuldade estabelecer um diálogo com a maioria das pessoas bem mais novas que você. E eu não estou falando de erros simples de português. Isso é normal a todos, eu mesmo cometo muitos. Falo da pressa com que as pessoas estão tentando absorver informação, mas sem guardar para si as partes úteis, que vão ajudar na formação intelectual. Querem tudo pronto, não constroem nada, apenas copiam ou recorrem ao Google. Acostumaram-se ou foram acostumadas com isso. Ler então, só Mangá, RPG ou Harry Potter. E se leem isso, já são considerados "nerds" pelos amigos. Ou melhor, pelos "miguxos". Aliás, diga-se, até o "miguxês" já está em desuso, tamanha a dinamicidade com que as coisas mudam. 


Nada contra esse tipo de leitura, eu mesmo acho algumas interessantes. Mas ler só isso não é bom. Culturalmente, há coisas na literatura brasileira e mundial muito mais enriquecedoras. Por causa dessa popularização da "linguagem fácil e acessível a todos", as próprias universidades adaptaram os seus vestibulares. Em algumas, basta você fazer uma redação simples para ser admitido. E olha que, mesmo assim, a comissão avaliadora ainda tem trabalho pra selecionar pessoas que consigam escrever bem. Tudo está consistindo em nivelar "por baixo". Impressionante. Quem tenta um intercâmbio no exterior tem um choque com o nível de exigência das escolas, se comparadas às do Brasil. 

Não obstante, a facilidade de comunicação das redes sociais vem criando uma geração de "Cyberidiotas", que não sabem de nada, mas acham que sabem de tudo, especialmente quando o assunto é política, religião ou futebol. Lembro-me de quando se dizia que "política, religião e futebol não se discute". Sábias palavras... Quem dera ainda fosse assim. Chega a ser chato abrir o Facebook e dar de cara com pseudo-ateus e pseudo-religiosos, que não conhecem nada sobre a realidade um do outro, discutindo sem razão nenhuma. Gente pedindo voto pra esse ou aquele candidato, outros condenando este ou aquele acusado (sim, hoje em dia as pessoas parecem serem culpadas até que se prove o contrário, justamente o oposto dos ideais da nossa Carta-Magna). Com o futebol é ainda pior. Tem quem torce pra um time, mas passa 90% do tempo falando mal do time rival. Vai entender. Eu gosto de futebol, mas tem certos limites para o fanatismo que frequentemente são extrapolados por alguns. Não vou nem falar sobre questões raciais, sociais e de sexualidade, igualmente polêmicas, senão escrevo um livro inteiro.

Parece que estamos ficando menos tolerantes, achando que só aquilo que fazemos e no que acreditamos é bom e que todo o resto relativo a quem é diferente não presta e deve ser eliminado. E isso em pleno século XXI. Quem diria! Não parece contraditório todo esse radicalismo descabido? Vale a pena alimentar isso? Se as pessoas ditas inteligentes, que tem acesso à informação e formam opiniões, estão agindo dessa forma, o que esperar das massas menos desenvolvidas daqui a alguns anos?

Nos ambientes de trabalho em geral também notamos mudanças. Antes, um analista/engenheiro (de qualquer coisa) era um cara com uma formação pesada, capaz de realizações complexas, era admirado por todos e tinha altas responsabilidades. Hoje, um analista é simplesmente um cara que faz mais do que simplesmente "executar" uma tarefa. É ou não é? Deem uma olhada nas vagas disponíveis na área de TI e vejam se estou errado. Esses dias eu vi uma vaga de "engenheiro de telemarketing" num anúncio no jornal. Sério. Agora me digam, qual é a tarefa "de engenharia" que há num trabalho desses? Aparentemente, nem suporte técnico faz partes das atribuições desse cargo. Então fica o quê? Nada contra quem trabalha com telemarketing, mas é evidente que estão dando um nome pomposo a algo que não requer um esforço equivalente. Aliás, gostaria de saber o que faz exatamente um “engenheiro de telemarketing”...


Com a música vemos algo parecido: as composições parecem ser feitas com prazo de validade, para durar "x" meses, vender muito e depois serem produzidas outras para substituir as anteriores. Alguém consegue identificar alguma música feita de 15 anos pra cá e que tenha jeito ou qualidade de clássico, daqueles que ficam décadas nas lembranças das pessoas? Parecem ser todas iguais. As bandas também, todas com o mesmo som. Melodias como as do Led Zeppelin ou Beatles não se veem mais, apenas um som pesado carregado de raiva e depressão na voz dos cantores que sequer sabem pelo que estão raivosos ou depressivos. 

Relacionamentos idem. Num mundo onde tudo está rápido, tudo é pra ontem, as relações não podiam ficar de fora. Casamentos duram menos, há menos casamentos. Isso porque ninguém fica mais satisfeito com algo duradouro. É preciso estar sempre mudando. A sociedade te diz que deve ser assim. É como se os preceitos da obsolescência programada estivessem interferindo no modo como encaramos os nossos relacionamentos pessoais (será que não está?). Não se trata de conservadorismo, mas parece que tudo perde a atratividade muito cedo, virou descartável. Isso não é bom em nenhuma época.

Entendam, não sou contra a modernidade e as facilidades que ela produz. Afinal, eu sou um profissional de TI e adoro tecnologia. Mas eu sou contra o conformismo/comodismo que essa mesma tecnologia pode gerar nas pessoas, que acarreta em ver tudo de forma superficial e intolerante. Incomoda-me muito o fato de alguns entenderem a tecnologia como algo que facilita tanto a sua vida a ponto de você sentir que não precisa mais pensar e refletir. Apenas emitir uma opinião já está bom. E você precisa emitir, senão é ignorado. 

Isso sim é que deveria ser trabalhado. Não sei ainda se isso que estamos vivendo será o futuro ou a tendência da evolução humana. Mas, quanto menos pensamos, mas perto estamos de voltar às nossas origens primatas. Pode ser um exemplo meio exagerado, mas tenho certeza de que muito da atual violência da nossa sociedade está na intolerância causada pela falta de cultura, informação e respeito ao próximo que se veem nas ruas, escolas, trabalho e nas redes sociais. A globalização tem tudo para ser um grande instrumento de paz, onde todo mundo compreende todo mundo e todos se respeitam. Falta é fazer com que isso entre na cabeça das pessoas e de alguns estadistas modernos.

Belchior escreveu brilhantemente que "é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem". Particularmente, creio que não devemos nos apegar demais ao passado. Realmente isso não cabe mais, embora eu muitas coisas de antes ainda possam e devam ser aproveitadas. Talvez a desilusão faça muitos gostarem de viver no passado, não apenas por serem avessos à mudança (o que é ruim), mas muito por não enxergarem ou por não sentirem possibilidades de mudança (o que é pior). Penso que devemos sempre tentar CONSTRUIR um futuro de forma consistente e que este seja realmente bom para todos. Preocupa-me a maneira como o novo está sendo colocado para a sociedade. Mais fácil nem sempre (e nem para tudo) significa melhor. Colocando outra música na jogada, me recordo da letra de "Do the Evolution" do Pearl Jam


"Admire-me, admire meu lar, Admire meu filho, ele é meu clone. Esta terra é minha, esta terra é livre. Eu faço o que eu quiser, irresponsavelmente. É a evolução, baby". 

De certa forma, esse trecho traduzido da música retrata um pouco da falta de noção e do egocentrismo dos pensamentos que vemos por aí. A geração do "iPod" e do "iPhone" está interiorizada demais. Esqueceu que o mundo tem outros atores. Em vez de "i", deveriam pensar no "us" e no "them" também. Perdoem-me pelo trocadilho malfeito, mas acho que serve para ilustrar a ideia. Já tem gente "mala" demais no mundo, por isso precisamos pensar mais para não adotarmos nem aumentarmos os que seguem este estereótipo.

Muito desse trabalho cabe a nós mesmos, desde que passemos a olhar para outros lugares que não sejam nossos próprios umbigos. Tem um ditado árabe que diz que "se um dia encontrares a luz, não a negue àqueles que ficaram na escuridão". Se a solidariedade e a caridade parecem algo démodé, talvez seja hora de tentarmos tornar isso "cult" de novo e disseminar coisas boas. Podemos usar nosso conhecimento de diversas formas para ajudar os outros: fazendo um trabalho voluntário, ajudando e instruindo quem precisa sem assistencialismo barato, agindo corretamente e honestamente, sendo responsáveis, respeitando as diferenças, educando nossos filhos para fazerem o mesmo, etc. 

Não sei nem consigo visualizar ao certo para onde vamos, só sei que há muito o que fazer até que a evolução seja completa, tecnológica e humanamente falando. Quanto a respostas para as perguntas iniciais do post, eu já tenho uma: sim, estamos evoluindo. O que eu ainda preciso descobrir é em qual direção estamos indo.


* Adaptado do texto escrito em 25/09/2008




quarta-feira, 15 de agosto de 2012

É Hora de Abandonar o “Complexo de Vira-Lata” e Arregaçar as Mangas


Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência. De tanto se repetirem, acabam sendo previsíveis. Ao menos, para aqueles que têm boa memória. 

Mas eu não estou falando de pleito eleitoral ou se você se lembra em qual candidato votou da última vez. 

Terminada mais uma edição dos Jogos Olímpicos, a de Londres 2012, vemos o Brasil novamente como coadjuvante no quadro de medalhas. Nenhuma novidade, a não ser o fato de termos conquistado o maior número de medalhas da história, ao menos, na quantidade. Igualmente comum é o número de pessoas reclamando da campanha do Brasil nos jogos, que falta investimento, etc. Até é compreensível, de certa forma. Muitos atletas estão ali por conta própria, não recebem patrocínio adequado, não dispõem de salários milionários, etc. São verdadeiros heróis anônimos que lutam pelo amor ao esporte e pelo amor ao seu país. Isso mesmo: ao seu país. Ele, o Brasil. O mesmo que tanta gente fala mal, despreza, torce contra.
Aliás, é uma coisa que eu não consigo entender. Como alguém pode torcer contra o seu próprio país numa olimpíada, sendo que aqueles atletas mais calejados e esquecidos pelo esporte brasileiro fazem justamente o contrário, pois são os primeiros a exibirem o “orgulho de ser brasileiro” quando o hino nacional toca no pódio? Não consigo encontrar uma justificativa plausível a não ser o nosso próprio “complexo de vira-lata”, descrito pelo dramaturgo Nelson Rodrigues. O Nelson, diga-se, é um cara que sempre apresentou um texto sem firulas, direto ao ponto, como realmente as coisas acontecem. Talvez por isso permaneça atual tanto tempo depois.

Quando ele citou o “complexo de vira-lata” pela primeira vez, referia-se à derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1950 e ao descrédito oriundo dela, algo que só findaria com o título de 1958. Tempos depois, utilizou a expressão para mencionar “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. É difícil encontrar um componente histórico que explique esse tal complexo (nem vem ao caso dissecá-lo aqui), mas o fato é que ele existe, hoje com outras variantes, é verdade.


Creio que todo mundo saiba das dificuldades do país, não apenas no esporte, mas isso lá é motivo para torcer contra as pessoas que estão lá, nos representando? Tudo bem que uns ganham fortunas e outros uma miséria, isso todos sabemos. Mas é assim, apenas reclamando de tudo o que fazemos, que vamos mudar a realidade? É muito mais fácil repetir Charles de Gaulle e dizer que o Brasil não é um país sério. Fazer algo para que as coisas mudem é outra conversa. Como diz meu pai, “não é assim que se capa gato”.

Aqui no RS a coisa é pior, pois vemos seguidamente uns pseudo-intelectuais que, em pleno século 21, conservam ideais separatistas e acham isso bonito, ainda por cima! Uma coisa é você ter orgulho de ser gaúcho, brincar de forma saudável com o bairrismo do nosso povo. Outra coisa é extrapolar esse limite e achar que realmente somos melhores que os demais brasileiros. Aliás, é isso que somos: brasileiros, antes de tudo. Somos tão brasileiros quanto os que vivem no Acre, Piauí ou qualquer outro estado. Tem vezes em que as coisas são levadas tão “à ponta de faca” que se torce contra a seleção brasileira só porque o treinador convocou um jogador do Internacional e deixou um do Grêmio de fora da lista, ou vice-versa. Isso lá é demonstração de “superioridade”? Isso tem é outro nome: provincianismo. Alguns gaúchos acham tão ruim ser brasileiro que se dizem diferentes ou melhores, só para não serem “confundidos” mundo afora. É tão estúpido quanto dizer que se é Catalão em vez de Espanhol e vice-versa, em minha opinião.

Tirando o caso do meu estado, o brasileiro aprendeu a se achar inferior a ponto de agora reclamar da sua própria falta de autoestima, mas atribuindo a culpa a terceiros, claro. Os bodes expiatórios são sempre os mesmos: o governo, os impostos, a economia... Por vezes, são os reais culpados. Mas e quanto a nossa parcela nisso tudo? Quantas filas furamos por dia, quantos trocos a mais deixamos de devolver em um ano, achando que estamos levando vantagem em alguma coisa (“Lei de Gerson”)?  Se a máxima diz que cada povo tem os governantes que merece, temos de fazer por merecer para termos representantes melhores, não é mesmo? 

Não dá pra fechar os olhos para os problemas do nosso país, isso é fato. Mas é o nosso país, caramba! Nossa pátria mãe, nem tão gentil, mas ainda é nossa pátria! E isso não vai mudar. A ilusão de sair do país, achando que todos os outros são melhores, nem sempre é válida. Não são poucos os brasileiros que moram no exterior e que sentem vontade de voltar. Temos de aprender a valorizar o que temos aqui e procurar melhorar, em vez de fugir para os EUA ou Europa, alegando que lá as coisas são levadas a sério.

Há problemas em todos os países. Não pensem que está fácil viver na Europa hoje em dia, com toda a crise econômica pela qual o velho continente atravessa. Conheço um cara que foi morar por três anos na Espanha, com o propósito de juntar um dinheiro que, teoricamente, não poderia juntar aqui. Sabem o que ele disse? Que se arrependeu de ter ido. Segundo ele (que não era formado), até conseguiu fazer uma boa poupança, mas teve de trabalhar de 10 a 12 horas por dia, inclusive nos finais de semana, sem poder sair para fazer festas, etc. Gasto zero. Depois disso, ele percebeu que, se tivesse feito o mesmo aqui no Brasil, também conseguiria juntar o dinheiro que queria. Era só trabalhar as mesmas 12 horas, 7 dias por semana e não sair para gastar o que ganhou. Ele pode ter escolhido a época errada para ir para lá, mas é um exemplo de que nem sempre essa é a melhor solução.

Todos os dias eu vejo pessoas queixando-se dos impostos, de que é ruim trabalhar no Brasil por conta de todos os encargos que se paga. Acho estão certas, mas também tem um pouco de chororô em alguns casos. Não estou ignorando as dificuldades, apenas querendo dizer que nem sempre a culpa é só “dos outros”. Temos o direito e o dever de reclamar quando estamos sendo prejudicados. Só que há certas coisas que, infelizmente, demoram a mudar (ou não mudam), e precisamos lidar com elas, queiramos ou não. Simplesmente não temos como “fugir da raia”. É como o aluno que reclama que pegou um professor “carrasco” em determinada disciplina, mas que pouco se esforçou para tentar passar de ano. E olha que, normalmente, é com esses “carrascos” que aprendemos mais e nos preparamos para o futuro. E não adianta nada reclamar, pois se você escapar de um professor exigente, terá de enfrentar outro ali na frente. Você faz o quê? Senta e chora ou encara a adversidade e tenta superá-la? Você só aprende quando é exigido. Quando você sair da escola e começar a trabalhar, o mercado nem sempre irá te dar uma segunda chance, então é bom você saber se virar.

Por que há empresas que duram décadas e décadas com saúde financeira e prosperidade? Elas provavelmente passaram pelas mesmas dificuldades que as outras, enfrentaram as mesmas crises econômicas, pagaram os mesmos impostos abusivos. Conseguiram ir adiante porque não abriram mão de fazer as coisas acontecerem, de saírem da inércia e procurarem alternativas criativas para continuarem viáveis financeira e comercialmente. Enfrentaram as adversidades de frente. O que isso quer dizer? Quer dizer que não se constrói um país melhor apenas reclamando das coisas ou desistindo dele porque o governo e as pessoas parecem não merecer mais crédito. Essas empresas são a prova disso.


Lembro que tive as disciplinas de “Moral e Cívica” e “OSPB (Organização Social e Política Brasileira)” na escola. Não existem atualmente, mas as considerava importantes. Eu desfilava para a minha escola no 7 de Setembro e achava legal. Alguns dirão que são resquícios da ditadura, mas, em se tratando de anos 1980/1990, essas disciplinas já não tinham esse cartaz. Ao contrário, eram muito úteis para entendermos (ou começarmos a entender) como funcionava nossa sociedade. É possível até que nos ajudassem a sermos mais politizados. Tanto que a última manifestação popular de relevância política que se tem notícia foi a dos “caras pintadas”, que foram às ruas pedir o impeachment do presidente Collor. Hoje em dia você praticamente só vê passeatas nas ruas quando estas terminam com uma festa. Protesta-se e fala-se de tudo pelo Facebook. Ali, no mundo virtual, todo mundo sabe de tudo. Colocar a cara na rua, poucos colocam. Esse tipo de eleitor é tão perigoso quanto aquele que é comprado com uma cesta básica, pois provavelmente entende tanto de política quando ele. 

Digo isso porque acredito que muito dessa falta de orgulho de ser brasileiro venha justamente porque as atuais gerações não conhecem ou conhecem pouco o próprio país, seja culturalmente, seja politicamente. Ninguém se interessa por esses temas, a não ser na hora de reclamar que as coisas não estão indo bem por culpa deste ou daquele. Vivemos na era do analfabetismo funcional. Isso é um grande problema, visto que diminui a capacidade cognitiva das pessoas, deixando-as intelectualmente mais vulneráveis (leia-se passíveis de manipulação, a famosa “massa de manobra”).  É muito fácil fazer todo mundo acreditar que seu país não presta ou é inferior do que dizer que você também é responsável pelo andamento das coisas e que também pode e deve agir para fazer as coisas mudarem. 

Quando você viaja para fora do Brasil, percebe que, no geral, o brasileiro tem mais preconceito com seu próprio país do que os estrangeiros. Há exceções, claro. Aqui também falamos mal de alguns ‘gringos”. Mas não é o que se vê normalmente. Se você for educado e se comportar bem, levando em conta e respeitando as diferentes culturas, também tende a ser tratado assim, não importa sua nacionalidade. Eu moraria fora do país, sem problemas. Se meu trabalho exigir ou se eu tiver vontade de passar um tempo em um lugar diferente para aprender outro idioma, estudar, etc., eu não recusaria. Mas jamais iria por não gostar do meu país. Eu sei que o romantismo e patriotismo perderam espaço nos dias de hoje, mas fazer o quê? Eu cresci aprendendo a valorizar as coisas boas da minha terra e a pensar que as coisas podem sempre melhorar. E olha que hoje estão bem melhores do que antes. Sem inflação, sendo reconhecido internacionalmente, economia crescendo pouco, mas crescendo, etc. Nunca foi tão importante ser brasileiro perante o mundo, mas parece que alguns fecham os olhos para isso. Queria ver se fosse na época da inflação de 3 dígitos, da reserva de mercado, da falta de opções e de liberdade de expressão. Não se valoriza aquilo que se criou de bom nesses últimos 20 anos. O mundo mudou e continuamos reclamando das mesmas coisas de décadas atrás. Nelson Rodrigues certamente iria escrever muito sobre isso. Talvez até Freud...

Os profissionais brasileiros hoje são cada vez mais reconhecidos internacionalmente. Temos capacidade, criatividade, flexibilidade. Aprendemos a sermos competentes. Mesmo não tendo uma estrutura educacional adequada, estamos conseguindo produzir muita coisa legal mundo afora. É hora de deixarmos de lado o “complexo de vira-lata”, acreditarmos que somos capazes, pararmos de só reclamar e agir. A mudança tem de vir primeiro de você mesmo. Nosso país é imperfeito, mas ainda é nosso país. Ter orgulho e gostar de onde você veio não tem nada de “feio”, assim como saber ser agradecido ao que seu país lhe deu. É uma demonstração não só de maturidade, mas também de civismo, meus conterrâneos tupiniquins. Vivamos felizes com nossas origens e, principalmente, não desistamos do nosso país!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Simplicidade e Sofisticação


Não, este não é um texto sobre o Ed Motta. Mas as palavras do título, homônimo à definição dada por muitos ao cantor brasileiro, nem sempre caminham juntas. Embora possam servir para o Ed, elas são vistas pela maioria das pessoas como opostas. Talvez porque, num primeiro momento, sejam associadas à pobreza e à riqueza, respectivamente. Mas o que toda essa "filosofia" tem a ver com este post? Explico:

Recentemente, comprei um laptop novo. Um top de linha, com tudo o que um nerd gostaria de ter. No dia da compra, eu parecia uma criança que ganhou um brinquedo novo. Na verdade, era isso mesmo. Estava super empolgado, pois tinha conseguido realmente comprar o modelo que eu queria, mesmo sabendo que levaria uns dias para entregarem na minha casa. E o melhor de tudo: eu tinha condições de pagar por ele. Caramba, fiquei pensando na hora no momento profissional pelo qual estou passando, assumindo novos desafios, querendo evoluir ainda mais, enfim, tudo aquilo que me possibilitou adquirir o laptop novo. Fiquei com isso na cabeça boa parte do dia, fazendo planos para o futuro.

No final daquele dia, voltando pra casa, resolvo passar no Shopping que fica perto para comprar não me lembro o quê. Depois, resolvi pegar um ônibus, pois já era noite, estava chovendo e fazendo muito frio, como costuma ser em Porto Alegre no inverno, o que inviabilizava uma caminhada. Naquele momento, eu ainda estava pensando no computador novo que tinha comprado, louco pra que ele chegasse logo e eu pudesse me divertir com ele.

Então aparece um rapaz, aparentemente um pouco mais velho que eu, com roupas velhas e sujas, calçando Havaianas velhas e com um plástico sobre o corpo, que usava como se fora uma capa de chuva. Ele estava pedindo dinheiro para as pessoas no ponto de ônibus, para poder comer e tomar um café, segundo ele. Perguntava se as pessoas tinham 5 centavos para ajudá-lo. Via-se que ele tentava ser discreto e, à medida que as pessoas chegavam, ele ia uma a uma perguntando se tinham algo para dar a ele. Naquele frio todo e com aquela chuva, ali estava um retrato um pouco mais verdadeiro do nosso país, bem diferente da minha realidade, onde eu acabara de comprar um bem de consumo relativamente caro. Ele veio até mim e eu sinalizei que não teria nada para dar a ele. Mas eu acabei de comprar um laptop! Como assim eu não tenho dinheiro? Bem, eu não costumo dar dinheiro para pessoas na rua. Não por falta de solidariedade, mas porque acho que isso não resolve o problema dessas pessoas. Fico com muita pena e, às vezes, reflito se não deveria ter ajudado. Mas nunca se sabe para quê a pessoa vai utilizar o dinheiro, se vai realmente comer ou vai comprar bebidas, drogas, etc. Além disso, se todo mundo der dinheiro, essas pessoas podem achar mais cômodo ficar assim do que tentar encontrar trabalho ou coisa parecida.

Mas, não sei por que, eu ainda fiquei pensando durante um bom tempo se deveria ter ajudado. É complicado. Meu pai sempre disse que não devemos ser omissos. Não sei se era o caso. Racionalmente eu acho que fiz bem, mas emocionalmente minha consciência cristã sempre fica me cobrando. Mas fico sem saber o que fazer nessas situações.

Aquilo mudou meu pensamento na mesma hora. Deixei de lado a empolgação e passei a pensar sobre o quanto nós, muitas vezes, nos vestimos de certa pseudo-sofisticação, talvez proporcionada pelas ilusões que o mundo da tecnologia nos apresenta, e esquecemos que estamos, na verdade, em uma situação privilegiada em nosso país. Sim, embora o Brasil esteja em evidência no mundo, ainda somos um país de muitas carências, que ainda precisarão de longas décadas para serem resolvidas. Eu e, possivelmente, você, somos a “nata” economicamente ativa do país, muito embora o conceito de “rico” seja algo que passe bem longe de minhas posses, realisticamente falando. 

Eu dou valor a isso justamente porque tive uma infância sem luxos, com algumas restrições, mas onde não me faltou nada em termos de amor e valores morais. Meu pai trabalhou muito para adquirir o que tem, que nem é tanto, mas que é bem melhor do que no tempo das "vacas magras" e possibilita a ele ter certo conforto, agora que está aposentado. E eu devo muito da minha formação a isso. Ver o quanto ele e minha mãe davam duro pra manter a casa e criar os filhos, de certa forma, me ajudou a buscar objetivos com mais serenidade. Se eu pude ter melhores condições que ele teve na sua infância, assim espero que meu filho tenha melhores condições que eu. E que assim siga sendo. Essa é ou não é a lógica que se gostaria de ver em uma família?

Aquele rapaz do ponto de ônibus, por mais que fosse gastar tudo o que lhe dessem em algum tipo de vício, estava ali, passando frio, sem ter nem como se proteger da chuva, sem futuro. Sendo ou não um aproveitador, não se pode dizer que estava numa situação confortável. Longe disso. Sinto-me mal com esse tipo de coisa. Eu gostaria que todos pudessem ter as mesmas chances que eu, mas muitos não as têm. É claro que muito é culpa das próprias pessoas, mas também há os que são vítimas da sociedade. Difícil é saber quem é quem. De qualquer forma, sempre é possível tentar resolver a situação, seja por si mesmo, seja procurando ajuda. Aí eu sinto vontade de voltar a trabalhar para a minha comunidade, como fazia na adolescência, na paróquia do meu bairro. Mas a falta de tempo de hoje vem sempre como desculpa. Uma hora eu crio vergonha e volto. Tenho certeza. Preciso disso, de certa forma: poder ser útil além das fronteiras daquilo que me pagam para fazer. Um “obrigado” tem um poder enorme, não raro maior do que qualquer valor monetário que se receba por algo que se faça. 

Nessas horas de choque de realidade é que eu acho que Deus nos dá uma dica, uma oportunidade para enxergarmos com mais clareza e entendermos que não podemos nos iludir com as coisas materiais e que devemos pensar e agir com mais simplicidade e humildade. Mais que isso, é uma obrigação nossa, pessoas ditas cultas, de repassar esses valores de alguma forma para a sociedade. Não devemos perder tanto tempo reclamando, mas sim em ver tudo o que há de bom naquilo que conquistamos, para que possamos seguir conquistando.

E isso se aplica ao nosso dia-a-dia no trabalho. Quando conseguimos sucesso em alguma coisa, saibamos que ele não foi alcançado só pelas nossas mãos. Precisamos compartilhá-lo com aqueles que nos apoiaram e fizeram parte dele. Da mesma forma, devemos pensar melhor nos momentos de frustração, insatisfação ou derrota: antes de reclamar ou lamentar, é bom que tenhamos em mente que nossos problemas são pequenos perto do fardo que tantas outras pessoas têm de carregar. Devemos ser gratos pelas oportunidades que temos e seguir em frente, tentando sempre melhorar como profissionais, e principalmente como seres humanos. É isso que vale. É isso que fica.


Na sua empresa, há pessoas com realidades e origens diferentes. Mas todas elas, seja lá que cargo ocupem, são importantes e devem ser respeitadas, reconhecidas e ouvidas, do porteiro ao diretor. Da faxineira à secretária executiva. Todas contribuem para o sucesso da organização. Um “bom dia” que seja já pode fazer a diferença no dia de uma pessoa. Creio que a sofisticação das ideias está na simplicidade do saber ouvir. E, para isso, você deve enxergar as outras pessoas a partir de um mesmo patamar que o seu. Todas ali têm uma história, todas querem progredir, todas têm dificuldades, talvez maiores do que as suas. O segredo das pessoas de sucesso sempre foi o fato de não ignorarem o que estava à sua volta. Muitas ideias revolucionárias vieram das coisas mais simples. A capacidade de enxergá-las é que faz a diferença. É possível sim que a simplicidade e a sofisticação convivam e produzam bons frutos. Não é um exercício fácil. Mas se a humildade, acompanhada da ação, forem chamadas para compor o quarteto, há mais chances de sair uma boa música.
Tão boa quando a do Ed Motta.


* Adaptação do texto publicado em  31/07/2008