A Jane trabalhava numa empresa multinacional de TI, na área de qualidade de software. Era uma excepcional profissional e muito competente naquilo que fazia. Ela tinha uma produção muito acima da maioria de seus colegas de projeto. Não raro, ela abraçava as tarefas de outros e conseguia cumpri-las no prazo, mesmo tendo de fazer as suas em paralelo. Alguns de seus colegas reconheciam sua capacidade e viam nela um grande potencial de crescimento. Só que essa gana toda em produzir e tentar crescer não foram transformadas em promoção ou aumento de salário.
Ela era competente, porém gananciosa. Só que não exatamente de uma maneira saudável. Não bastava para ela seguir os degraus da estrutura de cargos da empresa. Ela queria ir direto para cima e depressa demais. Trabalhava muito, porém sempre fazia questão de dizer a todos o quão melhor era em relação a seus colegas e o quanto alguns eram incompetentes. Alguns realmente eram incompetentes, mas a abordagem com que ela tratava esse assunto acabou gerando diversos conflitos na empresa.
Pelo fato de achar que era mais competente (de certa forma, era, mas não necessariamente "a" mais competente), raramente aceitava suas notas nas avaliações que o RH fazia. Não que ela não merecesse, mas sabemos que em algumas empresas o papel do RH, infelizmente, é sempre deixar um "algo mais" a ser buscado, pois, se o profissional tiver nota máxima, não terá o que buscar até a avaliação seguinte, de acordo com essa “teoria”. É meio perverso, mas acontece e é preciso saber lidar com isso. Mas Jane não aceitava e reagia sempre de maneira áspera, falando mal de outras pessoas, incansavelmente buscando justificativas, juntando "provas" de sua competência e da incompetência dos outros para mostrar ao RH e tentar fazê-los ver o quanto estavam errados.
Todo esse esforço de autopromoção acabou gerando um clima muito pesado no time, visto que depois de um tempo ela já não deixava sua insatisfação restrita ao RH. Nem os gerentes foram poupados. Ela realmente resolveu "chutar o balde no pau da barraca". Chegou ao ponto de dizer que era boa demais para aquela empresa. Obviamente, não tardou a ser demitida. Mas não deixaria barato: antes de sair, ainda conseguiu deixar contra ela até as últimas pessoas que a apoiavam, aplicando novamente a mesma estratégia. Perdeu a razão, literalmente.
Como tinha um bom currículo, não demorou a encontrar outro emprego. Até fez com que seus ex-colegas achassem, por um tempo, que talvez tivesse sido injustiçada de alguma forma. Isso até o dia em que foi demitida novamente, pelos mesmos motivos, e sempre dizendo que "um dia encontraria uma empresa que merecesse alguém como ela e que reconhecesse o valor seu trabalho diferenciado". Sinceramente, não sei se já conseguiu.
A linha entre ser bom e ser arrogante pode ser tênue, dependendo de como a pessoa lida com isso. No caso da Jane, houve falhas do RH, mas o principal foi que faltou jogo de cintura a ela para administrar a situação e sobrou prepotência. De nada adiantou ser uma profissional tecnicamente qualificada se ela sucumbiu ao ego na primeira vez em que se viu contrariada ou injustiçada. As coisas podem não estar fáceis em muitas ocasiões, mas você não precisa deixá-las ainda piores e, de quebra, contaminar toda a sua equipe.
Tudo isso me faz pensar em um ponto diversas vezes esquecido hoje em dia: por mais qualificado e competente que possa ser, você nunca sabe tudo. É sempre preciso ter humildade, tanto para aprender com os outros (competentes ou não), quanto para respeitá-los. E também para lidar com as adversidades. Nosso mundo de ciências exatas (?) muitas vezes nos afasta desses tipos de valores. Ter em mente que o seu conhecimento não é absoluto e que você eternamente estará aprendendo algo novo talvez seja o passo principal para ser um profissional cada vez melhor. É por aí que você começa a ser respeitado e mantem-se competitivo.
* Adaptação do texto publicado em 23/06/2008
0 comentários:
Postar um comentário