O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os 5 Álbuns de Rock que Todo Mundo Devia Ouvir Antes de Morrer

O mundo mudou e, com ele, muitas outras coisas. Uma delas, devemos concordar, foi a indústria da música. Já se vai o tempo onde vender disco era a principal fonte de receita dos artistas. Desde que a música se digitalizou, popularizando o mp3 e, com ele, a pirataria, as coisas não são mais as mesmas. Pirataria sempre existiu, mas a internet tornou ela mais fácil e acessível. Mesmo as formas legais de comércio digital, como o iTunes, não tiveram piedade do pobre do disco. Ainda há lançamentos em CD, claro. O velho vinil, por incrível que pareça, está ressurgindo em alguns mercados de nicho. Mas a forma mais popular hoje é, sem dúvida, a música digital.

E tem suas razões para sê-lo. Com um pequeno tocador de mp3 você já consegue armazenar e transportar milhares de músicas, coisa que nos tempos dos toca-discos, toca-fitas e até mesmo CDs era impossível. Ainda tem gente que prefere as mídias antigas. Embora os ouvidos de 90% da população não percebam a diferença, há aqueles que defendem a tese de que nada se compara em qualidade ao som do vinil. Pode até ser, mas é preciso um aparelho muito bom para não ouvir os tradicionais chiados dos discos antigos. Disso eu não sinto falta, embora concorde em parte quanto à questão técnica da coisa.

Inegavelmente, é muito mais prático hoje em dia. Se não fosse o mp3, o cartão de memória, o meu smartphone e os fones bluetooth, eu jamais conseguiria levar para qualquer lugar as milhares de músicas que tenho armazenadas. É uma beleza mesmo. 

Só que tem um ponto que a tecnologia não conseguiu substituir: a identidade visual dos discos. Essa era a parte mais legal de você comprar um. Você chegava da loja, desembrulhava o vinil e tinha uma capa, simples ou dupla, que identificava unicamente aquela obra. Era parte da concepção artística. Dava alma ao álbum. Fazia com que fosse possível "ver" as idéias ali expressadas. Ainda tinha o encarte interno, com as letras das músicas, fotos, etc. Comprar um disco era uma experiência. Admira-me como a Apple, que sabe como ninguém sobre experiência do consumidor, ainda não tenha desenvolvido um jeito pra isso. Ou outra empresa, que seja. O fato é que isso se perdeu com o tempo. Ainda lembro-me das discussões ferrenhas com amigos, onde filosofávamos acerca de algumas capas de discos. Dessa parte eu sinto falta, com certeza.

Os discos ainda tinham um algo mais que se perdeu: o fato de terem dois lados. Normalmente, o lado A de um disco continha as músicas de trabalho e/ou as mais comerciais, aquelas enviadas para as rádios para a divulgação inicial. O lado B era mais experimental, onde os artistas tentavam criar as obras mais de acordo com gostos pessoais, tentar novos conceitos, instrumentos, arranjos, etc. Muitos álbuns eram concebidos tendo essa diferença sendo o seu direcionador. A escolha da ordem das músicas levava isso em conta também. O Vinil e o K7 ainda tinham essa separação. O CD acabou com a brincadeira. E o mp3 acabou com o CD e com o conceito de álbum. Essa é a parte chata.

Todo esse baita falatório aí em cima foi só pra contextualizar o propósito deste post. Como muitos devem saber, eu sou um amante do bom e velho Rock and Roll, e acho que a geração atual está perdendo muito em termos de conteúdo nas músicas, não só no Rock, mas em geral. Assim como a música ficou mais acessível, também os músicos ficaram mais acomodados. Parece que os roqueiros estão com preguiça de pensar. Ou então não têm mais no que se inspirar. Nem as letras nem os arranjos parecem dizer algo de útil. Pode ser nostalgia da minha parte, mas não vejo exemplos que demonstrem o contrário.

Mas enfim, o ponto principal é que o disco tinha o poder de perpetuar as obras dos músicos. E, dentre tantos discos clássicos do Rock, eu listaria cinco deles que todo ser humano deveria ouvir ao menos uma vez na vida. São consideradas as obras-primas de seus autores e estão na minha lista de preferidos. Escolhi cinco porque acho um número suficiente para coisas preferidas em cada área. Mais do que isso não é preferência, e sim uma mera listagem de coisas das quais se gosta. Curiosamente e por acaso, depois de um tempo eu descobri que meus cinco discos de rock favoritos estão entre os dez melhores da história, de acordo com o Rock AndRoll Hall of Fame, da Revista Rolling Stone, que lista um total de duzentos. Ou seja, minhas dicas não são nada furadas, elas têm um bom embasamento e contam com o suporte relevante da opinião pública (risos).

Vou listar apenas discos internacionais, mas prometo fazer uma lista nacional um dia desses para postar aqui. Não vou me alongar muito nas descrições de cada um. Para isso, há links nos respectivos títulos, que apontam para a Wikipedia. E também, se eu falar tudo, vai tirar a vontade de muitos em procurar saber mais a respeito de cada obra. E a idéia é justamente instigar você, querido leitor, a ter a curiosidade de buscar mais informações. Os discos estão organizados por ordem de lançamento, não de preferência. Então, você que ainda não ouviu nenhum deles, ouça e aprenda como é que se faz rock de verdade. Se possível, consiga o disco ou CD, para entender como uma capa pode expandir a compreensão da percepção dos artistas ali registrados e fazê-lo visualizar a obra como um todo.


Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967): Sem dúvida, o melhor disco dos Beatles. Para muitos (muitos mesmo) é considerado o melhor disco da história. Não por acaso, está em primeiro lugar na lista do Hall of Fame. É um divisor de águas na carreira da banda de Liverpool. A Beatlemania  estava enfraquecida, eles não queriam mais fazer discos ao estilo iê-iê-iê. Deram uma pausa nas turnês e puderam, pela primeira vez, ter tempo suficiente para se dedicar a um novo álbum. Ao ser lançado, inovou tanto em técnicas de gravação quanto em sonoridade, usando instrumentos poucos comuns para a época. Para se ter uma idéia da dimensão dessa obra, praticamente todos os discos aí abaixo tiveram ou usaram conceitos deste aqui. Por isso ele está no topo. Ele também ficou famoso por ter as músicas todas como sendo sequências umas das outras e pela própria capa, repleta de fotos de celebridades, e que gerou diversas teorias de mensagens subliminares, incluindo a de que Paul McCartney havia morrido. Curiosamente, dois grandes sucessos da banda ficaram de fora do disco. Strawberry Fields Forever e Penny Lane originalmente fariam parte dele, mas acabaram entrando apenas no álbum seguinte. Porém, até hoje parecem nunca ter saído de lá, tamanha sua integração com as demais canções.

Músicas:

Lado A
1. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"  
2. "With a Little Help from My Friends"      
3. "Lucy in the Sky with Diamonds"      
4. "Getting Better"      
5. "Fixing a Hole"      
6. "She's Leaving Home"      
7. "Being for the Benefit of Mr. Kite!"      

Lado B
1. "Within You Without You"      
2. "When I'm Sixty-Four"      
3. "Lovely Rita"  
4. "Good Morning Good Morning"  
5. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)"  
6.
"A Day in the Life"      



Led Zeppelin IV (1971): Esse álbum tem uma importância muito grande para o rock porque deu a ele clássicos que até hoje tocam nas rádios. Ok, isso todos os discos dessa lista fazem. Só que esse aqui tem algumas particularidades. Se o Sgt Peppers foi o melhor disco da história, o quarto álbum do Led Zeppelin tem aquela que é considerada a melhor canção de rock da história: Stairway to Heaven. Todo mundo que toca violão aprende o solo dessa música desde as primeiras aulas. O disco está no quarto lugar do Hall of Fame. O lançamento também teve seus fatos inusitados. Imagine que você seja uma banda famosa e lance um álbum sem título, cuja capa tem apenas fotos e quatro símbolos, um representando cada integrante. Nem o nome da banda aparece. Pois é, esse é o caso. E isso deve ter sido um dos fatores que criaram toda a mística do disco e o fizeram ser um recordista de vendas, elevando o Led Zeppelin ao status de superbanda, com todos os excessos a que isso tem direito. Ele sequer tem um nome oficial até hoje, sendo conhecido por pseudônimos como "Zoso" (que parece ser a palavra escrita no primeiro símbolo), "Four Symbols" ou simplesmente "Led Zeppelin IV". Até os catálogos têm dificuldades de listá-lo por conta disso. Eu prefiro a última denominação. O disco é repleto de clássicos, tem o melhor do Hard Rock, com uma qualidade musical incrível, de uma das bandas mais incríveis.

Músicas:

Lado A

1. "Black Dog"
2. "Rock and Roll"
3. "The Battle of Evermore"
4. "Stairway to Heaven"

Lado B
1. "Misty Mountain Hop"
2. "Four Sticks"
3. "Going to California"
4. "When the Levee Breaks"




Dark Side of the Moon (1973): O que dizer de um álbum que contém canções que exploram malesas humanas como dinheiro, tempo, loucura, morte, etc. se tornar um dos mais vendidos da história? Mais do que isso, este disco tem uma sonoridade inigualável, experimentações inéditas até então, com direito até a pitadas de música eletrônica. Em 1973! É a masterpiece do rock progressivo, sem questionamentos. Também mudou tudo o que se ouvia falar do Pink Floyd. Os caras viraram gênios da noite para o dia, plenamente justificado, diga-se. É um disco onde o instrumental é o protagonista, até as vozes parecem melodia. Ocupa a segunda posição do Hall of Fame. Depois dele, muita gente passou a mudar os parâmetros de audição musical, inclusive para as passagens de som de shows. Quer testar a fidelidade de qualquer aparelho de áudio? Coloque este disco para tocar! É daqueles álbuns que eu chamo de "chapantes". Você ouve e fica meio aéreo. Experimente ouvi-lo sozinho, num lugar silencioso e com bons fones de ouvido. Vai entender o que eu digo... Embora a capa seja das mais famosas, talvez o fato mais interessante seja a suposta sincronia do disco com o filme "O Mágico de Oz", de 1939. A banda sempre negou essa relação, mas é notório que tem caroço nesse angu. Ou melhor, tem coincidências demais. Na internet é possível encontrar a versão do filme sincronizada com o disco. Você certamente vai se surpreender. Com o disco.

Músicas:

Lado A
1.
"Speak to Me/Breathe"
2. "On the Run"
3. "Time/Breathe (Reprise)"
4. "The Great Gig in the Sky"

Lado B
1. "Money"
2. "Us and Them"
3. "Any Colour You Like"
4. "Brain Damage"
5.
"Eclipse"



The Joshua Tree (1987): Se o U2 é uma das bandas mais ricas do planeta, muito ela deve a este disco. Diferente de outros álbuns clássicos, não há nenhuma mística envolvendo este. A árvore que dá título à obra é uma planta que nasce no deserto, resistente ao calor e ao frio que faz à noite. Também tem simbolismos bíblicos, mas o nome foi usado apenas artisticamente, não tem um significado específico. O disco é famoso e vendeu muito porque tem ótimas músicas. Antes dele, o U2 era uma banda que fazia músicas com alguns temas políticos e sociais. Continuou sendo, mas, depois dele, virou o que vemos hoje: uma superbanda moderna. O disco é uma espécie de crítica aos EUA do período Ronald Reagan. Fala das duas Américas que eram visualizadas: a América mítica, da liberdade, e a real, das restrições políticas e da ganância dos políticos. Até hoje é considerado o melhor álbum do U2, estando também na quinta posição do Hall of Fame dos discos definitivos do rock. Foi justamente por causa deste disco que eu comecei a acompanhar a obra deles mais de perto. A curiosidade é que um dos maiores hits, "With or Without You" quase foi descartada por ser considerada simples demais. Imagina só se isso tivesse realmente acontecido. É daquelas coisas pequenas que podem mudar toda uma história apenas por um detalhe. Que bom que não mudou.


Músicas:
Lado A
1. "Where the Streets Have No Name"  
2.
"I Still Haven't Found What I'm Looking For" 
3. "With or Without You"      
4. "Bullet the Blue Sky"  
5. "Running to Stand Still"
 
Lado B
1. "Red Hill Mining Town"  
2. "In God's Country"   
3. "Trip Through Your Wires"
4. "One Tree Hill"       
5. "Exit"   
6. "Mothers of the Disappeared"




Nevermind (1991): Este é apenas o segundo álbum de estúdio do Nirvana, mas teve o efeito de um tsunami no mundo do rock no início dos anos de 1990. Ele foi responsável por trazer o movimento grunge aos holofotes definitivamente. O disco tem aquela que é considerada a melhor capa de todos os tempos, mas bom mesmo é o som variado e agressivo que ele tem. Eu gosto de outras bandas do mesmo estilo, como o Pearl Jam, mas este disco é de uma grandiosidade que não chegou a nenhuma outra banda de Seatle. Estourou nas paradas rapidamente e seu sucesso meteórico acabou por causar toda uma pressão em quem ainda não estava acostumado a lidar com ela. A pressão da fama obtida por esse trabalho é considerada uma das causas do suicídio de Kurt Cobain. Mas essa é outra história. Esse disco é épico porque acabou com a mesmice que estava se tornando o rock na época. Quebrou paradigmas. Instrumentalmente muito bem concebido, é possível sentir toda a sua energia meio depressiva ao ouvi-lo. É o único disco dos anos 1990 que está entre os dez mais do Hall of Fame (é o décimo, exatamente). Kurt achava que podia mudar o mundo. Ao menos, conseguiu mudar o rock. Pena que hoje as coisas parecem estar se acomodando de novo. Estamos precisando de um novo Nirvana.


Músicas:
Lado A
1. "Smells Like Teen Spirit"
2.
"In Bloom"
3. "Come as You Are"
4. "Breed"
5. "Lithium"
6. "Polly"
 
Lado B
1. "Territorial Pissings"
2. "Drain You"     
3. "Lounge Act" 
4. "Stay Away" 
5. "On a Plain" 
6. "Something in the Way"




Bem, espero que tenham gostado da lista. Obviamente tem muitos outros discos legais, mas eu listei aqueles dos quais eu mais gosto. Fiquem à vontade para comentar e dar suas opiniões. Essa é a minha lista. Faça você a sua também! Ah, e lembram-se do que eu falei no início do post, de que as músicas de antes tinham mais conteúdo e melhor arranjo? Eu dei uma outra olhada na lista do Hall of Fame e percebi que não há, nem entre os dez, nem entre os vinte primeiros, um disco sequer que tenha sido lançado de 2000 para cá. Por que será, hein?





segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ao Sair, Deixe a Porta ABERTA


É bastante comum, em fases de transição nas empresas, vermos uma quantidade grande de pessoas sendo dispensadas ou indo embora por conta própria, em busca de oportunidades melhores. E eu observo que as pessoas saem ou "são saídas" com pensamentos bem diferentes, inclusive entre aquelas que vão pelo mesmo motivo. É incrível como as pessoas reagem e os sentimentos que elas demonstram nesses casos. Umas saem tristes, porque não queriam sair por algum motivo. Tem as que saem furiosas, porque acharam uma injustiça terem sido demitidas. Outras saem com medo, porque não esperavam pela demissão e agora não sabem como proceder ou se conseguirão outro emprego logo. Há também aqueles que simplesmente ignoram o fato e nem se preocupam, pois possuem outras rendas e essa não é uma prioridade. Enfim, descrever todos os estereótipos aqui é quase impossível, tamanha a sua variedade. 

Quando se fala em trabalho em TI, precisamos levar em conta o tamanho do mercado. Em se tratando do mercado gaúcho (mais especificamente da Região Metropolitana de Porto Alegre, onde concentram-se a maioria das empresas de TI de ponta), pode-se dizer que ele é, de certa forma, "pequeno". A variedade de empresas não é tão grande como no caso de São Paulo, por exemplo. E, nessa fase de aquecimento da economia, você pode passar por várias empresas durante os anos, muitas vezes reencontrando pessoas que trabalharam com você em outras oportunidades. Eu mesmo já passei por essa experiência algumas vezes e tenho certeza de que, mais cedo ou mais tarde (ou pelo menos enquanto eu estiver trabalhando no RS), isso vai acontecer de novo.

Não menos impossível é você retornar para uma empresa na qual já trabalhou e que gostava de trabalhar. Essa dinâmica maluca hoje em dia é mais comum do que se pensa. Bem diferente daquela filosofia oriental que algumas empresas adotavam até o início dos anos 90, onde você trabalhava 30 anos no mesmo lugar e jamais pensava em sair. A estabilidade era quase garantida. Meu pai, por exemplo, ficou mais de 20 anos na mesma empresa, até se aposentar. Isso é quase impossível de se ver atualmente, ainda mais em mercados que mudam constantemente. Li em uma dessas revistas empresariais  que a média de tempo que um funcionário passava em uma mesma empresa era de cerca de 15 anos na década de 80, passando para menos de 8 anos nos dias atuais. E se formos filtrar apenas a área de TI, essa média baixa drasticamente. Eu chuto que deva ser de uns 2 a 3 anos. Com toda essa mudança de contexto, me pergunto diariamente como lidar com esse mundo.

Se você conversar com consultores especializados, provavelmente irá ouvir as velhas máximas do "mantenha-se sempre atualizado", "estude sempre", etc. É óbvio que isso é importante. Eu diria que é fundamental. Outra questão a se considerar é bem conhecida e está relacionada ao seu networking, ou seja, a sua capacidade e quantidade de relacionamentos com outras pessoas que possam indicar seu trabalho para outras empresas. Parece estranho, mas esse pode ser um diferencial entre você e outro candidato. 


Mas, entre todos esses fatores, existe um que pouca gente menciona nas revistas ou palestras e que é sim muito importante para encarar tudo isso. Esse fator consiste no "como" você sai de uma empresa. É um tipo de coisa que só a experiência vai ajudando a gente a perceber. Você pode sair de uma empresa deixando portas abertas ou fechadas. Vamos observar as duas situações.

Comecemos então pelas portas fechadas. Se você já trabalhou em algum lugar onde não se sentia bem ou não estava satisfeito, é bem provável que, aos sair de lá, tenha sentido vontade de falar tudo o que queria sobre a empresa durante a famosa entrevista de desligamento, certo? Tem gente que lava a roupa suja mesmo, coloca à tona todas as suas frustrações. Você poderia estar insatisfeito bem antes de sair e isso pode até ter influenciado no seu desempenho. Se seus gerentes tiverem notado isso, pior: você poderá sair deixando uma má impressão. E se você "chutar o balde", como fez a Jane, nem se fala. É quase certo que as portas naquela empresa se fecharão pra você e, pelo menos enquanto seus conhecidos estiverem ali, você não terá um bom conceito entre eles, e um eventual retorno será muito difícil de acontecer. 


Da mesma forma, pessoas que trabalharam com você e foram para outras empresas poderão levar consigo esse conceito e poderão disseminá-lo. Isso parece meio cruel, mas, nos bastidores, é o que acaba acontecendo. É a disfunção do networking, ou networking negativo. Você terá de trabalhar muito para mudar essa imagem ou então, por exemplo, migrar para outro mercado onde você não seja conhecido e, obviamente, tratar de corrigir os problemas anteriores.

Mas para quem consegue manter a tranquilidade, mesmo nos momentos ruins e de insatisfação e age com maturidade nesses casos, é possível que o cenário seja diferente. Se você sempre fez um bom trabalho e se preocupou em ser sincero sem ser estúpido ou sem provocar nenhum problema para a empresa, há boas chances de você retornar àquela companhia no futuro. Mais do que isso, você cria o networking saudável e positivo, onde as pessoas recomendam você onde elas estiverem. Não é fácil pensar dessa forma. Eu mesmo levei algumas pancadas até perceber que não vale a pena gerar certos conflitos. Ao contrário, deixar uma boa impressão por onde você passa é muito bom para seu futuro profissional. Mas atenção: quando falo em deixar uma boa impressão, estou dizendo que isso deve vir através de um trabalho sério e bem feito, de méritos reais e de suor. Bajulação, fingimento e assemelhados estão dispensados desse conceito. Competência sim é a palavra-chave aqui.

Acredite, nós só percebemos o quanto isso é bom no momento em que saímos e quando a entrevista de desligamento é repleta de elogios e de sinceras intenções de que a empresa gostaria de um dia contar com você novamente. E se você repassa isso por onde você vai, as chances de você estar sempre no mercado, aprendendo e vivendo novas experiências é muito maior. Por isso, pense bem nas suas atitudes. Nunca deixe de brigar pelo que quer, mas saiba fazer isso com maturidade e méritos, pois seu comportamento pode influenciar no seu futuro mais cedo do que você imagina.



 *Adaptação de texto escrito em 25/08/2008


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Dica de Leitura: Livro "Rockers"



Já pensou em como serial legal ser um fotógrafo e ter trânsito livre entre as maiores lendas do rock mundial, podendo documentar tudo o que se passava nos bastidores durante quase cinco décadas? Pois é, Bob Gruen é um desses sortudos. Tanto, que alguns o consideram uma lenda do rock, mesmo sem nunca ter tocado em banda nenhuma. Dizem também que um cara é fera quando o seu trabalho é mais conhecido do que ele próprio. Pra quem é do meio e/ou gosta de rock, certamente Bob é bem conhecido. Mas, mesmo quem nunca ouviu falar dele, certamente já deve ter visto uma de suas fotos. 

Quem não se lembra daquela imagem de John Lennon, em frente à Estátua da Liberdade, fazendo o sinal de "paz e amor" com a mão? Essa famosa foto foi tirada poucos anos antes de Lennon ser assassinado. Até eu tenho uma foto lá fazendo a mesma pose... Bobo, aliás, era fotógrafo particular de Lennon quando este se mudou para Nova Iorque, no começo dos anos de 1970. Por isso, boa parte da mostra é dedicada a fotos do ex-Beatle. Tem também aquela do Led Zeppelin ao lado de seu Boeing particular, coisa extremamente grandiosa para a época (se bem que ainda hoje poucas bandas tem um desses). Não podemos esquecer a clássica imagem do Sid Vicious lambuzando-se enquanto comia um cachorro-quente. Lembrou? Pois todas elas são obra de Bob Gruen. 

O livro-álbum "Rockers" surgiu de uma exposição mundial que foi editada no Brasil em 2007, no Museu de Arte Brasileira da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), durante a comemoração dos 60 anos da entidade. O curador da mostra, acreditem, foi o Supla, amigo pessoal do fotógrafo. Na exposição era possível visualizar um pouco do que Bob viu e clicou durante todos os seus anos de backstage. As fotos foram divididas em seções, que também estão representadas no livro. As obras vão desde fotos mais elaboradas até aquelas quase impublicáveis. Não faltam registros de ensaios, shows, bastidores, festinhas, etc. Tem até groupies com seios à mostra. Se bem que, pelo rock e pela natureza das obras, fica mais legal dizer que eram “putas com as tetas de fora”. Ao menos acho que um roqueiro assim escreveria.

O livro tem páginas grandes, é pesado, ricamente ilustrado e tem dois lados ou capas. De um lado, a capa mostra Lennon e contém fotos em miniatura, demonstrando como estava organizada a exposição e como as obras estavam dispersas nas paredes. É como se fosse um resumo do que tem no livro e, portanto, é uma parte mais curta, com poucas páginas. Tem até uma planta baixa da galeria, com a localização das respectivas seções. Do outro lado, e de cabeça para baixo, a capa é a foto de Sid Vicious que mencionei há pouco. No conteúdo tem basicamente as mesmas fotos da outra parte, porém em tamanho grande. Logicamente, ao chegar ao fim de uma parte, você tem de virar o livro de cabeça para baixo para continuar lendo a outra. 

É um ótimo livro pra quem gosta da história do rock. E por ser mais ilustrado do que escrito, é do tipo que você vai ler inúmeras vezes. Acreditem ou não, ganhei ele de presente de casamento, há alguns anos. E adorei, justamente por gostar das coisas relacionadas ao tema. É um daqueles dos quais nunca vou me desfazer. No máximo, emprestar.


Dados do livro:
Título: Rockers
Autor: Bob Gruen
Editora: Cosac & Naify
Páginas: 220




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Foto-legenda: O Gigante do Oeste



O US Bank Tower é o maior prédio do lado Oeste dos Estados Unidos, com 73 andares e cerca de 310m de altura. É realmente imponente, ajudado pela localização, na parte alta do centro de Los Angeles. Por ficar na rua da biblioteca da cidade (quase em frente, pra ser mais exato), também é conhecido como Library Tower. E é uma obra gigantesca, especialmente quando se está a seus pés e se olha para cima. Dizem que era parte dos planos dos terroristas atacá-lo em 11 de Setembro de 2001.

Por estar num ponto alto da cidade, ele parece ser maior ainda. Num fim de semana de folga do trabalho, resolvi dar uma volta pelo centro à noite. Como era perto do hotel (podia vê-lo da minha janela, a duas quadras), não foi muito difícil. Na verdade, saí pra jantar e acabei resolvendo dar uma volta. Foi quando me deparei com a cena acima, ao passar pela biblioteca. Não pensei duas vezes em registrá-la.

Estava anoitecendo, e o efeito das luzes deixou o visual ainda mais bonito. Era impossível fazer o prédio inteiro caber na foto, mas isso só deixa ainda mais evidente o tamanho dessa bela obra da engenharia moderna, especialmente por estar localizada em uma região do planeta que é suscetível a terremotos.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Dica de Leitura: Livro "Imagens da Organização"



Já comentei sobre este livro em outros blogs. Portanto, nada melhor do que sugeri-lo aqui. "Imagens da Organização", de Gareth Morgan, é um livro que todo mundo deveria ter em casa. É adequado principalmente para quem exerce funções/cargos de gerência ou liderança. Mas também é, digamos, acessível a todos os "níveis" profissionais da empresa. O autor trabalha com metáforas que ajudam a compreender as empresas como organismos complexos, utilizando vários pontos de vista diferentes.

Ao procurar por ele, fique atento: O livro tem duas versões. Uma de capa preta e essa aqui, de capa branca, que é mais completa. Até hoje não descobri quem foi o "gênio" do marketing que achou que seria interessante ter duas versões do mesmo livro. Vai entender...

Particularmente eu gosto bastante do capítulo que relaciona a empresa à "Caverna de Platão" e de outro que trata a organização como um sistema político, onde podemos ver que, dentro do local de trabalho podemos ter situações bem similares às que encontramos em nossa sociedade. Este pode ser tranquilamente o livro de cabeceira de qualquer pessoa. Vale a pena, pois ele tem toques de filosofia e antropologia que são muito interessantes. Fica aí a dica para quem quiser entender um pouco as razões pelas quais as empresas se comportam, nas suas várias faces.

Dados do Livro:
Título: Imagens da Organização
Autor: Gareth Morgan
Editora: Atlas
Páginas: 421

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.


A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes. Mais que um simples clichê de propaganda de uísque, essa frase faz todo o sentido quando se fala de música, especialmente. Músicas clássicas de Beethoven, Bach, Vivaldi, dentre tantas outras composições seculares, são prova irrefutável disso. O tempo passa, mas elas sempre se fazem presentes, sempre estão aí para serem lembradas. E estão porque marcaram de tal maneira suas épocas que os pais as repassaram para os filhos, até os dias contemporâneos. 

Será possível que o Rock alcance tal proporção? Eu e você provavelmente nunca saberemos, mas nossos tataranetos talvez saibam. Uma coisa é certa: algumas músicas são tão conhecidas que, só por terem seus títulos pronunciados, são capazes de reconhecimento quase instantâneo. São, portanto, candidatíssimas à perpetuidade. Não há como “Stairway to Heaven”, “Yesterday”, “Bohemian Rhapsody”, entre outras, não se tornarem eternas, assim como seus intérpretes originais. E por quê? Porque são ótimas, ora essa! 

O Brasil também tem seus ídolos eternos: Tom, Elis, Chico, Vinícius... Mas estamos falando de rock, não é mesmo? Bem, aí nós podemos citar Raul, Cazuza e muitos outros. Só que talvez nada se compare, no rock brasileiro, à Legião Urbana. Uma banda que foi (e ainda é) capaz de realmente influenciar uma geração inteira e arrastar multidões de seguidores. E quando eu falo de realmente influenciar, o digo em termos de sentimento, atitude, personalidade. Tive muita sorte de ser adolescente naquela época. 


 
E porque a Legião é tão cultuada? Simples: As músicas diziam o que queríamos ouvir, ou então falavam sobre experiências que eram comuns a muitos de nós. Havia toda essa identificação, como ainda há naqueles que estão descobrindo a banda agora. As coisas mudaram muito da década de 1980 pra cá, é verdade, mas nem tudo mudou. Letras como “Que país é Esse”, “Perfeição”, “Vento no Litoral”, “Metrópole”, “Índios”, continuam a fazer sentido como se tivessem sido escritas ontem. Um colega disse esses dias: “- Ah, isso é saudosismo. Já vi pesquisas onde se comprova que tendemos sempre a achar que a nossa geração é melhor do que as que passaram”. 


Pode até ser, em certos casos. Mas com música é diferente. Não venham me dizer que “Delícia, delícia, assim você me mata. Ai, se eu te pego, ai, se eu te pego” é melhor do que “Sei o que devo defender, e, por valor, eu tenho e temo o que agora se desfaz”. A belíssima letra de “Metal contra as Nuvens”, aliás, fala sobre um cavaleiro medieval e sua luta nas cruzadas. Como o próprio Renato Russo dizia, esse é o tipo de coisa que você só vai ver na Legião. E realmente não se viu nada parecido no Brasil desde então.

Renato começou a cantar, dito por ele, achando que era punk. De fato, não era mesmo. Seu pai era funcionário público do Banco do Brasil e, por conta disso, Renato viveu parte da infância em Nova Iorque, EUA. Não tinha origem punk nessa história. Ademais, a temática de sua poesia e o conteúdo de suas letras mais lembravam antigos menestréis ou algumas bandas de heavy metal do que propriamente Ramones ou Sex Pistols, embora ele fosse fã de ambas. Tanto, que escreveu um artigo (sob um pseudônimo) para o Melody Maker, à época da morte de Sid Vicious. Mas vai dizer a ele que ele não era punk... Como eu mencionei, ele achava que era. Criou uma banda com o nome de Aborto Elétrico, origem da Legião e do Capital Inicial, promoveu shows e quebra-paus homéricos, daqueles de causar inveja a muito adolescente revoltado do underground londrino. Vêm dessa época boa parte das composições da Legião e do Capital, como “Faroeste Caboclo”, “Música Urbana”, “Fátima”, etc. Mesmo com o fim da banda, ao apresentar-se como “O Trovador Solitário”, já menos revoltado, ele produziu obras-primas como “Eduardo e Mônica”, um dos maiores sucessos da Legião.


 
Era um gênio como letrista. Um dos três maiores do Brasil, na minha modesta opinião (os outros dois são Chico Buarque e Raul Seixas). Porém, suas composições em nada seriam válidas sem a emoção com que as interpretava. Certa vez, Dado Villa-Lobos disse que Renato era capaz de cantar um simples “parabéns a você” e fazer você chorar no final, tamanha a sua capacidade de contagiar as pessoas. Era muito confiante. Dava-se ao luxo de ditar "ordens": pedia que ouvíssemos seus discos no volume máximo e era prontamente atendido. Ele conseguia isso porque cantava com o coração. E isso cativava os fãs, que viam ele, um cara adulto e intelectualizado, passar pelos mesmos questionamentos que seus fãs, na sua maioria adolescentes, passavam. A Legião só era o que era porque tinha também Dado e Bonfá (não falo do Renato Rocha porque ele saiu da banda muito cedo e não adquiriu a mesma alma e identidade dos demais), caras que mal sabiam tocar no começo e que viraram verdadeiros ícones. 


 
É evidente, para não dizer espantosa, a diferença entre o primeiro disco da banda e o segundo, lançado dois anos depois. É qualquer coisa de impressionante a evolução alcançada. Ali eles começaram a unir belas letras a belos arranjos. Tão marcantes que, basta ouvir um acorde e você já sabe que está tocando Legião. Como isso era possível, se as músicas, em sua maioria, tinham apenas três míseros acordes? Não sei. Sinceramente, tento descobrir isso até hoje. 

A Legião conseguiu, como poucos, falar de política sem fazer politicagem, levantar questões polêmicas sem o narcisismo de hoje, criticar sem precisar dizer palavrão, falar de amor sem ser pedante ou parecer piegas. Isso tudo, mais o fato de ter como público uma juventude pós-ditadura e, de certa forma, mais intelectualizada, onde simplificar demais não era uma obrigação para se fazer entender, foi o que catapultou a banda para o sucesso quase que devocional. Uma “Religião Urbana”, como se dizia. Muitos foram os hit singles, mas arrisco a dizer que as melhores músicas da Legião não são as mais famosas, aquelas que as FMs tocaram à exaustão. Estou falando o óbvio pra quem é fã, mas, para os que conhecem superficialmente o trabalho da Legião, fica a dica: Dêem uma olhada na discografia completa. Tem obras ótimas ali e que nunca foram músicas de trabalho, como "Os Barcos", uma das minhas preferidas. 

Naquela época, ainda era possível ganhar dinheiro com venda de álbuns (leia-se LP e K7), e shows e aparições na TV não eram tão frequentes. Comparado a hoje, a Legião fez poucas apresentações ao longo de 10 anos. Ter tido a chance de vê-los ao vivo é algo digno de se comemorar. Era 28 de Maio de 1994. Garoava, mas não me lembro de estar frio. Eu acabara de completar 15 anos, dias antes. Resolvi me dar um presente de aniversário. Aproveitei uma festa na minha escola no mesmo dia como desculpa e fui ao show, sem meus pais saberem, com amigos que pagaram pra mim. Talvez tenha sido única vez que tenha feito isso na minha vida de bom filho CDF, mas foi por uma boa causa. O Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre, estava lotado. Dizem que eram 22 mil pessoas. É de se acreditar, pois mal conseguia sentir meus pés encostarem no chão. Por vezes, parecia estar flutuando por cima dos tênis dos outros. Lembro que, dois anos antes, o Roxette tinha colocado 17 mil pessoas lá e tinha sido recorde de público. Bem, se foi isso, já era o tal recorde... 


Reprodução do Ingresso do Show de 28 de Maio de 1994. Clique para ampliar.

Os shows eram raros, mas valiam a pena, pois duravam cerca de 2 horas e eram muito interativos. E sucesso era o que não faltava. Mal sabia eu que aquela seria a última turnê que a Legião faria. Ao menos, aproveitei cada segundo. Só veria um show tão bom em 2010, estrelado por um Beatle. 

O dia em que o país perdeu Renato Russo, 11 de Outubro de 1996, foi bem triste. Não por ele apenas, mas porque eu sabia que, a partir daquele momento, tinha acabado também a Legião. Eu estudava de manhã e trabalhava à noite, no CPD da escola onde eu cursava o segundo grau técnico. Fiquei sabendo da notícia pelo rádio, perto do meio-dia, quando cheguei da aula. Naquele tempo a gente ainda não tinha meios de saber das notícias em tempo real, como hoje. E não se levava rádio pra ouvir na sala de aula. Escola era pra estudar e ainda era comum respeitar os professores. Foi quase sem querer (com o perdão do trocadiho) que fiquei sabendo. Liguei o rádio num desses programas de flashback (sim, já existia isso naquela época) e notei que estavam tocando diversas músicas da Legião em sequência. Pensei: legal, um programa especial! Logo, no intervalo de um dos blocos, o locutor falou a famigerada frase: “- Pra você que está chegando agora, faleceu nesta manhã o vocalista e líder da Legião Urbana, Renato Russo (...)”. Fiquei alguns bons segundos atônito, congelado na frente do aparelho três-em-um. Depois, joguei minha carteira na parede e proferi um sonoro "Puta que pariu!". 

Estava bravo, muito mais do que triste. Como o cara deixava os fãs assim? Como ficaríamos sem ter uma referência musical? Não era pelo Renato. Era pela obra dele que eu esbravejava. Coisa de guri de 17 anos. Saí e fui à casa de um amigo, igualmente fã. Ele soubera quase no mesmo momento que eu. Quando cheguei, ele estava indo me contar. Não havia o que fazer a não ser sentar na sala e ouvir Legião o resto do dia e tocar violão, como música para acampamentos. Lembro que naquela noite não fui trabalhar. Não conseguiria. Fiquei em casa gravando tudo o que passava na TV sobre o assunto. E gravei tudo o que apareceu nos dias subsequentes também: Fantástico, Programa Livre, Jornal Nacional, tudo o que podia. Enchi uma Fita VHS (no modo EP, claro) com todo o material que conseguira. Hoje é muito mais fácil, pois tem Youtube. Tanto, que encontro todo aquele conteúdo on-line e, por isso, já até me desfiz da tal fita. Bendita tecnologia! Era muito mais roots ser fã naquela época! Hoje é tudo facilitado por um milhão de opções, efeitos benéficos da “era do compartilhamento”.

É importante deixar claro que Renato Russo nunca foi exatamente aquilo que eu considero como um exemplo de bom comportamento. Mas qual roqueiro é? Teria o Rock alguma graça se fossem os roqueiros todos bonzinhos, cantando só músicas melosas e usando roupinhas coloridas? Algum tipo de público poderia gostar disso? Ops... 

Você não precisa repetir o comportamento destrutivo de seus ídolos para achar que as obras deles são geniais. Há de se saber separar as coisas. Às vezes, eles mesmos o fazem. Renato fazia. Disfarçou magistralmente suas mazelas nas músicas sendo muito sutil. Quantos verdadeiramente param pra refletir que “Pais e Filhos” fala sobre suicídio e que “A Montanha Mágica” é sobre o vício dele em heroína? Ah, vai me dizer que você achou que “ela se jogou da janela do quinto andar” e “minha papoula da Índia, minha flor da Tailândia” não passavam de licença poética? Que “Soldados” era realmente sobre luta armada? Come on!

Tamanha sagacidade só era possível porque Renato era uma pessoa muito culta, que lia muito, era poliglota. Tenho certeza de que se ele ainda estivesse aqui, diria: - Crianças, aprendam: a leitura vai muito além de meros 140 caracteres! Mas, além disso, Renato tinha um diferencial: parceiros de banda tão bons quanto ele. Justiça seja feita, Dado e Bonfá são compositores, junto com Renato, de grande parte da obra daa Legião, embora pouco se comente. Logicamente, Renato se encarregava mais das letras, e Bonfá e Dado as músicas, mas há participação de todos em tudo, em boa parte das músicas. É aquele caso clássico onde tudo se combinou perfeitamente e o resultado saiu o melhor possível. Todos eles são a alma da banda! Não dá pra pensar em Legião Urbana sem lembrar dos três, não adianta tentarem. Mesmo que Renato aparecesse e falasse mais (como todo vocalista), poucas bandas conseguiram ser uma pessoa só tão bem quanto esses três caras foram.



 As letras da Legião conquistavam por isso. Pela poesia encoberta que, muitas vezes, só os fãs entendiam. Talvez se a banda surgisse hoje, não teria feito tanto sucesso. Afinal, parece que cada vez mais a tarefa é simplificar, entregar um produto pronto, que não exija muito esforço em ser decifrado. Tem coisa boa? Tem. Mas não faz mais tanto sucesso como antes. Parece que só aquilo que não acrescenta coisa alguma intelectualmente é que é capaz de cair nas graças do povo. 

Sintomático...

Sei que o bom é relativo. Mas não vejo evidências, sequer empíricas, de que o rock brasileiro esteja melhor em geral, seja nas composições, seja nos músicos. Duvido que surja algo tão relevante quando a Legião Urbana tão cedo. Não é sempre que rock consegue produzir cultura ou influenciar comportamentos e levar isso às massas ao mesmo tempo. Acontece uma vez a cada cem anos ou mais. Não é saudosismo, nem nostalgia. É constatação, simplesmente.

Os clássicos são eternos, já dizia o adágio popular. E nisso, a Legião tem mais em comum com Vivaldi do que apenas “As Quatro Estações”. Como o compositor italiano, a obra da banda de Brasilia ainda vai atravessar muitas gerações, porque é boa, porque é sempre atual, sempre bonita. Urbana Legio realmente Omnia Vincit, inclusive o tempo.

  

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Foto-legenda: A Dama de Verde


Num dia frio, era razoável de se esperar um céu cinzento. Mas tive sorte. Saí numa manhã fria para passear em Manhattan e resolvi arriscar uma visita à "jovem" senhora de verde, de origem francesa. E não é que ela é fotogênica? Não tem como não achar o visual bonito. Tirei essa foto quando o ferry se aproximava para atracar. 

Era 26 de Outubro de 2008. Estava bem no meio da crise econômica, que iniciara poucos meses antes. Barack Obama seria eleito, dias depois, o primeiro presidente negro da história dos EUA. Pude presenciar esses momentos de perto. De certa forma, vivi a História, ainda que como mero espectador. Por isso gosto muito das fotos que tenho dessa época.

O dia, como se vê, estava perfeito, apesar do frio. Consegui centralizar a ilha toda na foto, e o céu azul de fundo deixou-a ainda mais bonita. Fotógrafos profissionais certamente torceriam o nariz para a minha foto. Mas acho que Bartholdi aprovaria.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Teste de Software: O Futuro está só na Automação?

Há alguns dias eu discutia com um colega sobre para onde está se encaminhando a qualidade/teste de software nas empresas de TI. É bastante recorrente esse tipo de assunto nos corredores atualmente. Depois de vermos um grande "boom" no setor, no que diz respeito a técnicas e processos de teste de software, parece que o mercado está, de uns tempos para cá, mudando o seu rumo, ou pelo menos se adaptando a novas necessidades.

Embora recente, se comparada a outras áreas tradicionais (pelo menos academicamente, em termos de livros e discussões geradas a partir dela), a área de testes é uma das que mais ganhou ênfase dentro dos projetos. É difícil você pensar em um novo software sem considerar que seu desenvolvimento precisará de ciclos de testes para garantir a entrega do produto final com o melhor resultado possível em termos de confiabilidade, estabilidade, funcionalidade, etc. Nos projetos em que trabalhei, sempre foi assim. Algumas vezes isso foi bem elaborado, outras nem tanto. O que chama a atenção é uma aparente movimentação na área relativa a uma ênfase ainda maior em automação de testes.

Obviamente, quem lê sobre o assunto já deve ter visto uma grande quantidade de textos falando de automação. Parênteses aqui: pra mim, esse termo, no sentido da origem da palavra, seu radical, estaria equivocado, pois "automação" subentende algo que faz tudo sozinho, de forma automática, coisa que nenhum teste é capaz de fazer. No meu entendimento, o mais correto seria falar em "autonomação", que vem de "autonomia" e que depende de participação humana. Aliás, que coisa horrível essa mania de querermos aportuguesar termos técnicos. "Inicializar" é outra palavra que me dói nos ouvidos. Mas tudo bem, o mercado já se acostumou a falar assim e temos seguir o padrão, sob o risco de não sermos compreendidos. Quem sou eu para contestar isso? Vamos em frente com o raciocínio.

Quando surgiu esse conceito de automação de testes ou de testes automatizados, parecia que o mercado iria migrar para duas correntes distintas de profissionais: Os que tinham perfil mais analítico e que iriam se encarregar da criação de scripts e testes manuais, mas com altas doses de regras de negócio compreendidas neles, e os com perfil mais de programador, que iriam automatizar os testes manuais criados pelos analistas, usando ferramentas e linguagens adequadas. Sim, porque, partindo de um princípio básico, devemos entender a automação de testes como uma FERRAMENTA, que vai trabalhar a partir de algo que já exista (testes manuais) e não como um processo, que vai criar algo do zero. Esse talvez seja um dos grandes erros cometidos pelas empresas nessa área. É uma lógica muito parecida com aquela de se comprar um ERP (ainda se fala em ERP?): Primeiro tenha processos bem definidos e funcionais, depois construa/adquira um sistema que se molde a eles e não o inverso. 

Mas isso não significa que um software só deve ser testado depois de pronto. Todo mundo que trabalha nessa área sabe que o teste deve estar envolvido no projeto desde suas primeiras definições até o post-install Mas a automação em si precisa de uma análise de custo-benefício prévia para saber onde melhor pode ser aplicada.

Essa área tem ganhado muito espaço, mais até do que se imaginava antes. Todo mundo agora parece falar mais em automação do que em qualquer outra coisa. De fato, parece haver certo direcionamento das empresas e do mercado para focar mais nessa área, afinal, um dos seus grandes benefícios está em aumentar escopo e diminuir o tempo de teste, agilizando assim o tempo final do projeto e aumentando a eficiência do software. Isso significa que o papel de analista, que criava testes manuais vai desaparecer? Acredito que não. E nem deveria, pois testes manuais sempre serão necessários, uma vez que há testes que só um ser humano pode realizar, especialmente aqueles que envolvem decisões, julgamentos ou regras de negócio mais subjetivas. Há ainda aqueles que não valem a pena serem automatizados, por apresentarem um custo-benefício baixo em termos de esforço de automação versus ganhos apresentados. Para esses casos, sempre serão necessários testes manuais. Ou, ao menos, a possibilidade de tê-los.

O fato é que a automação tem mais lógica (ou razão de ser) quando aplicada a testes que terão alto índice de reuso (testes de regressão, por exemplo), pois, não raro, a construção de bom um teste automatizado leva bem mais tempo do que a de um teste manual. Fora isso, a tendência é ter um custo elevado demais para se justificar no escopo do projeto. Aí entra a análise prévia de custo-benefício que comentei antes. Sempre ajuda.

O que eu particularmente enxergo como uma tendência, é que esses dois papéis, de Analista de Testes e de Engenheiro de Testes (como algumas empresas chamam o Automatizador), não sejam mais executados por pessoas diferentes. Aquela história de time de testes manuais e time de automação separados parece estar acabando. Não estou dizendo que é o melhor caminho. Até acho que algumas funções poderiam ser compartilhadas, mas a especialização que difere os dois papéis ainda é muito útil. O fato é que é cada vez mais se caminha para isso. Os profissionais acabarão tendo de acumular as duas habilidades. A questão é a qualidade com a qual serão capazes de executar as duas coisas ao mesmo tempo. Esse parece ser o próximo movimento do mercado. Até por uma questão de custo, pois manter dois times distintos em termos de especialização dentro do mesmo projeto é bem mais caro e não necessariamente mais eficiente. 

Alguns dirão: - Lá vem o capitalismo selvagem, querendo fazer com que menos pessoas façam mais e produzam mais. Não se esqueçam de que essa também é uma lógica da TI em si, portanto, não há como ser diferente. A TI é capitalista na sua essência e uma das grandes viabilizadoras deste sistema econômico, queiram ou não.

Falando em capitalismo, vemos que existem diversas ferramentas para automatizar testes. Umas têm licenças caríssimas. Mas há também aquelas open source, gratuitas, e que, até com certo sucesso, vêm sendo utilizadas em muitos lugares. Não tive contato com todas elas, mas pude observar algumas que fazem parte dos dois grupos. Por essa experiência, até o momento, as ferramentas pagas ainda me parecem ser melhores, pois oferecem mais recursos, embora as gratuitas tenham evoluído. Ao optar por um dos dois grupos, deve-se considerar o retorno trazido pelo investimento feito. Para empresas grandes, com mais recursos financeiros e que precisem de resultados melhores, as ferramentas pagas ainda tentem a serem as escolhidas como melhor opção. Já para as empresas menores, provavelmente o custo, principalmente das licenças, não compense. Tudo dependerá das necessidades de automação de cada empresa e o quanto se está disposto a investir nisso.

Retomando a questão sobre profissionais de teste que possuem habilidades de análise e automação, eu já observo esse comportamento em diversas organizações de TI (especialmente as americanas) e, como sempre acontece, acho que teremos uma fase de transição onde, num primeiro momento, encontraremos dois tipos de empresas: 1) as de vanguarda, que enxergaram esse movimento há mais tempo e que saíram na frente, ajustando seus processos de teste e seu gerenciamento de projetos para contemplar mudanças e; 2) as empresas "retardatárias", que ainda irão operar da forma "antiga", e para onde provavelmente irão migrar aqueles profissionais que não acompanharam ou não quiseram acompanhar as mudanças.

Não estou dizendo aqui que um método vai ser melhor que o outro. Dependendo da empresa, qualquer um deles pode funcionar. Apenas estou tratando da questão de como as novidades chegam às organizações e de como o mercado se regula naturalmente. E todos sabemos que o ritmo das mudanças não é igual para todas. Porém, mais cedo ou mais tarde, é possível que tenhamos todas trabalhando com profissionais que possuam perfis/habilidades para executar tarefas tanto em testes manuais quanto em automatizados. Isso, obviamente, irá exigir um nível de conhecimento muito maior desses profissionais. Há de se saber ainda se os salários irão acompanhar essas exigências. 

Creio (e isso é apenas uma impressão minha, diga-se) que as organizações deverão apostar e investir mais nesse conceito nos próximos anos, sem eliminar os testes manuais, mas deixando a ênfase maior na automação. Riscos relativos à empregabilidade tendem a aparecer mais para os profissionais que não quiserem aprender sobre o tema. Acho que, para aqueles que ainda não começaram, essa é a hora para iniciar essa mudança, agregar mais conhecimentos e buscar capacitação sobre o assunto. Faz parte desse universo o surgimento de novos conceitos. E deve fazer parte da natureza dos profissionais de TI estarem sempre atentos a isso.


* Adaptação do texto escrito em 03/10/2008

 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Dica de Leitura: Livro "Opala - O Carro que Conquistou o Brasil"



Qualquer brasileiro que seja apaixonado por automóveis como eu certamente tem no Chevrolet Opala um de seus preferidos. Um carro desejado quando estava em linha e cultuado após sua aposentadoria. Foram 24 anos de fabricação, de 1969 a 1992, uma das mais longevas histórias do automobilismo nacional.

Particularmente, dentre tantos outros carros que queria ter em minha coleção (se um dia puder ter uma), o Opala é um daqueles que certamente teria mais de um exemplar, tamanho o sortimento de modelos que viraram clássicos. O meu sonho principal é um Comodoro 1978 Coupé com teto “Las Vegas”, motor 6 cilindros e interior Chateau. Ou seja, quase impossível, pois talvez seja o mais difícil de encontrar à venda. Mesmo os mais comuns estão com preço inflacionado atualmente, especialmente os 6 cilindros. Talvez valha a pena comprar um que esteja ruim e restaurar, mesmo que demore. Mas, como diz o ditado, sonhar não custa nada. Então, sigo sonhando...

Em "Opala - O Carro que Conquistou o Brasil", da editora Alaúde (famosa por tantos outros livros do gênero),  temos um verdadeiro manual para os fãs do carro. Os autores exploram não apenas a sua história, mas também as suas origens, em um trabalho de pesquisa minucioso.

Podemos ver, ano a ano e modelo a modelo, todas as transformações e evoluções daquele que foi, por décadas, o símbolo do luxo para a classe média no Brasil. Os autores contam também como as variantes econômicas de cada época influenciaram nas versões do modelo e como a concorrência se municiava para enfrentar o sucesso duradouro do Chevrolet. 

O livro é ótimo também para quem quer uma ajuda comprar um Opala e saber exatamente cada detalhe de cores, motores, opcionais e acessórios disponíveis para cada ano de fabricação. Ajuda essa que se estende aos restauradores e colecionadores, que têm um belo suporte para auxiliá-los na missão de saber os itens adequados para comprar e deixar o carro em perfeitas condições.

Apesar de tudo isso, o livro tem uma linguagem simples, de leitura prazerosa. É daqueles que, se você comprar, certamente vai ler várias vezes. E emprestar várias vezes. O meu, inclusive, acabou de voltar pra casa, depois de mais um empréstimo. Resta saber até quando...


Dados do Livro:
Título: Opala - O Carro que Conquistou o Brasil.
Autores: Paulo Cesar Sandler e Rogério de Simone
Editora: Alaúde
Páginas: 272


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quando os Bons Podem Prejudicar


Qualquer gerente que seja competente sempre vai preferir ter ao seu lado os melhores profissionais. Se você perguntar, é isso que você vai ouvir. Mas, por mais incrível que possa parecer, em alguns casos a escolha não depende apenas de competências técnicas. Este é o caso da Jane.

A Jane trabalhava numa empresa multinacional de TI, na área de qualidade de software. Era uma excepcional profissional e muito competente naquilo que fazia. Ela tinha uma produção muito acima da maioria de seus colegas de projeto. Não raro, ela abraçava as tarefas de outros e conseguia cumpri-las no prazo, mesmo tendo de fazer as suas em paralelo. Alguns de seus colegas reconheciam sua capacidade e viam nela um grande potencial de crescimento. Só que essa gana toda em produzir e tentar crescer não foram transformadas em promoção ou aumento de salário.

Ela era competente, porém gananciosa. Só que não exatamente de uma maneira saudável. Não bastava para ela seguir os degraus da estrutura de cargos da empresa. Ela queria ir direto para cima e depressa demais. Trabalhava muito, porém sempre fazia questão de dizer a todos o quão melhor era em relação a seus colegas e o quanto alguns eram incompetentes. Alguns realmente eram incompetentes, mas a abordagem com que ela tratava esse assunto acabou gerando diversos conflitos na empresa. 


Pelo fato de achar que era mais competente (de certa forma, era, mas não necessariamente "a" mais competente), raramente aceitava suas notas nas avaliações que o RH fazia. Não que ela não merecesse, mas sabemos que em algumas empresas o papel do RH, infelizmente, é sempre deixar um "algo mais" a ser buscado, pois, se o profissional tiver nota máxima, não terá o que buscar até a avaliação seguinte, de acordo com essa “teoria”. É meio perverso, mas acontece e é preciso saber lidar com isso. Mas Jane não aceitava e reagia sempre de maneira áspera, falando mal de outras pessoas, incansavelmente buscando justificativas, juntando "provas" de sua competência e da incompetência dos outros para mostrar ao RH e tentar fazê-los ver o quanto estavam errados.

Todo esse esforço de autopromoção acabou gerando um clima muito pesado no time, visto que depois de um tempo ela já não deixava sua insatisfação restrita ao RH. Nem os gerentes foram poupados. Ela realmente resolveu "chutar o balde no pau da barraca". Chegou ao ponto de dizer que era boa demais para aquela empresa. Obviamente, não tardou a ser demitida. Mas não deixaria barato: antes de sair, ainda conseguiu deixar contra ela até as últimas pessoas que a apoiavam, aplicando novamente a mesma estratégia. Perdeu a razão, literalmente.

Como tinha um bom currículo, não demorou a encontrar outro emprego. Até fez com que seus ex-colegas achassem, por um tempo, que talvez tivesse sido injustiçada de alguma forma. Isso até o dia em que foi demitida novamente, pelos mesmos motivos, e sempre dizendo que "um dia encontraria uma empresa que merecesse alguém como ela e que reconhecesse o valor seu trabalho diferenciado". Sinceramente, não sei se já conseguiu. 


A linha entre ser bom e ser arrogante pode ser tênue, dependendo de como a pessoa lida com isso. No caso da Jane, houve falhas do RH, mas o principal foi que faltou jogo de cintura a ela para administrar a situação e sobrou prepotência. De nada adiantou ser uma profissional tecnicamente qualificada se ela sucumbiu ao ego na primeira vez em que se viu contrariada ou injustiçada. As coisas podem não estar fáceis em muitas ocasiões, mas você não precisa deixá-las ainda piores e, de quebra, contaminar toda a sua equipe.

Tudo isso me faz pensar em um ponto diversas vezes esquecido hoje em dia: por mais qualificado e competente que possa ser, você nunca sabe tudo. É sempre preciso ter humildade, tanto para aprender com os outros (competentes ou não), quanto para respeitá-los. E também para lidar com as adversidades. Nosso mundo de ciências exatas (?) muitas vezes nos afasta desses tipos de valores. Ter em mente que o seu conhecimento não é absoluto e que você eternamente estará aprendendo algo novo talvez seja o passo principal para ser um profissional cada vez melhor. É por aí que você começa a ser respeitado e mantem-se competitivo. 




* Adaptação do texto publicado em  23/06/2008



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Dia em que Porto Alegre Virou Liverpool


07 de Novembro de 2010. Dia histórico e inesquecível!

Um Beatle em Porto Alegre! Um Beatle! Que dia poderia ser mais incrível que este em termos de shows internacionais? Pra quem é fã da maior banda de todos os tempos, poder ver Sir Paul McCartney de perto é o suprassumo das realizações. E eu consegui ver bem de perto!

Sou Beatlemaníaco confesso, mas não imaginava poder ver um show desses tão perto e tão de perto. Até que um dia, divulgaram que Paul faria uma turnê pela América do Sul. Como eu já esperava shows apenas em Buenos Aires e São Paulo, comecei a pensar na possibilidade de comprar o ingresso e viajar para assistir o show em uma das duas cidades. Afinal, se não fosse naquele momento, talvez nunca mais tivesse essa chance In my Life.

Eis que anunciam um show extra, que seria o primeiro deles, em Porto Alegre, mais precisamente no Beira-Rio, Templo Colorado. Não podia ser melhor! Na volta de Paul ao Brasil, depois de 1993, seu primeiro show da série seria logo aqui e no estádio do meu Inter. Que honra! Já imaginava a “guerra” para comprar ingresso, seja on-line ou pessoalmente. Sabia que acabariam em questão de horas, o que, de fato, aconteceu.

A parte boa era que os ingressos seriam vendidos primeiramente para os sócios do Inter, pela internet. As vendas começariam às 8h00 da manhã do dia 7 de outubro. A parte ruim é que nessa data eu estava em Los Angeles (timezone de 4 horas a menos em relação a Porto Alegre). Já estaria de volta no dia do show, mas teria de me virar pra comprar o ingresso estando nos EUA. Mas isso não me fez desanimar. Acordei à 3h30m da manhã, como um Blackbird que canta na calada da noite, e fiquei dando "F5" no site dos ingressos para ter certeza de que, ao abrir, seria um dos primeiros a comprar. E fui. O site abriu as vendas às 3h56h da manhã (7h56m no Brasil), um pouco mantes do previsto, e eu, por já estar ali há tempos, fui premiado e consegui acessar e comprar meu ingresso sem maiores problemas. E, como não iria ter de gastar com viagem para ver o show, comprei o mais próximo do palco (e mais caro, consequentemente). Tinha de ser esse. Não estava disposto a ver um show histórico de longe.

Comprei o ingresso e voltei a dormir, pois tinha de trabalhar de manhã. Ao acordar, verifiquei que a minha compra estava confirmada. Tranquilidade. Ao navegar pelas redes sociais, vi que muitas pessoas estavam tendo problemas em comprar, seja pelo site ficar fora do ar, seja pela demora na confirmação. Daí eu vi que fiz bem em acordar de madrugada.

No dia do show, também organizei uma logística pra facilitar minha vida. Cheguei no Beira-Rio à 8h00 da manhã (o show era à 9h00 da noite). Já tinha uns 10 carros aguardando para abrir o estacionamento da Av. Padre Cacique, que fica ao lado do Ginásio Gigantinho. Entrei e cruzei todo o pátio, até chegar bem em frente às cancelas do outro lado, de frente para a Av. Beira-Rio. Só tinha eu ali naquele setor, mas eu sabia que seria fundamental ter o carro ali para a hora de sair do show, pois o estacionamento iria lotar.

Fiquei na fila o dia todo, no sol escaldante do verão que estava por iniciar. O pessoal improvisou papelões como teto, apoiando-os nos cercados da fila. Ficou parecendo uma vila de fãs. Fãs apaixonados, diga-se. Todos se ajudavam, guardando lugar para o outro ir ao banheiro ou comer alguma coisa. Era como se todos vivessem no Yellow Submarine. Vieram até entrevistar a gente!
 

Vila de papelões na fila de espera

 

Foto tirada pelos repórteres do site Terra (eu em primeiro plano)
 
Os portões abriram-se às 18h30m e eu consegui ficar bem perto do palco, como se pode ver. Valeu cada esforço! O show durou 3 horas e não é possível explicar o que se viu ali. Som perfeito, imagem perfeita, um Paul interativo, com direito a um "mas bah, tchê" e um "ah, eu sou gaúcho". Todas as músicas que eu queria ouvir estavam ali. Não faltou nada. O melhor show de todos os que eu tinha visto até então.








  
Consegui até gravar um vídeo, obviamente tremido, devido à empolgação, mas dá pra ter uma boa idéia do que foi o show:




Na volta, bingo! Meu carro era um dos primeiros, logo à frente dos portões de saída. Nem fila eu peguei. Entrei nele e saí direto para a cancela. Quando estava chegando em casa, ouvia no rádio os repórteres falando que o público recém começava a deixar o estacionamento. Rá, Band on the Run, baby!

Foi o tipo de coisa onde tudo deu certo. Desde a compra do ingresso até a saída do show. Não é sempre que acontece. Mas planejar com antecedência ajudou bastante. Deve ser porque eu tinha de estar lá. E quando tem de ser, o universo conspira, dizem. Acho que foi o que aconteceu naquela noite. No dia seguinte, eu só pensava que Yesterday havia sido A Day in the Life.