O mundo
mudou e, com ele, muitas outras coisas. Uma delas, devemos concordar, foi a
indústria da música. Já se vai o tempo onde vender disco era a principal fonte
de receita dos artistas. Desde que a música se digitalizou, popularizando o mp3
e, com ele, a pirataria, as coisas não são mais as mesmas. Pirataria sempre
existiu, mas a internet tornou ela mais fácil e acessível. Mesmo as formas
legais de comércio digital, como o iTunes, não tiveram piedade do pobre do disco.
Ainda há lançamentos em CD, claro. O velho vinil, por incrível que pareça, está
ressurgindo em alguns mercados de nicho. Mas a forma mais popular hoje é, sem
dúvida, a música digital.
E tem
suas razões para sê-lo. Com um pequeno tocador de mp3 você já consegue
armazenar e transportar milhares de músicas, coisa que nos tempos dos
toca-discos, toca-fitas e até mesmo CDs era impossível. Ainda tem gente que
prefere as mídias antigas. Embora os ouvidos de 90% da população não percebam a
diferença, há aqueles que defendem a tese de que nada se compara em qualidade
ao som do vinil. Pode até ser, mas é preciso um aparelho muito bom para não
ouvir os tradicionais chiados dos discos antigos. Disso eu não sinto falta,
embora concorde em parte quanto à questão técnica da coisa.
Inegavelmente,
é muito mais prático hoje em dia. Se não fosse o mp3, o cartão de memória, o
meu smartphone e os fones bluetooth, eu jamais conseguiria levar
para qualquer lugar as milhares de músicas que tenho armazenadas. É uma beleza
mesmo.
Só que
tem um ponto que a tecnologia não conseguiu substituir: a identidade visual dos
discos. Essa era a parte mais legal de você comprar um. Você chegava da loja,
desembrulhava o vinil e tinha uma capa, simples ou dupla, que identificava
unicamente aquela obra. Era parte da concepção artística. Dava alma ao álbum.
Fazia com que fosse possível "ver" as idéias ali expressadas. Ainda
tinha o encarte interno, com as letras das músicas, fotos, etc. Comprar um
disco era uma experiência. Admira-me como a Apple, que sabe como ninguém sobre
experiência do consumidor, ainda não tenha desenvolvido um jeito pra isso. Ou
outra empresa, que seja. O fato é que isso se perdeu com o tempo. Ainda lembro-me
das discussões ferrenhas com amigos, onde filosofávamos acerca de algumas capas
de discos. Dessa parte eu sinto falta, com certeza.
Os discos
ainda tinham um algo mais que se perdeu: o fato de terem dois lados.
Normalmente, o lado A de um disco continha as músicas de trabalho e/ou as mais
comerciais, aquelas enviadas para as rádios para a divulgação inicial. O lado B
era mais experimental, onde os artistas tentavam criar as obras mais de acordo
com gostos pessoais, tentar novos conceitos, instrumentos, arranjos, etc.
Muitos álbuns eram concebidos tendo essa diferença sendo o seu direcionador. A
escolha da ordem das músicas levava isso em conta também. O Vinil e o K7 ainda
tinham essa separação. O CD acabou com a brincadeira. E o mp3 acabou com o CD e
com o conceito de álbum. Essa é a parte chata.
Todo esse
baita falatório aí em cima foi só pra contextualizar o propósito deste post.
Como muitos devem saber, eu sou um amante do bom e velho Rock and Roll,
e acho que a geração atual está perdendo muito em termos de conteúdo nas
músicas, não só no Rock, mas em
geral. Assim como a música ficou mais acessível, também os músicos ficaram mais
acomodados. Parece que os roqueiros estão com preguiça de pensar. Ou então não
têm mais no que se inspirar. Nem as letras nem os arranjos parecem dizer algo
de útil. Pode ser nostalgia da minha parte, mas não vejo exemplos que
demonstrem o contrário.
Mas
enfim, o ponto principal é que o disco tinha o poder de perpetuar as obras dos
músicos. E, dentre tantos discos clássicos do Rock, eu listaria cinco
deles que todo ser humano deveria ouvir ao menos uma vez na vida. São
consideradas as obras-primas de seus autores e estão na minha lista de
preferidos. Escolhi cinco porque acho um número suficiente para coisas
preferidas em cada área. Mais do que isso não é preferência, e sim uma mera
listagem de coisas das quais se gosta. Curiosamente e por acaso, depois de um
tempo eu descobri que meus cinco discos de rock
favoritos estão entre os dez melhores da história, de acordo com o Rock AndRoll Hall of Fame, da Revista Rolling Stone, que lista um total de
duzentos. Ou seja, minhas dicas não são nada furadas, elas têm um bom
embasamento e contam com o suporte relevante da opinião pública (risos).
Vou
listar apenas discos internacionais, mas prometo fazer uma lista nacional um
dia desses para postar aqui. Não vou me alongar muito nas descrições de cada
um. Para isso, há links nos respectivos títulos, que apontam para a
Wikipedia. E também, se eu falar tudo, vai tirar a vontade de muitos em
procurar saber mais a respeito de cada obra. E a idéia é justamente instigar
você, querido leitor, a ter a curiosidade de buscar mais informações. Os discos
estão organizados por ordem de lançamento, não de preferência. Então, você que
ainda não ouviu nenhum deles, ouça e aprenda como é que se faz rock de verdade. Se possível, consiga o
disco ou CD, para entender como uma capa pode expandir a compreensão da
percepção dos artistas ali registrados e fazê-lo visualizar a obra como um
todo.
Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967): Sem dúvida, o melhor disco dos Beatles.
Para muitos (muitos mesmo) é considerado o melhor disco da história. Não por
acaso, está em primeiro lugar na lista do Hall of Fame. É um divisor de
águas na carreira da banda de Liverpool. A Beatlemania estava
enfraquecida, eles não queriam mais fazer discos ao estilo iê-iê-iê.
Deram uma pausa nas turnês e puderam, pela primeira vez, ter tempo suficiente
para se dedicar a um novo álbum. Ao ser lançado, inovou tanto em técnicas de
gravação quanto em sonoridade, usando instrumentos poucos comuns para a época.
Para se ter uma idéia da dimensão dessa obra, praticamente todos os discos aí
abaixo tiveram ou usaram conceitos deste aqui. Por isso ele está no topo. Ele
também ficou famoso por ter as músicas todas como sendo sequências umas das
outras e pela própria capa, repleta de fotos de celebridades, e que gerou
diversas teorias de mensagens subliminares, incluindo a de que Paul McCartney
havia morrido. Curiosamente, dois grandes sucessos da banda ficaram de fora do
disco. Strawberry Fields Forever e Penny Lane originalmente
fariam parte dele, mas acabaram entrando apenas no álbum seguinte. Porém, até
hoje parecem nunca ter saído de lá, tamanha sua integração com as demais
canções.
Músicas:
Lado A
1. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
2. "With a Little Help from My Friends"
3. "Lucy in the Sky with Diamonds"
4. "Getting Better"
5. "Fixing a Hole"
6. "She's Leaving Home"
7. "Being for the Benefit of Mr. Kite!"
Lado B
1. "Within You Without You"
2. "When I'm Sixty-Four"
3. "Lovely Rita"
4. "Good Morning Good Morning"
5. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)"
6. "A Day in the Life"
1. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
2. "With a Little Help from My Friends"
3. "Lucy in the Sky with Diamonds"
4. "Getting Better"
5. "Fixing a Hole"
6. "She's Leaving Home"
7. "Being for the Benefit of Mr. Kite!"
Lado B
1. "Within You Without You"
2. "When I'm Sixty-Four"
3. "Lovely Rita"
4. "Good Morning Good Morning"
5. "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)"
6. "A Day in the Life"
Led Zeppelin IV (1971): Esse álbum tem uma
importância muito grande para o rock porque deu a ele clássicos que até
hoje tocam nas rádios. Ok, isso todos os discos dessa lista fazem. Só que esse
aqui tem algumas particularidades. Se o Sgt
Peppers foi o melhor disco da história, o quarto álbum do Led Zeppelin tem
aquela que é considerada a melhor canção de rock
da história: Stairway to Heaven. Todo mundo que toca violão aprende o
solo dessa música desde as primeiras aulas. O disco está no quarto lugar do Hall
of Fame. O lançamento também teve seus fatos inusitados. Imagine que você
seja uma banda famosa e lance um álbum sem título, cuja capa tem apenas fotos e
quatro símbolos, um representando cada integrante. Nem o nome da banda aparece.
Pois é, esse é o caso. E isso deve ter sido um dos fatores que criaram toda a
mística do disco e o fizeram ser um recordista de vendas, elevando o Led
Zeppelin ao status de superbanda, com todos os excessos a que isso tem
direito. Ele sequer tem um nome oficial até hoje, sendo conhecido por
pseudônimos como "Zoso"
(que parece ser a palavra escrita no primeiro símbolo), "Four Symbols" ou simplesmente
"Led Zeppelin IV". Até os
catálogos têm dificuldades de listá-lo por conta disso. Eu prefiro a última
denominação. O disco é repleto de clássicos, tem o melhor do Hard Rock, com
uma qualidade musical incrível, de uma das bandas mais incríveis.
Músicas:
Lado A
1. "Black Dog"
2. "Rock and Roll"
3. "The Battle of Evermore"
4. "Stairway to Heaven"
Lado B
1. "Misty Mountain Hop"
2. "Four Sticks"
3. "Going to California"
4. "When the Levee Breaks"
1. "Black Dog"
2. "Rock and Roll"
3. "The Battle of Evermore"
4. "Stairway to Heaven"
Lado B
1. "Misty Mountain Hop"
2. "Four Sticks"
3. "Going to California"
4. "When the Levee Breaks"
Dark Side of the Moon
(1973):
O que dizer de um álbum que contém canções que exploram malesas humanas
como dinheiro, tempo, loucura, morte, etc. se tornar um dos mais vendidos da
história? Mais do que isso, este disco tem uma sonoridade inigualável, experimentações
inéditas até então, com direito até a pitadas de música eletrônica. Em 1973! É
a masterpiece do rock progressivo, sem questionamentos. Também
mudou tudo o que se ouvia falar do Pink Floyd. Os caras viraram gênios da noite
para o dia, plenamente justificado, diga-se. É um disco onde o instrumental é o
protagonista, até as vozes parecem melodia. Ocupa a segunda posição do Hall
of Fame. Depois dele, muita gente passou a mudar os parâmetros de audição
musical, inclusive para as passagens de som de shows. Quer testar a fidelidade
de qualquer aparelho de áudio? Coloque este disco para tocar! É daqueles álbuns
que eu chamo de "chapantes". Você ouve e fica meio aéreo. Experimente
ouvi-lo sozinho, num lugar silencioso e com bons fones de ouvido. Vai entender
o que eu digo... Embora a capa seja das mais famosas, talvez o fato mais
interessante seja a suposta sincronia do disco com o filme "O Mágico de
Oz", de 1939. A banda sempre negou essa relação, mas é notório que tem
caroço nesse angu. Ou melhor, tem coincidências demais. Na internet é possível
encontrar a versão do filme sincronizada com o disco. Você certamente vai se
surpreender. Com o disco.
Músicas:
Lado A
1. "Speak to Me/Breathe"
2. "On the Run"
3. "Time/Breathe (Reprise)"
4. "The Great Gig in the Sky"
Lado B
1. "Money"
2. "Us and Them"
3. "Any Colour You Like"
4. "Brain Damage"
5. "Eclipse"
1. "Speak to Me/Breathe"
2. "On the Run"
3. "Time/Breathe (Reprise)"
4. "The Great Gig in the Sky"
Lado B
1. "Money"
2. "Us and Them"
3. "Any Colour You Like"
4. "Brain Damage"
5. "Eclipse"
The Joshua Tree (1987): Se o U2 é uma das bandas
mais ricas do planeta, muito ela deve a este disco. Diferente de outros álbuns
clássicos, não há nenhuma mística envolvendo este. A árvore que dá título à
obra é uma planta que nasce no deserto, resistente ao calor e ao frio que faz à
noite. Também tem simbolismos bíblicos, mas o nome foi usado apenas
artisticamente, não tem um significado específico. O disco é famoso e vendeu
muito porque tem ótimas músicas. Antes dele, o U2 era uma banda que fazia
músicas com alguns temas políticos e sociais. Continuou sendo, mas, depois
dele, virou o que vemos hoje: uma superbanda moderna. O disco é uma espécie de
crítica aos EUA do período Ronald Reagan. Fala das duas Américas que eram
visualizadas: a América mítica, da liberdade, e a real, das restrições
políticas e da ganância dos políticos. Até hoje é considerado o melhor álbum do
U2, estando também na quinta posição do Hall of Fame dos discos
definitivos do rock. Foi justamente por causa deste disco que eu comecei
a acompanhar a obra deles mais de perto. A curiosidade é que um dos maiores hits,
"With or Without You" quase foi descartada por ser considerada
simples demais. Imagina só se isso tivesse realmente acontecido. É daquelas
coisas pequenas que podem mudar toda uma história apenas por um detalhe. Que
bom que não mudou.
Músicas:
Lado A
1.
"Where the Streets Have No Name"
2. "I Still Haven't Found What I'm Looking For"
3. "With or Without You"
4. "Bullet the Blue Sky"
5. "Running to Stand Still"
2. "I Still Haven't Found What I'm Looking For"
3. "With or Without You"
4. "Bullet the Blue Sky"
5. "Running to Stand Still"
Lado B
1. "Red Hill Mining Town"
2. "In God's Country"
1. "Red Hill Mining Town"
2. "In God's Country"
3. "Trip Through Your Wires"
4. "One Tree Hill"
4. "One Tree Hill"
5. "Exit"
6. "Mothers of the Disappeared"
Nevermind (1991): Este é apenas o segundo álbum de estúdio do
Nirvana, mas teve o efeito de um tsunami no mundo do rock no início dos anos de 1990. Ele foi
responsável por trazer o movimento grunge aos holofotes definitivamente.
O disco tem aquela que é considerada a melhor capa de todos os tempos, mas bom
mesmo é o som variado e agressivo que ele tem. Eu gosto de outras bandas do
mesmo estilo, como o Pearl Jam, mas este disco é de uma grandiosidade que não
chegou a nenhuma outra banda de Seatle. Estourou nas paradas rapidamente e seu
sucesso meteórico acabou por causar toda uma pressão em quem ainda não estava
acostumado a lidar com ela. A pressão da fama obtida por esse trabalho é
considerada uma das causas do suicídio de Kurt Cobain. Mas essa é outra
história. Esse disco é épico porque acabou com a mesmice que estava se tornando
o rock na época. Quebrou paradigmas. Instrumentalmente
muito bem concebido, é possível sentir toda a sua energia meio depressiva ao
ouvi-lo. É o único disco dos anos 1990 que está entre os dez mais do Hall of
Fame (é o décimo, exatamente). Kurt achava que podia mudar o mundo. Ao
menos, conseguiu mudar o rock. Pena
que hoje as coisas parecem estar se acomodando de novo. Estamos precisando de
um novo Nirvana.
Músicas:
Lado A
1.
"Smells Like Teen Spirit"
2. "In Bloom"
3. "Come as You Are"
4. "Breed"
5. "Lithium"
6. "Polly"
2. "In Bloom"
3. "Come as You Are"
4. "Breed"
5. "Lithium"
6. "Polly"
Lado B
1. "Territorial Pissings"
2. "Drain You"
2. "Drain You"
3. "Lounge Act"
4. "Stay Away"
5. "On a Plain"
6.
"Something in the Way"
Bem, espero
que tenham gostado da lista. Obviamente tem muitos outros discos legais, mas eu
listei aqueles dos quais eu mais gosto. Fiquem à vontade para comentar e dar
suas opiniões. Essa é a minha lista. Faça você a sua também! Ah, e lembram-se do que eu falei no início do post, de
que as músicas de antes tinham mais conteúdo e melhor arranjo? Eu dei uma outra
olhada na lista do Hall of Fame e percebi que não há, nem entre os dez,
nem entre os vinte primeiros, um disco sequer que tenha sido lançado de 2000
para cá. Por que será, hein?
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