O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ao Mestre Com Carinho


Muito tem se falado em educação ultimamente, tanto na televisão quanto na internet. Parece que as pessoas estão acordando para um tema que realmente é importante para a sociedade e cuja precariedade começa a apresentar resultados, refletidos na quantidade de analfabetos funcionais, violência no trânsito, falta de conteúdo e simplificação dos programas de televisão e mídia impressa, etc. Aqui mesmo no RS a rede de comunicação local resolveu promover a campanha "a educação precisa de respostas", basicamente, procurando entender por que o Brasil é o sexto país em termos de economia no mundo e apenas o octogésimo oitavo no ranking de educação. Embora de propósito nobre, não sei qual vai ser o resultado prático de tal campanha midiática. Ao menos, serve como reflexão. Se bem que, se a população não está educada satisfatoriamente, será difícil que a massa entenda a mensagem e reflita sobre do tema. Mas acho que estão tentando fazer a parte deles. Se a educação fosse uma preocupação permanente dos meios de comunicação, provavelmente a influência que eles têm poderia colaborar no sentido de fazer as pessoas pensarem mais em vez de assistirem novelas. Por outro lado, se a TV está fazendo isso é porque talvez os governos, teoricamente os principais responsáveis, não estão cumprindo com seu papel principal de investir na educação do seu povo.

O tema é bastante complexo, sem dúvida. Mas sabe-se que é pela educação que as nações saem do fundo do poço e tornam-se prósperas de verdade. Esse deve ser o começo de tudo. Não deve ser a única forma de reerguer a economia, logicamente, mas há de ser uma das principais. Já mencionei aqui que, em minha opinião, o problema está na qualidade de ensino muito mais do que na estrutura das escolas públicas (que hoje recebem mais verbas do que no meu tempo). E falo com a propriedade de quem tem uma esposa professora dentro de casa. Além das baixas remunerações, percebe-se que muitos professores estão desmotivados, sem vontade de dar aula, sem alegria em ensinar. Alegria e entusiasmo são quase 70% de um indivíduo que leciona. Sem isso, ele não busca a excelência, não se atualiza. E a qualidade do ensino em geral cai. Se até este básico lhe falta, para onde vamos? Como se não fosse o bastante, este profissional precisa lidar com a nova geração de pais, que terceirizam a sua parte na educação dos filhos aos mestres e ainda responsabilizam estes pelas baixas notas obtidas por suas crias. Não é à toa que o número de jovens que gostaria de seguir carreira de professor é cada vez menor. 

Ser professor, mais que um trabalho, deve ser encarado como uma missão. E das mais nobres. Acho que se você não encarar um pouco por essa perspectiva, nem vale a pena tentar entrar nessa carreira. Lembro-me de um episódio dos meus tempos de estudante que relata bem isso. O ano era 1997 e eu estava no quarto e último ano do segundo grau técnico do curso de Processamento de Dados. Era um ano bastante movimentado para mim. Tinha acabado de conseguir meu primeiro emprego com carteira assinada (já havia começado a trabalhar dois anos antes, mas como estagiário) e tive de passar a estudar à noite, haja visto que também o quarto ano só era ministrado neste período. Além das aulas e do trabalho, era o ano da formatura. Eram duas turmas de quarto ano e eu era o líder das duas. Era uma responsabilidade grande, mas eu tinha orgulho daquilo. Não apenas por representar duas turmas ao mesmo tempo (a divisão era apenas física, visto que todos se conheciam dos anos anteriores), mas porque ali estavam apenas os melhores. 

Deixem-me fazer um parêntese para explicar: Naquela época, o Mascarenhas de Moraes, em Cachoeirinha-RS, era uma das escolas técnicas mais conceituadas do estado, mais que muitas escolas particulares. Além do primeiro grau, tinha quatro opções de cursos no segundo grau, sendo três deles profissionalizantes. A partir do segundo ano (o primeiro era básico para todo mundo), podia-se optar por um determinado caminho. Além do curso básico, chamado de "Geral" pelos alunos, e que tinha como foco maior a preparação para vestibulares, a escola oferecia os cursos de Secretariado (predominantemente de público feminino), Contabilidade e também o de Processamento de Dados. Este último, além de possuir um ano a mais que os outros, tinha aulas aos sábados e era preciso fazer um teste de aptidão e raciocínio para poder entrar, não bastava querer. E foi neste que eu me enfiei. Por isso trabalho com TI até hoje... O caso é que o curso era considerado extremamente difícil pelos alunos da escola. Era comum ver o pessoal comentando pelos corredores: - Tu vais fazer PD? Dizem  que é para louco, que os alunos se matam estudando, etc., etc. Bem, depois de tanto tempo, posso dizer que era difícil, sim, mas não tanto para quem já pretendia trabalhar com TI, como eu. Mas é fato que, dos cerca de 150 alunos que iniciaram o segundo ano (divididos em 3 turmas), apenas uns 20 conseguiram terminar o quarto ano. Um verdadeiro funil.

No meio de toda essa correria, eu ainda tinha de me preocupar com os estudos, obviamente. O curso exigia dois estágios: um externo (que eu estava cumprindo no meu primeiro emprego) e outro interno, que consistia em desenvolver um sistema e entregá-lo ao final do ano. Eu e mais duas colegas (minha prima era uma delas), desenvolvemos um sistema de gerenciamento de uma farmácia, em Clipper (!). Nunca foi utilizado na prática, mas funcionava a contento e serviu para nosso aprendizado e aprovação. 

Dentre as matérias regulares da grade curricular do quarto ano, estavam as de "Análise de Sistemas" e "Banco de Dados", ambas ministradas pelo mesmo professor. Ele, aliás, trabalhava como DBA num grande banco estatal e dava aulas à noite, como fazia a maioria dos professores do curso. Ou seja, o magistério não era sua principal atividade. Mesmo assim, suas aulas eram das melhores e ele era extremamente capacitado. Talvez isso fosse exatamente um dos diferenciais do curso. Como a maioria dos professores tinha sua própria empresa ou trabalhava em bons cargos na área de TI, isso potencializava a experiência e o aprendizado dos alunos. Esses caras faziam isso pela missão de ser professor, uma vez que sua remuneração nos locais onde trabalhavam durante o dia era claramente maior. É um tipo de compromisso que pouco se vê hoje em dia.

As provas das duas matérias supracitadas costumavam ser bem difíceis, como não podiam deixar de ser, dada a relevância dos conteúdos. O professor era extremamente exigente também. Posso dizer que aprendi muito com as aulas dele, mas a sua principal lição não foi técnica, mas de caráter, daquelas que você nunca mais esquece. 

Naquele ano, além das mudanças na LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que versaram sobre o valor médio da nota para aprovação, formatos de recuperação, etc., a escola também precisaria mexer na grade curricular para o ano seguinte. Com isso, as duas disciplinas mencionadas se converteriam em uma só, mas com igual carga horária. Na prática, mudava pouca coisa. Só que havia um componente crucial: como as duas matérias deixariam de existir, o aluno que fosse reprovado em apenas uma delas, por exemplo, não teria como cursá-la de novo no próximo ano, nem por dependência. E também não poderia cursar a disciplina unificada, pois estaria repetindo uma das matérias na qual havia sido aprovado no ano anterior. Certamente isso traria muitos problemas. O professor, que sabia disso previamente, manteve o ritmo das aulas como se nada estivesse acontecendo, sem revelar nada aos alunos. Estávamos tendo as mesmas aulas difíceis que todas as turmas anteriores haviam tido, sem nem imaginar que tais mudanças estavam a caminho. Eis que, em uma das últimas aulas do ano, ele chega para a turma e diz: - Pessoal, por conta dessas mudanças na lei e na grade curricular, não irei reprovar ninguém nessas duas matérias. Estão todos aprovados.

Naquele momento eu fiquei meio tonto. Não entendi porque ele não havia contado nada para a turma logo que soube. Depois, entendi tudo. Se ele tivesse contado no começo do ano que ninguém iria ser reprovado, certamente o grau de comprometimento da turma iria ser muito menor. O interesse nos conteúdos, idem. Haveria faltas em massa, ninguém faria as provas, mas, principalmente, ninguém aprenderia coisa alguma. Ele poderia simplesmente ter cancelado as aulas quando soube das mudanças, mas preferiu continuar vindo de outra cidade quase todas as noites para dar uma aula que não iria reprovar ninguém. Preferiu continuar as aulas como sempre foram, com o mesmo grau de exigência, e com a mesma dedicação. Naquele momento eu percebi  o quanto um professor, ainda que não fosse de carreira, poderia demonstrar o quanto estava comprometido com o aprendizado dos seus alunos. 

Sei que é complicado exigir o mesmo comprometimento de alguém que é mal remunerado e que só tem o magistério como fonte de renda (professores de carreira em geral). Porém, igualmente importante é ressaltar que o comprometimento com a educação também se dá por outros motivos, como este que relatei. Este episódio me inspirou, de certa forma, a acreditar nas pessoas com quem trabalho e a procurar não desistir delas, mesmo quando as coisas não vão bem. Assim como o meu professor, muitas vezes os líderes de equipe lidam com informações que não podem compartilhar num primeiro momento, mas que serão importantes mais adiante. O que faz a diferença é você jogar a favor do grupo. E é isso que eu tento fazer no meu dia-a-dia no trabalho, muito por causa daquela atitude me mostrou que sempre vale a pena tentar.

Obrigado, professor!


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência

Vocês já notaram o desinteresse da população em geral pela política? O descrédito que a figura de um político tem? Pra mim, um dos aspectos que reforça esse cenário é a sensação de “eu não me sinto representado por essa pessoa”. Eles têm o papel de representar seus eleitores, porém, de maneira geral, o povo não consegue confiar neles (por alguns motivos bem óbvios). Mas os políticos de carreira continuam existindo porque, por falta de vontade, tempo, aptidão, conhecimento ou (situacional) capacidade, não assumimos uma postura que torne desnecessária a sua existência. Essa não é nem de longe uma constatação inédita, mas é possível perceber certas nuances semelhantes no ambiente de trabalho.

O Jarbas trabalha com TI. É analista de testes terceirizado em uma grande empresa (algo que "quase não se vê" por aí...). Ele se considera, até certo ponto, um pouco "peão". O seu negócio é implementar a coisa, é “sentar tijolo até levantar a parede”. Não tem muito skill de liderança ou negociação. Aliás, se tivesse de ficar negociando o tempo todo, ia perder tempo de trabalho. Não, ele não é um recurso alienado, um workaholic, etc. Simplesmente o foco do seu interesse é no “fazer”, e não no “fazer acontecer através de”. E é justamente por ter maior aptidão para atividades técnicas que ele se sente melhor em assumir um papel de alguém que “põe a mão na massa”.

Então, enquanto ele foca em fazer o que gosta de uma forma bem feita, ele precisa de alguém que resolva o resto. Seja por preservar energia e usá-la em outra atividade, seja por não ter aptidão para negociar de maneira eficiente, ele sabe que precisa de cobertura.
 

Atualmente, Jarbas está envolvido em fazer existir algo grande, um daqueles projetos de enorme importância. Se fosse algo em menor escala, dava conta sem problemas. Mas dessa vez, pra conseguir realizar o que é proposto, é necessário mais um grupo de pessoas com conhecimentos e capacidades parecidas com as dele, senão a coisa toda só vai ficar pronta daqui a anos. Então, enquanto ele e o grupo trabalham, precisam de alguém para resolver a questão da comunicação, do planejamento, daquilo que fica em volta do seu trabalho, mas que não é exatamente o seu trabalho. Ele e o grupo criaram a necessidade de existir alguém para gerenciar.

Então alguém assume formalmente esse papel. Maravilha. Tem alguém pra fazer a cobertura, pra complementar, pra prover o que mais é necessário para o trabalho acontecer. É um papel difícil, sem dúvida. Essa pessoa vai ter de ajudar a organizar o trabalho de todos, filtrar a comunicação com quem está precisando da solução que está sendo construída. Além do mais, vai ser o responsável por dar algumas notícias ruins de vez em quando. Mas também é um papel de destaque, vitrine mesmo. E é aí que está o perigo. Os responsáveis pelo elenco escolheram quem parecia ter perfil de liderança e experiência nessa atividade pra resolver essa necessidade.

Só que, dessa vez, falta algo para o cara que assumiu esse papel...

O time diz que precisa de mais prazo pra fazer direito, ele vem com uma explicação vazia de porque não vai dar. O time diz que faltam alguns recursos, ele fica tentando convencer todos pra simplesmente se virarem com o que tem. Se alguém fica aborrecido, ele tenta resolver a cara de aborrecido, em vez de resolver o que está causando o problema. A coisa está pegando fogo e o líder só fica botando panos quentes, dizendo “isso é assim mesmo” e coisas do tipo... Às vezes fica parecendo que ele só serve pra repassar (filtrando) algumas notícias que vem de cima, e pra dar um jeito de manter todo mundo ocupado.

Jarbas sente que, dessa vez o “líder formal” não o representa. E também não representa o resto do time muito bem.

Mas o cara gosta do papel de liderança, então fica tomando suas providências para continuar no posto. Que jogada! Ele troca o esforço de realizar aquilo que ia conquistar o apoio de várias pessoas abaixo dele pelo esforço de conquistar o apoio de duas ou três pessoas acima... E assim a equipe vai seguindo, sem acreditar muito no que está fazendo e sem motivação para tentar algo novo. Mas o líder vai fazendo o seu cartaz para com os gerentes logo acima dele. 


Mesmo tendo o trabalho elogiado por alguns desenvolvedores, Jarbas não recebe o mesmo reconhecimento por parte do líder. Ao contrário, este diz a Jarbas que tente fazer o seu trabalho de forma "mais comum", para que não fique muito evidente a diferença técnica dele perante outros colegas, especialmente aqueles que demonstram problemas de comprometimento, mas que são "amigos" do líder. A situação chega a tal ponto que Jarbas, numa conversa com um colega de trabalho, chora. É um choro de raiva, misturada com stress, frustração e sensação de estar fazendo papel de bobo. Isso porque ele vinha trabalhando tanto a ponto de cobrir a incompetência de alguns colegas, mas sem ter os méritos. Ele consegue suportar mais alguns meses, e então pede demissão. O projeto, como se podia esperar, entre em produção, mas completamente "capenga". Soube-se depois, que ainda levou uns dois anos para acertarem todos os problemas. Mas Jarbas já estava livre, e em outro emprego melhor, não mais precisava se preocupar com aquilo.

Pensando nessa história quase real é que eu vi a semelhança com os políticos. Há muitas equipes por aí "nos cascos" porque seus líderes não as representam na hora das dificuldades. Ficam de politicagem, jogando aquele jogo pra continuar nas suas posições. Creio que enquanto os organogramas tiverem gargalos, e a pessoa que está desempenhando esse papel condensador não representar realmente quem está respondendo para ela, vai ser sempre difícil fazer com que as coisas possam fluir harmonicamente e os times sejam coesos e engajados. Uma das coisas mais importantes em uma equipe é você olhar para o lado e ver que pode contar com o seu colega. Ter essa mesma visão a respeito do líder, é tão fundamental quanto.
 
Se você é líder ou gerente de equipe e parece não haver sintonia com quem responde para você, então você pode ser mais uma parte do problema. A dica é bem simples: se você assumiu esse papel de liderança formal e não tem o que é necessário para conquistar a confiança dos que te respondem, não tente garantir a sua posição através da “politicagem”, do “networking”, do “combinaço”. Não procure manter seu papel simplesmente conquistando o apoio de cima. Ao invés disso, passe a comprar as brigas de quem está abaixo de você ou a seu lado. Já é um passo bem simples e eficaz para que a equipe enxergue em você a representatividade esperada. Afinal, também faz parte da sua função comprar essas brigas e estar do lado das pessoas as quais você lidera.


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Post Que Foi Parar Num Livro

Bem, ainda não é dessa vez que eu vou me atrever a escrever um livro inteiro, mas já é um começo...

Informo aos amigos leitores, especialmente os Colorados, que um dos textos deste humilde blog foi selecionado para fazer parte de um livro-coletânea com histórias sobre o Sport Club Internacional, contadas por torcedores.

Dentre os vários textos recebidos, em uma promoção que começou lá em maio, se não me engano, apenas alguns foram selecionados pelos editores para fazerem parte da obra. Para a minha alegria, um destes textos é uma versão adaptada do post "A Minha Geração é a Mais Colorada de Todas. E Sempre Será", que escrevi aqui há algum tempo.

O nome da coletânea é "Colorados - Nada Vai nos Separar" e deverá sair até o final de Novembro de 2012, pela Editora Multifoco, do Rio de Janeiro. Ainda não sei informar o valor e o tamanho exato do livro em páginas, mas tenho uma estimativa. Sei que são entre 15 e 20 histórias escolhidas e o preço deve ficar em torno de R$ 30,00 a R$ 35,00. É um livro pequeno, mas será uma leitura bem interessante, tenho certeza.

Ainda estou bem longe de ser um escritor com alguma relevância, mas acho que essas pequenas conquistas devem ser valorizadas e, porque não, compartilhadas. Espero poder ter mais textos desse tipo publicados um dia. De qualquer forma, fico feliz por ter essa oportunidade de expressar minhas ideias, ainda que em uma obra simples, porém importante. Mais que isso, saber que alguém lê e considera o que escrevo interessante para si e para outras pessoas é sempre um incentivo a mais.

Assim que eu tiver maiores informações a respeito do lançamento, eu publico aqui na seção de Dicas de Leitura. Para quem já leu o texto e, mesmo assim, quiser comprar o livro, agradeço. Também fica como dica para presentear quem não tem acesso ao blog. Além disso, servirá como um meio a mais de divulgar e perpetuar o nome do Inter. Vale lembrar que não receberei um centavo sequer por isso, apenas um desconto para a comprar alguns exemplares. É um trabalho sem remuneração, feito com o coração mesmo. Então, é só aguardar mais uns meses. Espero que gostem.

Obrigado aos que acompanham este blog!


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Evolução


O mundo mudou ou as pessoas é que estão pensando menos? Ou será que são as duas coisas? Estamos realmente evoluindo?

Eu me faço essas perguntas quase diariamente. E não é apenas pelo que vejo no ambiente de trabalho e nas mudanças que ocorreram e vêm ocorrendo nos últimos anos, mas também pelo comportamento das pessoas no dia-a-dia. Parece que tudo ficou mais simples, ou melhor, menos complexo. Tanto as máquinas, ferramentas, utensílios, como os próprios relacionamentos. Parece que há uma tendência extremada à simplificação das coisas, ou melhor, em alguns casos, a palavra mais adequada parece ser mesmo "superficialização".

Quem está na faixa dos 30 anos ou mais sabe muito bem do que falo. Como o mundo mudou de 15, 20 anos pra cá! Às vezes até me espanta. Óbvio que muita coisa mudou pra melhor. A tecnologia nos deu uma nova forma de viver. Ao mesmo tempo, ela criou alguns tipos de comportamentos bem distintos daqueles com os quais tínhamos aprendido a conviver. Só se fala em "acompanhar o ritmo dos novos tempos". Mas que ritmo é esse? Será que tudo tem que acompanhar esse ritmo? Você acompanha?

Eu sinceramente acho que a educação tem um grande papel nisso tudo. A forma como as pessoas recebem educação em casa e nos bancos escolares mudou e, por conseguinte, mudam também comportamentos, estrutura familiar, etc. Mas a educação não fez nada sozinha: posso estar enganado, mas a tecnologia, em minha opinião, ao mesmo tempo em que causou tanta evolução, também é uma das responsáveis pela mudança na educação em geral.


Quando eu estava na escola, a nota média para você passar de ano era 7,0. Em algumas instituições, era 8,0. E normalmente o nível de ensino era relativamente bom, mesmo em escolas públicas. E se você não atingisse essa média, ficava em recuperação. Se ainda assim não alcançasse o objetivo, repetia o ano e ponto final. Já mencionei isso aqui, mas não custa refrescar a memória dos leitores: eu estudei minha vida toda em escola pública e nunca tive moleza. Ficar em recuperação já era uma baita derrota pessoal. Repetir o ano então era um completo desgosto, pra você e para sua família. Eis que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) muda lá em meados dos anos 1990 (acho que em 1997), e estabelece que a média para aprovação passasse a ser 5,0. Caramba! 5,0 era nota "vermelha" antes. Para mim, era o fim tirar 5,0 numa prova! Pensei comigo: agora qualquer um vai passar de ano. Mas, como se ainda não bastasse, a LDB "evoluiu" e atualmente é praticamente proibido um professor reprovar um aluno, tamanha a quantidade de "recuperações" a que ele é submetido até que consiga a média. Ou seja, a modernização do ensino agora está no fato de ninguém mais repetir o ano, não importa o quanto tenha aprendido. Nessa lógica, a repetência é péssima para o futuro profissional. Com uma lei mais "moderna", isso não mais acontece e você poderá chegar mais rápido a uma formação e, consequentemente, ao mercado de trabalho. Só que ninguém se lembra de "como" esse indivíduo vai chegar ao mercado. A consequência já pode ser vista, basta analisar a dificuldade em se preencher as vagas especializadas, principalmente nos setores como TI e saúde, onde sempre há mais vagas que candidatos.

Pra ajudar, a Internet está produzindo o que alguns chamam de uma "nova língua portuguesa". Eu prefiro chamar de "uma geração de analfabetos digitalizados". Como as pessoas parecem ter preguiça de escrever corretamente ou até mesmo de pensar hoje em dia. É uma dificuldade estabelecer um diálogo com a maioria das pessoas bem mais novas que você. E eu não estou falando de erros simples de português. Isso é normal a todos, eu mesmo cometo muitos. Falo da pressa com que as pessoas estão tentando absorver informação, mas sem guardar para si as partes úteis, que vão ajudar na formação intelectual. Querem tudo pronto, não constroem nada, apenas copiam ou recorrem ao Google. Acostumaram-se ou foram acostumadas com isso. Ler então, só Mangá, RPG ou Harry Potter. E se leem isso, já são considerados "nerds" pelos amigos. Ou melhor, pelos "miguxos". Aliás, diga-se, até o "miguxês" já está em desuso, tamanha a dinamicidade com que as coisas mudam. 


Nada contra esse tipo de leitura, eu mesmo acho algumas interessantes. Mas ler só isso não é bom. Culturalmente, há coisas na literatura brasileira e mundial muito mais enriquecedoras. Por causa dessa popularização da "linguagem fácil e acessível a todos", as próprias universidades adaptaram os seus vestibulares. Em algumas, basta você fazer uma redação simples para ser admitido. E olha que, mesmo assim, a comissão avaliadora ainda tem trabalho pra selecionar pessoas que consigam escrever bem. Tudo está consistindo em nivelar "por baixo". Impressionante. Quem tenta um intercâmbio no exterior tem um choque com o nível de exigência das escolas, se comparadas às do Brasil. 

Não obstante, a facilidade de comunicação das redes sociais vem criando uma geração de "Cyberidiotas", que não sabem de nada, mas acham que sabem de tudo, especialmente quando o assunto é política, religião ou futebol. Lembro-me de quando se dizia que "política, religião e futebol não se discute". Sábias palavras... Quem dera ainda fosse assim. Chega a ser chato abrir o Facebook e dar de cara com pseudo-ateus e pseudo-religiosos, que não conhecem nada sobre a realidade um do outro, discutindo sem razão nenhuma. Gente pedindo voto pra esse ou aquele candidato, outros condenando este ou aquele acusado (sim, hoje em dia as pessoas parecem serem culpadas até que se prove o contrário, justamente o oposto dos ideais da nossa Carta-Magna). Com o futebol é ainda pior. Tem quem torce pra um time, mas passa 90% do tempo falando mal do time rival. Vai entender. Eu gosto de futebol, mas tem certos limites para o fanatismo que frequentemente são extrapolados por alguns. Não vou nem falar sobre questões raciais, sociais e de sexualidade, igualmente polêmicas, senão escrevo um livro inteiro.

Parece que estamos ficando menos tolerantes, achando que só aquilo que fazemos e no que acreditamos é bom e que todo o resto relativo a quem é diferente não presta e deve ser eliminado. E isso em pleno século XXI. Quem diria! Não parece contraditório todo esse radicalismo descabido? Vale a pena alimentar isso? Se as pessoas ditas inteligentes, que tem acesso à informação e formam opiniões, estão agindo dessa forma, o que esperar das massas menos desenvolvidas daqui a alguns anos?

Nos ambientes de trabalho em geral também notamos mudanças. Antes, um analista/engenheiro (de qualquer coisa) era um cara com uma formação pesada, capaz de realizações complexas, era admirado por todos e tinha altas responsabilidades. Hoje, um analista é simplesmente um cara que faz mais do que simplesmente "executar" uma tarefa. É ou não é? Deem uma olhada nas vagas disponíveis na área de TI e vejam se estou errado. Esses dias eu vi uma vaga de "engenheiro de telemarketing" num anúncio no jornal. Sério. Agora me digam, qual é a tarefa "de engenharia" que há num trabalho desses? Aparentemente, nem suporte técnico faz partes das atribuições desse cargo. Então fica o quê? Nada contra quem trabalha com telemarketing, mas é evidente que estão dando um nome pomposo a algo que não requer um esforço equivalente. Aliás, gostaria de saber o que faz exatamente um “engenheiro de telemarketing”...


Com a música vemos algo parecido: as composições parecem ser feitas com prazo de validade, para durar "x" meses, vender muito e depois serem produzidas outras para substituir as anteriores. Alguém consegue identificar alguma música feita de 15 anos pra cá e que tenha jeito ou qualidade de clássico, daqueles que ficam décadas nas lembranças das pessoas? Parecem ser todas iguais. As bandas também, todas com o mesmo som. Melodias como as do Led Zeppelin ou Beatles não se veem mais, apenas um som pesado carregado de raiva e depressão na voz dos cantores que sequer sabem pelo que estão raivosos ou depressivos. 

Relacionamentos idem. Num mundo onde tudo está rápido, tudo é pra ontem, as relações não podiam ficar de fora. Casamentos duram menos, há menos casamentos. Isso porque ninguém fica mais satisfeito com algo duradouro. É preciso estar sempre mudando. A sociedade te diz que deve ser assim. É como se os preceitos da obsolescência programada estivessem interferindo no modo como encaramos os nossos relacionamentos pessoais (será que não está?). Não se trata de conservadorismo, mas parece que tudo perde a atratividade muito cedo, virou descartável. Isso não é bom em nenhuma época.

Entendam, não sou contra a modernidade e as facilidades que ela produz. Afinal, eu sou um profissional de TI e adoro tecnologia. Mas eu sou contra o conformismo/comodismo que essa mesma tecnologia pode gerar nas pessoas, que acarreta em ver tudo de forma superficial e intolerante. Incomoda-me muito o fato de alguns entenderem a tecnologia como algo que facilita tanto a sua vida a ponto de você sentir que não precisa mais pensar e refletir. Apenas emitir uma opinião já está bom. E você precisa emitir, senão é ignorado. 

Isso sim é que deveria ser trabalhado. Não sei ainda se isso que estamos vivendo será o futuro ou a tendência da evolução humana. Mas, quanto menos pensamos, mas perto estamos de voltar às nossas origens primatas. Pode ser um exemplo meio exagerado, mas tenho certeza de que muito da atual violência da nossa sociedade está na intolerância causada pela falta de cultura, informação e respeito ao próximo que se veem nas ruas, escolas, trabalho e nas redes sociais. A globalização tem tudo para ser um grande instrumento de paz, onde todo mundo compreende todo mundo e todos se respeitam. Falta é fazer com que isso entre na cabeça das pessoas e de alguns estadistas modernos.

Belchior escreveu brilhantemente que "é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem". Particularmente, creio que não devemos nos apegar demais ao passado. Realmente isso não cabe mais, embora eu muitas coisas de antes ainda possam e devam ser aproveitadas. Talvez a desilusão faça muitos gostarem de viver no passado, não apenas por serem avessos à mudança (o que é ruim), mas muito por não enxergarem ou por não sentirem possibilidades de mudança (o que é pior). Penso que devemos sempre tentar CONSTRUIR um futuro de forma consistente e que este seja realmente bom para todos. Preocupa-me a maneira como o novo está sendo colocado para a sociedade. Mais fácil nem sempre (e nem para tudo) significa melhor. Colocando outra música na jogada, me recordo da letra de "Do the Evolution" do Pearl Jam


"Admire-me, admire meu lar, Admire meu filho, ele é meu clone. Esta terra é minha, esta terra é livre. Eu faço o que eu quiser, irresponsavelmente. É a evolução, baby". 

De certa forma, esse trecho traduzido da música retrata um pouco da falta de noção e do egocentrismo dos pensamentos que vemos por aí. A geração do "iPod" e do "iPhone" está interiorizada demais. Esqueceu que o mundo tem outros atores. Em vez de "i", deveriam pensar no "us" e no "them" também. Perdoem-me pelo trocadilho malfeito, mas acho que serve para ilustrar a ideia. Já tem gente "mala" demais no mundo, por isso precisamos pensar mais para não adotarmos nem aumentarmos os que seguem este estereótipo.

Muito desse trabalho cabe a nós mesmos, desde que passemos a olhar para outros lugares que não sejam nossos próprios umbigos. Tem um ditado árabe que diz que "se um dia encontrares a luz, não a negue àqueles que ficaram na escuridão". Se a solidariedade e a caridade parecem algo démodé, talvez seja hora de tentarmos tornar isso "cult" de novo e disseminar coisas boas. Podemos usar nosso conhecimento de diversas formas para ajudar os outros: fazendo um trabalho voluntário, ajudando e instruindo quem precisa sem assistencialismo barato, agindo corretamente e honestamente, sendo responsáveis, respeitando as diferenças, educando nossos filhos para fazerem o mesmo, etc. 

Não sei nem consigo visualizar ao certo para onde vamos, só sei que há muito o que fazer até que a evolução seja completa, tecnológica e humanamente falando. Quanto a respostas para as perguntas iniciais do post, eu já tenho uma: sim, estamos evoluindo. O que eu ainda preciso descobrir é em qual direção estamos indo.


* Adaptado do texto escrito em 25/09/2008