Desde que
Frederick Taylor (1856-1915) escreveu o livro “Princípios da Administração
Científica” (1911), o mundo corporativo vem tentando, ano após ano, buscar a
excelência nos seus processos gerenciais e produtivos. Taylor foi o primeiro a
colocar no papel e chamar de ciência aquilo que observava no dia-a-dia das
empresas daquela época. Muito do que se tem hoje na administração em termos de
conteúdo advém das ideias tayloristas.
Obviamente que o mundo mudou muito de lá para cá e a ciência da administração mudou
igualmente. Impossível pensar hoje em uma empresa que siga a cartilha de Taylor
nos seus processos.
Se bem que,
em alguns lugares, ainda se observam funcionários sendo tratados como bois,
como ele mesmo mencionava...
O fato é
que ele foi o pioneiro em estudar e documentar o tema e buscar a melhoria da
produtividade com parâmetros claros (ao menos, para a sua época). Pouco tempo depois, Fayol (1841-1925),
publicou “Administração Industrial e Geral” (1916), mais focado na organização
estrutural da empresa. Sua obra ficou conhecida como “Teoria Clássica da
Administração” e, junto com a obra de Taylor, formaram as bases da
administração moderna, matéria que se estuda já nos primeiros semestres da
faculdade.
Depois
disso, o mundo nunca mais foi o mesmo. A busca por processos mais eficientes
passou a gerar diversas novas teorias e descentralizar a administração em
diferentes áreas de foco. Não bastava apenas aperfeiçoar os conceitos e as
estruturas das empresas, era preciso atingir os processos produtivos, pois era
deles que se extraíam as receitas. Começaram a surgir, assim, as metodologias e
os processos de trabalho.
Particularmente,
sou um entusiasta, não das metodologias e processos em si, mas dos resultados e
dos cases de sucesso que apresentam. Sempre
fui muito curioso em conhecer a forma como as empresas conseguiram melhorar seu
negócio. Possivelmente, este é um dos motivos pelos quais fiz a faculdade de
Administração. Gosto muito de estudar a respeito.
A indústria
passa, desde os tempos de Taylor e Fayol, por diversas fases, onde determinados
processos ou metodologias estão em voga. O curioso é ver como cada um vai
tentando melhorar o anterior, sempre na intenção de ser o mais apropriado para
as necessidades do mercado atual. Alguns deles foram bastante marcantes, como o
Sistema Toyota de Produção, usado largamente até hoje nas linhas de montagem,
por apresentar um conceito de produção enxuta, sem estoques, e ferramentas como
o Kanban, por exemplo. Também tivemos a fase da Qualidade Total, com sua
metodologia dos 5S’s. Muitas empresas mantêm grupos de QT até hoje como parte
de sua filosofia de trabalho.
Mas não foi
só a linha de produção que viu as coisas mudarem. Além do chão de fábrica, a
recente indústria da TI também já passou por algumas fases distintas em termos
de “como” fazer as coisas. Especialmente falando de software, já se viram
modelos como o desenvolvimento em cascata, o de processos interativos, padrões
como CMM e CMMi, métodos formais, metodologias ágeis, etc. Às vezes é até
difícil saber o que é processo e o que é metodologia ou se há diferença entre
eles, tal a forma como as coisas se fundem ou se complementam, já que alguns
até ocorrem ao mesmo tempo. Por isso, eu prefiro utilizar o termo “ferramentas
gerenciais”, mesmo que pareca muito genérico.
Mas o foco
deste post não é exatamente discorrer
a respeito de qual método, processo ou sistema produtivo utilizar e quais são as
características de cada um. Desculpe se você leu até aqui pensando nisso. Sinto
desapontá-lo. Toda essa explicação e contexto histórico estão aqui mais para
demonstrar que a busca por um produto ou serviço vem de muito tempo. Estamos
realmente evoluindo e tendo produtos e serviços melhores do que antes. Disso
ninguém tem dúvidas, ainda que exista a obsolescência programada na maioria das
indústrias.
Diferente
de muitos, eu não defendo ferrenhamente o uso desta ou daquela metodologia ou deste
ou daquele processo. Todas essas ferramentas gerenciais podem ser muito boas,
mas também têm lá suas falhas. Saber tirar o que cada uma tem de melhor é mais
importante do que insistir burramente em conceitos que não se aplicam em determinadas
situações práticas. É preciso aprender a lidar com diferentes ferramentas dessas
durante a carreira. É bem comum nas empresas de TI a troca de uma metodologia
por outra, ou de uma abordagem por outra. Nessas horas, a flexibilidade do
profissional tem um papel importante. Não adianta se recusar a utilizar uma
nova metodologia só porque ela não lhe parece a mais adequada academicamente
falando. Na vida real, por vezes temos de abrir mão de algumas teimosias teóricas
em prol da satisfação do cliente ou da resolução de algum problema mais sério.
Aquilo que você aprendeu nos bancos da faculdade nem sempre cobre todas as
situações possíveis e você tem de aprender a lidar com isso. Já vi gente perdendo
o emprego por não ter essa flexibilidade.
Atenção:
isso não significa abrir mão daquilo em que você acredita. Não estamos falando
de valores pessoais, apenas de habilidade para encontrar a melhor solução.
Ficar preso
a um processo ou metodologia específica e transformar isso na única verdade existente não é a
melhor solução. Muitas lacunas podem ser preenchidas consultando processos
considerados antigos ou de vanguarda em relação aos atuais que você utiliza. A
metodologia do momento pode ser a melhor para muitas situações, mas pode não
funcionar em outras. Por isso, não adianta tentar enfiá-la goela abaixo se os
processos do outro lado (leia-se do cliente) não suportarem, por exemplo. No fim das contas, o que vai aparecer para o
cliente não é a metodologia ou o processo que você usa, mas aquilo que você
entrega.
Tenho visto determinadas empresas de TI serem contratadas como fornecedoras de serviço
muito mais pela qualidade do trabalho que realizam e pelo seu histórico do que
pelo tipo de metodologia ou processo que empregam. Alguns contratantes preferem
empresas que são conhecidas por terem os colaboradores mais felizes do que por
terem uma determinada certificação. O modelo linear que considerava apenas a
questão técnica como base para o crescimento não existe mais. Hoje em dia uma empresa precisa ser
reconhecida na sua integralidade e não apenas conhecida pelos certificados
pendurados nas paredes.
Ao mesmo tempo, noto uma direção diferente sendo tomada: parece que esse mesmo mercado de TI, em determinados momentos, demonstra dar mais ênfase em divulgar
as metodologias que usa do que em mostrar resultados práticos produzidos
por elas. E é aí que reside a minha preocupação.
É claro que
o uso de metodologias é importante. Eu não disse que não são. Ao contrário,
falei que sou entusiasta delas. São elas que movem e organizam o trabalho. Há
empresas de TI que focam em trabalhar apenas com projetos que usem
determinada metodologia de desenvolvimento. O caso é que de nada adianta você
conviver conceitualmente com a mais avançada tecnologia em gestão de processos
se você não surpreender o cliente e entregar um produto ou serviço que o faça
permanecer na sua carteira no longo prazo. Metodologias, processos e abordagens
estão sempre mudando e você deve adaptar-se a cada uma delas no decorrer da sua
carreira. E é exatamente por essa dinamicidade toda que o foco precisa estar primeiramente
na qualidade, seja lá qual for o tipo de ferramenta gerencial que você estiver utilizando.
O recado
aqui é bem simples: tenha em mente que a ferramenta gerencial com a qual você
trabalha no momento não é perfeita e que você pode sim utilizar exemplos de
outros processos ou metodologias para encontrar as soluções das quais precisa. Com
flexibilidade, encontra-se um jeito para quase tudo. Já para o trabalho mal
feito, nem sempre é possível ter uma segunda chance de impressionar o cliente.
O trabalho
bem feito ainda é a melhor metodologia que existe. Eu acredito nisso. E você?
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