sexta-feira, 11 de maio de 2012

Até Quando o Idioma Será uma Barreira?

Semana passada, depois de vários meses pensando e planejando, finalmente iniciei meu curso de mandarim. Isso mesmo. Vou aprender a falar chinês. Tecnicamente falando, será meu quarto idioma, além do português (nativo), inglês (usado no trabalho, diariamente) e espanhol (aprendido por hobby e gosto pessoal, embora não seja fluente, pois não pratico todos os dias). Gosto também de italiano, mas não posso considerá-lo nesta lista, já que e meu conhecimento é apenas superficial e não tenho prática alguma. Quem sabe um dia...

Mas por que escolhi logo o mandarim? Bem, antes de tudo, é preciso entender porque eu quis aprender mais um idioma. 

Eu tenho uma necessidade mental de estar sempre absorvendo conteúdo. Não consigo evitar. Preciso estar aprendendo algo todo dia, senão fico com a sensação de que o dia foi em vão. Por mais que eu goste de futebol, não foram poucas as vezes que deixei de ver um jogo, até mesmo do Inter, para assistir um documentário interessante. Depois da graduação e pós-graduação, é normal você dar um tempo para descansar. Eu não consigo. Se não estou formalmente envolvido com algo, fico lendo, assistindo documentários, fazendo alguma certificação, etc. Mas tem vezes que você sente saudades do ambiente acadêmico ou da interação com colegas em uma turma. E tem a questão da disciplina. É mais fácil assumir um compromisso quando você está pagando por ele. 

Embora ainda receba convites de antigos professores com quem mantenho contato, não me sentia com vontade de encarar um mestrado, dados os horários incompatíveis com minha agenda atual e o nível de dedicação que eu teria de ter e que não é possível hoje, até porque, dar atenção à família é importante também. Sendo assim, achei que aprender um novo idioma se encaixaria nas minhas necessidades de aprendizado versus tempo disponível.

Eu queria tentar algo diferente, que fugisse um pouco das línguas latinas e anglo-saxãs, que são parecidas entre si. Dedicar-me formalmente a aprender Italiano ou Alemão, embora eu tenha curiosidade sobre elas, não me traria aquele ar de novidade total ou talvez não representasse a quebra de paradigma que eu procurava. Resolvi então que aprenderia uma língua oriental. Como japonês, árabe e coreano não possuem um apelo comercial tão significante, a escolha pelo mandarim foi quase que natural. E já nas primeiras aulas eu pude ver que realmente é bem complicado e desafiador. Terei cinco anos bem interessantes pela frente. Comparo o aprendizado de uma nova língua a uma criança aprendendo a falar. Leva uns cinco anos até que ela se expresse corretamente, com fluência, no próprio idioma. E quando ela aprende a escrever, começa com palavras e frases mais simples, até outras mais complexas. Quando se começa a aprender um bnovo idioma, mesmo sendo mais velho, acontece algo bem parecido. Mas devo dizer que gostei bastante e, embora saiba que não vai ser fácil, sei que vou conseguir aprender, porque tenho uma certa facilidade para essas coisas. 

A China é cada vez mais uma potência econômica, devendo ser a maior do planeta em alguns anos. Falar mandarim com certeza vai ser bem útil. Mesmo assim, são poucos os brasileiros que falam. Há mais chineses falando português hoje do que brasileiro falando mandarim. Isso pode ser um ponto a meu favor, lá na frente. Ao menos, eu penso assim. Mas não estou aprendendo só para fins profissionais. Imagino que falando inglês, espanhol e, daqui a uns anos, mandarim, eu possa viver e trabalhar em praticamente qualquer lugar do mundo. Aprender um novo idioma, mais que isso, te dá acesso a toda uma cultura diferente, expande a sua mente. E, como disse Einstein, depois que sua mente se abre para uma nova ideia, ela nunca mais volta ao tamanho original. É isso que encanta. Estar em um país completamente diferente, com outra cultura, outros costumes, outro jeito de viver e conseguir se comunicar com as pessoas é algo mágico. 

Embora tenha usado meu humilde exemplo como base para ilustração, o assunto principal deste post não sou eu. A questão aqui é o aprendizado de uma língua estrangeira, que, por incrível que pareça, ainda é um tabu no Brasil. E digo que ainda é um tabu por dois motivos:

1 - O Brasil não tem um segundo idioma, nem oficial, nem extraoficial. É o português e pronto. Uma segunda língua não é disseminada decentemente, nem na escola. O inglês transmitido nos ensinos fundamental e médio raramente vai além do  "verb to be", por exemplo. Na Europa é comum países com dois idiomas oficiais. E naqueles onde há só uma língua nativa, não é tão difícil encontrar alguém que fale inglês. Lógico que há exceções e resistências, mas o default é você conseguir falar inglês na maioria dos países do velho continente. 

2 - Talvez o Brasil esteja vivendo o seu melhor momento no cenário mundial em toda a história. Hoje todo o mundo sabe que o Brasil existe e que a Capital Federal não é Buenos Aires. Era de se esperar que as pessoas estivessem mais preparadas e mais gente estivesse falando outro idioma, visto que o trabalho, assim como os negócios, está cada vez menos separado pela geografia. Mas os que falam outra língua ainda são poucos, se considerarmos uma população de 200 milhões de habitantes. Talvez China e EUA possam se dar ao luxo (por enquanto), de terem apenas uma língua oficial (se bem que na China há diversos dialetos e nos EUA há muitos latinos falando Espanhol, mas vamos nos ater à questão mais comercial da coisa), pois são as maiores economias e seus idiomas são os mais falados. Logo, ditam as regras. Mas não é o nosso caso. Tomara que um dia seja. Já pensou todo mundo aprendendo português?

Essa questão do idioma fica mais clara quando vejo as dificuldades encontradas pelo RH aqui na empresa. Muitas vagas levam meses para serem preenchidas ou acabam sendo canceladas porque os candidatos não tem um nível de inglês adequado, mesmo que sejam bons tecnicamente. Como a maioria dos grandes projetos e clientes da empresa estão nos EUA, esse é um skill importantíssimo, ainda mais pela interação diária, inerente ao trabalho. Até na sede de São Paulo, maior mercado do país para profissionais de TI, o RH encontra dificuldades semelhantes. Eu achava que isso já tinha mudado, mas, pelo visto, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Sinceramente, já passou da hora dos profissionais procurarem essa qualificação. 

Além de tudo isso, estamos às vésperas de uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Como vamos atender os turistas? É sabido que a maioria deles vai usar o inglês para se comunicar. Nossos taxistas, lojistas e demais prestadores de serviços estão preparados? Talvez só a rede hoteleira esteja, e olhe lá. Nas demais áreas, eu creio que estamos longe disso. Basta ir até a rodoviária ou ao aeroporto para ver o tamanho da deficiência e do despreparo em relação a essa questão. 

Claro que tem bem mais gente falando inglês no Brasil hoje do que há 10 ou 15 anos, mas ainda há menos do que seria preciso. Acho que avançamos em passos lentos neste ponto. Talvez a educação não tenha conseguido acompanhar o ritmo do crescimento econômico. Mas há também o fator interesse. Quem quer, sempre dá um jeito. Escolas de idiomas estão por aí aos milhares. Minha esperança é que a Copa e as Olimpíadas possam mudar um pouco as coisas, que deixem um legado além das obras físicas. Mas o bom mesmo era que as coisas mudassem antes, para já estarmos preparados, não só para os eventos esportivos citados, mas para os próximos anos de crescimento pelos quais o país tende a passar. O problema é que o Brasil tende a funcionar de maneira reativa, não proativa. As coisas até tem andado, mas às vezes só andam na base do “pegando no tranco”.

Minha dica é começar o quanto antes. Colocar seu filho numa escola de idiomas ainda na infância certamente o ajudará depois, seja lá qual for a carreira que ele queira seguir. Mas atenção: criança tem de brincar também, não se pode transformá-la em uma máquina de estudar, mas é importante ela saber o quão útil isso pode ser. Na adolescência também é útil, mas é mais complicado, dadas as rebeldias que a idade trás consigo. A vantagem é que, quanto mais novo, mais fácil é para se aprender uma nova língua. É assim nos países desenvolvidos: os idiomas adicionais são aprendidos na infância. É uma mudança de cultura, sem dúvida. Mas eu acho que seus filhos agradecerão mais tarde.


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