Lembram-se daquele comercial memorável da Mastercard (intitulado
"Caipira" e que foi bastante premiado, por sinal) onde um cara
apanha umas frutas de um pomar e um fazendeiro vem cobrar por elas? O sujeito
então indica que não tem dinheiro, mas tem um cartão Mastercard. Quando ele
pensa que vai conseguir levar as frutas de graça, o "tiozinho",
supostamente dono do pomar, mostra pra ele uma máquina wireless de
cartão de crédito, evitando que o "cliente" tivesse desculpas para
não pagar pela mercadoria adquirida.
Essa cena já é uma realidade em muitos lugares, especialmente em pontos
turísticos, pois facilita enormemente a vida de estrangeiros que querem comprar
algo em outro país. É uma facilidade, sem dúvida. Você só precisa ter seu
cartão de crédito em mãos para poder comprar praticamente qualquer coisa que o
seu limite permita e só precisa aguardar uns dias para pagar as compras na sua fatura.
Mas não são todos os lugares que oferecem tal conveniência, infelizmente. Essa
facilidade deveria ser, no mínimo, "de praxe" em qualquer cidade
turística. No Brasil, porém, as coisas ainda estão demorando a acontecer. Temos
um imenso potencial turístico, mas parece que ainda não estamos preparados
totalmente para atender a essa demanda. Quando eu falo em
"totalmente", refiro-me ao fato de observarmos diferentes
comportamentos a respeito de uso da tecnologia para facilitar a vida dos
turistas, de acordo com a região do país. Lembro agora de dois exemplos
distintos que, de certa forma, me deixaram um pouco envergonhado em relação ao
Rio Grande do Sul.
Há alguns anos, tivemos a visita de uns americanos na empresa onde eu
trabalhava. Como iriam ficar por aqui durante quase um mês, resolvemos levá-los
para conhecer um pouco do Rio Grande do Sul. Ora, qual lugar seria mais
indicado e de fácil acesso do que a Região das Hortênsias na serra gaúcha
(leia-se Gramado e Canela)? Foi o que fizemos. Levamo-los para dar uma volta e
conhecer um pouco de um dos lugares mais legais de serem visitados em todo o
Brasil. Começamos por Canela, para vermos as belezas naturais, e depois fomos
para Gramado, onde a gastronomia e a "gastonomia" são melhores. Eis
que os americanos simplesmente se apaixonaram pela cidade e queriam levar tudo
o que encontravam pela frente. E, como não falavam
português, coube a nós servirmos de intérpretes e negociadores, pois eles
sempre querem desconto em tudo.
Mas a euforia deles logo murchou, pois praticamente
nenhuma das pequenas lojas de artesanato do centro de Gramado trabalhava com
algum tipo de cartão. Parecia algo inconcebível, mas eles não conseguiram
comprar nem metade do que queriam por causa disso. Rapidamente a paixão pela
cidade transformou-se em indignação. - Onde já se viu uma cidade turística não
aceitar cartão de crédito em nenhuma loja? - disse um deles. Era constrangedor,
realmente. A falta de preparo da cidade para com esse tipo de situação ficara
evidente naquele momento. E olha que andamos diversas quadras, com lojas uma ao
lado da outra. Eram poucas as que aceitavam cartão. E, como sabemos como o
americano é em relação ao consumo, obviamente eles não recomendariam (ou, pelo
menos, não falariam bem) a cidade para outro americano que quisesse vir para
cá.
Pouco tempo depois disso, eu viajei em férias para Pernambuco, onde conheci
lugares maravilhosos e paradisíacos. Lugares remotos, distantes, mas de uma
beleza natural impressionante. Num desses passeios, estive em Itamaracá, na
ilha da Coroa do Avião. Um lugar lindo, num dia lindo, onde você realmente se
sentia em férias e se emocionava só de olhar para os lados e ver toda aquela
natureza exuberante. Ali, na ilha, havia uma série de quiosques e barzinhos,
que atendiam os turistas com almoço, lanches e muita água de coco.
Muitos bares são associados às agências de turismo,
que ganham comissão se levarem turistas até lá. Obviamente, são os lugares mais
caros. Eu, como já conheço esse esquema, resolvi caminhar um pouco e procurar
algo mais em conta (fica a dica!). Eu estava de férias, é verdade, mas não
queria ser explorado. Caminhamos um pouco e encontrei o "Bar do Beto".
Era um lugar bem legal, com comida tão boa quanto os demais, mas com um preço
mais acessível. Sem falar na simpatia dos atendentes. Após almoçarmos e
tomarmos água de coco, o estúpido aqui lembrou que deixou o dinheiro no cofre
do hotel. Mas eu tinha o cartão de crédito na carteira! Só que também lembrei
que na ilha sequer parecia haver eletricidade. Quando eu estava pronto para
recorrer à carteira da minha esposa, o atendente falou: - Se o senhor preferir,
nós temos máquina de cartão de crédito sem fio. Bingo! Logo me lembrei do
comercial mencionado no início deste post.
Consegui sair dali satisfeito com o lugar, com a comida, com o atendimento e
com a consideração ao turista que eles demonstraram. Um lugar totalmente
isolado e sem energia elétrica pôde fornecer um serviço que Gramado, uma cidade
com padrão europeu (e, teoricamente, mais rica e com melhores condições de
lidar com as taxas e comissões que as operadoras dessas máquinas cobram), não
conseguiu. São essas discrepâncias que ainda fazem do Brasil um país que "engatinha"
em termos de aproveitamento do potencial turístico. A tecnologia está aí pra
facilitar esse tipo de serviço. Por que então não utilizá-la e aumentar as
receitas e a arrecadação? Se o "tiozinho" das frutas consegue, todos
os polos turísticos deveriam conseguir.
* Adaptação do texto publicado em 03/07/2008
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
A Lição do "Tiozinho" das Frutas
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