O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Se Meu Fusca Falasse - Capítulo 1: Introdução


É sabido por todos que eu tenho predileção por automóveis antigos. Mas a verdade é que sempre faltou coragem na hora de comprar um, especialmente no caso de ter de encarar o desafio de uma restauração. A falta de tempo sempre foi a desculpa que estava na ponta da língua quando me perguntavam a respeito. Já tive um semi-clássico, um Corsa GSi, mas que ainda não pode ser considerado antigo. Outra paixão minha sempre foi o Opala Comodoro 78 com teto Las Vegas. Mas os preços abusivos e a complexidade e custo de restauração sempre foram um empecilho.


Mas ainda havia outro carro que tinha um significado especial pra mim: ele mesmo, o Fusca. Além de ser o carro mais popular de todos os tempos, ele é muito presente na minha vida, pois boa parte da minha infância eu passei dentro de um Fusca 1.300, ano 1977, que meu pai comprou quando eu tinha uns 4 anos de idade. Foi o primeiro carro dele. Era branco, mas tinha algumas modificações, como volante menor, console central e lanternas “Fafá” (que, originalmente, só passaram a ser oferecidas em 1979). Mas boa parte dos meus tios também tinha Fusca. Lembro que, das várias reuniões de família ou festas de igreja das quais participei no interior de Santo Antônio da Patrulha – RS (hoje Caraá), era muito comum olhar ao redor e ver que 90% dos carros da família eram Fuscas ou Derivados. Era um sinônimo de carro, ou de primeiro carro. Essa simpatia toda pelo modelo me fez jamais tirar ele da cabeça, mesmo não estando no topo da lista para quando eu comprasse um antigo.


Não estava, mas acabou estando. De uns tempos pra cá, essa nostalgia aumentou consideravelmente e eu decidi que iria atrás de um Fusca. Mas qual modelo eu iria buscar? Iria procurar um pronto ou um para restaurar? Eu sempre tive como modelo favorito o modelo 1500, chamado de “Fuscão”.  Achava ele bonito e bem acabado, se comparado aos que vieram depois dele ou mesmo os anteriores, dos anos 60. O Fuscão nasceu em 1970 e foi até 1975. Porém, passou por umas modificações ao longo do tempo. E essas modificações foram fundamentais na minha escolha. Eu escolhi o modelo 1973 como alvo principal. Por quê? Bem, primeiramente,  vamos a um breve histórico:


Quando foi lançado, em 1970, o Fuscão 1500 trazia um novo padrão de acabamento para a linha VW. Ele possuía interior com acabamento imitando jacarandá no painel e nas laterais internas. Os bancos eram  mais aconchegantes e era possível adquirir o carro com diferentes cores de acabamento interno. Era como se fosse a era de “luxo” do Fusca no Brasil. Motor e acabamento melhores e diversas combinações possíveis de cores e interior. Não é à toa que o modelo 1500 foi o mais vendido durante essa parte da década de 1970, mesmo sendo mais caro que o 1300.

Fuscão 1972 com faróis "olho de boi"

Interior do Fuscão 1500 (1970 até 1972)


De 1970 até 1972, o Fuscão ainda tinha a frente com os chamados faróis “olho de boi”, mais horizontais, que, pra mim, apesar de bonitos, deixavam o besouro com aparência mais séria, meio invocada (sim, os carros têm rostos pra mim). Já em 1973, chegou a frente “nova”, com faróis em posição mais vertical. O capô traseiro passou a ter 28 aberturas de ventilação, em vez das 10 anteriores. 

10 aberturas de ar (até 1972)
28 aberturas de ar (1973 em diante)


O acabamento interno também sofreu algumas mudanças, com tecidos corrugados nos bancos (que saíram apenas em 1973), mais opções de cores dos estofados e tapete inteiriço. 

1973 - Tecido Corrugado

Por fora, uma diversidade de cores nunca antes vista na linha. O Fusca passou a ter uma cara mais simpática, que, pra mim, é a mais clássica de todas. Aquela que encantou a maioria das pessoas. Em 1974 e 1975, a VW resolveu cortar custos e limou os acabamentos em jacarandá, passou a ter painéis, bancos e laterais apenas na cor preta. Ou seja, foi-se a sofisticação. O fato de eu ter escolhido o modelo 1973 foi justamente por ele ser, de certa forma, único: Ele tem o acabamento do 1972, mas o visual mais “moderno”. É como se fosse o Elo Perdido. E, claro, este é o ano em que a VW fez as cores mais legais. A minha preferida era o Verde Hippie. E é aí que começa a história...


Comecei a procurar um Fusca em meados de 2012. Muitos anúncios na internet, passadas por lojas de carros, mas nunca achava um que estivesse bom o suficiente ou por um preço não extorsivo. Mas eu não tinha pressa e, não estava necessariamente fixado apenas naquela cor.  Mas, eis que, em fevereiro de 2013 eu encontrei um anúncio com um Fusca 1500 1973 Verde Hippie para vender, numa cidade vizinha. O carro estava completamente novo, havia ficado parado por 25 anos. Tinha apenas 58 mil km originais. Na maior das inocências, postei o link do anúncio num fórum para que os colegas me passagem dicas sobre o carro. É verdade que eu demorei bastante até resolver ir à loja pessoalmente. Mas fui. E fui decidido a comprar o carro. E ele era lindo. Era só sair da loja e fazer vistoria para placa preta. Nível de originalidade 100%. Até hoje não vi outro igual. Interior preto, impecável. Porém, cheguei tarde. Havia sido vendido há meia hora para Curitiba. Depois que olhei o carro mais de perto, saí da loja ainda mais triste, chorando mesmo. Se eu tivesse ido ou ligado um dia antes, teria sido meu. Eu levei mais de uma semana para tomar essa decisão. E isso me custou o sonho.


Pouco tempo depois, vi o mesmo carro para vender em Curitiba, pelo dobro do preço que ele foi vendido aqui. Obviamente, foi comprado por alguém que percebeu que ele estava “barato” pela originalidade e que queria apenas lucrar com uma venda futura. Enfim, a decepção foi grande. Mas eu não iria desistir. Continuei procurando, sem pressa, até que aparecesse um que eu gostasse. E apareceu.


Interior do meu Fuscão
Algum tempo depois, em Abril de 2013, encontrei na internet o anúncio de outro Fuscão 1973 Verde Hippie para vender. Ele estava sendo vendido pela metade do preço do outro e, claro, não estava tão bom quanto. Mas, pelas fotos, parecia ser um carro bem alinhado e com bom índice de originalidade, o que facilitaria uma restauração. Mas a melhor parte era o interior. Ainda mantinha as forrações originais. Tinha certo desgaste, mas nada mal para um carro com 40 anos. O painel de jacarandá era original e estava impecável. E o interior era na rara cor “Castor”, que, juntamente com a cor externa, formava uma combinação ainda mais rara de se ver.  Costumo dizer que comprei o carro pelo lado de dentro, não pelo de fora.

Fuscão à caminho de casa
Sim, comprei o carro. Mas não foi tão simples. Ele estava em Taubaté-SP. Eu resolvi comprar por que, além de tudo o que eu disse, ele tinha placas com iniciais do RS. Ou seja, devia ter sido levado daqui e emplacado em SP. Então eu iria, literalmente, trazer ele de volta pra casa. Conversei com um conhecido que trabalha com caminhões cegonha e que, por acaso, estaria pela região naquela  época. Acertei tudo com ele e depois fechei o negocio com o dono do carro. Recebi várias fotos detalhadas e vídeos antes disso, que me ajudaram na escolha. Também a pessoa que fez os trâmites pra mim e que trouxe o carro rodando de Taubaté até a Capital, iria fazer uma checagem para ver se estava tudo ok. Como ele me deu elogios sobre a estrutura do carro e sua originalidade, fechei o negócio e depositei a grana. Em uma semana, o carro estava comigo. 


Ele estava relativamente bom, mas tinha muitas peças originais trocadas por outras paralelas e tinha retoques malfeitos na pintura, além de outras gambiarras menores. Minha ideia seria ir aproveitando ele ao longo do ano e ir comprando as peças faltantes, mês a mês, até ter todas, ou, pelo menos as principais. Aí então eu iniciaria a busca por uma oficina especializada para fazer a restauração.

Percebe-se que está muito alinhado (a porta estava aberta mesmo)

Parte da frente foi pintada com outro tom de verde

Nota-se retoques malfeitos nos para-lamas traseiros

Dei algumas voltas, fiz alguns passeios, participei de alguns encontros ao longo de 2013. Mas sempre tinha aquela pequena frustração de olhar para o carro e ver todo o desgaste e descuido que ele sofreu ao longo dos anos. A julgar pelo alinhamento e dos acabamentos, eu diria que ele foi muito valente, pois se manteve íntegro apesar de alguns maus tratos. 



E, foi justamente no dia 19 de janeiro de 2014, véspera do dia nacional do Fusca, que o processo restauração deu o primeiro passo. Fui ao encontro do Poa Fusca Clube, em Porto Alegre e encontrei um antigo conhecido da época do Corsa Clube. Assim como eu, ele havia deixado o Corsa e comprado um Fusca. Ele me apresentou um amigo dele que havia recém restaurado um Fusca 1600 75. O carro parecia novo. O trabalho nele havia sido muito bem feito. Conversei com o proprietário para pegar mais informações sobre onde ele havia feito, quanto tinha gasto, etc. E aí ele me indicou a Cia do Fusca, em Porto Alegre, que é uma loja e oficina especializada em VWs antigos e que também trabalha com restaurações.


Encontro Dia Nacional do Fusca - Janeiro de 2014

Bons indicativos vieram ao ver que a loja restaurava Kombis e as vendia para a Europa. Isso dava uma boa ideia da qualidade do trabalho deles. Então, fui fazer uma visita. Gostei bastante do atendimento e do conhecimento que o proprietário da loja, o Sr. Enio Machado tinha sobre o assunto. Não foi preciso muita conversa. Defini um dia para levar o carro lá e fazer um orçamento. E foi o que fiz. 


Em 25 de janeiro de 2014 levei o Fuscão até a Cia do Fusca e já fizemos um orçamento para a restauração. A ideia é buscar a placa preta, com o máximo de originalidade possível. O carro tem um ótimo potencial, só precisa de atenção.  A restauração deve durar uns 4 meses e irei contar os detalhes dela aqui no blog, passo a passo, desde o início. Aguardem novas postagens.


Se meu Fusca falasse, ele diria que achava que não tinha mais jeito, mas que, agora, enxerga uma chance de recomeçar.