Quando se fala em trabalho em TI, precisamos levar em conta o tamanho do mercado. Em se tratando do mercado gaúcho (mais especificamente da Região Metropolitana de Porto Alegre, onde concentram-se a maioria das empresas de TI de ponta), pode-se dizer que ele é, de certa forma, "pequeno". A variedade de empresas não é tão grande como no caso de São Paulo, por exemplo. E, nessa fase de aquecimento da economia, você pode passar por várias empresas durante os anos, muitas vezes reencontrando pessoas que trabalharam com você em outras oportunidades. Eu mesmo já passei por essa experiência algumas vezes e tenho certeza de que, mais cedo ou mais tarde (ou pelo menos enquanto eu estiver trabalhando no RS), isso vai acontecer de novo.
Não menos impossível é você retornar para uma empresa na qual já trabalhou e que gostava de trabalhar. Essa dinâmica maluca hoje em dia é mais comum do que se pensa. Bem diferente daquela filosofia oriental que algumas empresas adotavam até o início dos anos 90, onde você trabalhava 30 anos no mesmo lugar e jamais pensava em sair. A estabilidade era quase garantida. Meu pai, por exemplo, ficou mais de 20 anos na mesma empresa, até se aposentar. Isso é quase impossível de se ver atualmente, ainda mais em mercados que mudam constantemente. Li em uma dessas revistas empresariais que a média de tempo que um funcionário passava em uma mesma empresa era de cerca de 15 anos na década de 80, passando para menos de 8 anos nos dias atuais. E se formos filtrar apenas a área de TI, essa média baixa drasticamente. Eu chuto que deva ser de uns 2 a 3 anos. Com toda essa mudança de contexto, me pergunto diariamente como lidar com esse mundo.
Se você conversar com consultores especializados, provavelmente irá ouvir as velhas máximas do "mantenha-se sempre atualizado", "estude sempre", etc. É óbvio que isso é importante. Eu diria que é fundamental. Outra questão a se considerar é bem conhecida e está relacionada ao seu networking, ou seja, a sua capacidade e quantidade de relacionamentos com outras pessoas que possam indicar seu trabalho para outras empresas. Parece estranho, mas esse pode ser um diferencial entre você e outro candidato.
Mas, entre todos esses fatores, existe um que pouca gente menciona nas revistas ou palestras e que é sim muito importante para encarar tudo isso. Esse fator consiste no "como" você sai de uma empresa. É um tipo de coisa que só a experiência vai ajudando a gente a perceber. Você pode sair de uma empresa deixando portas abertas ou fechadas. Vamos observar as duas situações.
Comecemos então pelas portas fechadas. Se você já trabalhou em algum lugar onde não se sentia bem ou não estava satisfeito, é bem provável que, aos sair de lá, tenha sentido vontade de falar tudo o que queria sobre a empresa durante a famosa entrevista de desligamento, certo? Tem gente que lava a roupa suja mesmo, coloca à tona todas as suas frustrações. Você poderia estar insatisfeito bem antes de sair e isso pode até ter influenciado no seu desempenho. Se seus gerentes tiverem notado isso, pior: você poderá sair deixando uma má impressão. E se você "chutar o balde", como fez a Jane, nem se fala. É quase certo que as portas naquela empresa se fecharão pra você e, pelo menos enquanto seus conhecidos estiverem ali, você não terá um bom conceito entre eles, e um eventual retorno será muito difícil de acontecer.
Da mesma forma, pessoas que trabalharam com você e foram para outras empresas poderão levar consigo esse conceito e poderão disseminá-lo. Isso parece meio cruel, mas, nos bastidores, é o que acaba acontecendo. É a disfunção do networking, ou networking negativo. Você terá de trabalhar muito para mudar essa imagem ou então, por exemplo, migrar para outro mercado onde você não seja conhecido e, obviamente, tratar de corrigir os problemas anteriores.
Mas para quem consegue manter a tranquilidade, mesmo nos momentos ruins e de insatisfação e age com maturidade nesses casos, é possível que o cenário seja diferente. Se você sempre fez um bom trabalho e se preocupou em ser sincero sem ser estúpido ou sem provocar nenhum problema para a empresa, há boas chances de você retornar àquela companhia no futuro. Mais do que isso, você cria o networking saudável e positivo, onde as pessoas recomendam você onde elas estiverem. Não é fácil pensar dessa forma. Eu mesmo levei algumas pancadas até perceber que não vale a pena gerar certos conflitos. Ao contrário, deixar uma boa impressão por onde você passa é muito bom para seu futuro profissional. Mas atenção: quando falo em deixar uma boa impressão, estou dizendo que isso deve vir através de um trabalho sério e bem feito, de méritos reais e de suor. Bajulação, fingimento e assemelhados estão dispensados desse conceito. Competência sim é a palavra-chave aqui.
Acredite, nós só percebemos o quanto isso é bom no momento em que saímos e quando a entrevista de desligamento é repleta de elogios e de sinceras intenções de que a empresa gostaria de um dia contar com você novamente. E se você repassa isso por onde você vai, as chances de você estar sempre no mercado, aprendendo e vivendo novas experiências é muito maior. Por isso, pense bem nas suas atitudes. Nunca deixe de brigar pelo que quer, mas saiba fazer isso com maturidade e méritos, pois seu comportamento pode influenciar no seu futuro mais cedo do que você imagina.
*Adaptação de texto escrito em 25/08/2008
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