O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Simplicidade e Sofisticação


Não, este não é um texto sobre o Ed Motta. Mas as palavras do título, homônimo à definição dada por muitos ao cantor brasileiro, nem sempre caminham juntas. Embora possam servir para o Ed, elas são vistas pela maioria das pessoas como opostas. Talvez porque, num primeiro momento, sejam associadas à pobreza e à riqueza, respectivamente. Mas o que toda essa "filosofia" tem a ver com este post? Explico:

Recentemente, comprei um laptop novo. Um top de linha, com tudo o que um nerd gostaria de ter. No dia da compra, eu parecia uma criança que ganhou um brinquedo novo. Na verdade, era isso mesmo. Estava super empolgado, pois tinha conseguido realmente comprar o modelo que eu queria, mesmo sabendo que levaria uns dias para entregarem na minha casa. E o melhor de tudo: eu tinha condições de pagar por ele. Caramba, fiquei pensando na hora no momento profissional pelo qual estou passando, assumindo novos desafios, querendo evoluir ainda mais, enfim, tudo aquilo que me possibilitou adquirir o laptop novo. Fiquei com isso na cabeça boa parte do dia, fazendo planos para o futuro.

No final daquele dia, voltando pra casa, resolvo passar no Shopping que fica perto para comprar não me lembro o quê. Depois, resolvi pegar um ônibus, pois já era noite, estava chovendo e fazendo muito frio, como costuma ser em Porto Alegre no inverno, o que inviabilizava uma caminhada. Naquele momento, eu ainda estava pensando no computador novo que tinha comprado, louco pra que ele chegasse logo e eu pudesse me divertir com ele.

Então aparece um rapaz, aparentemente um pouco mais velho que eu, com roupas velhas e sujas, calçando Havaianas velhas e com um plástico sobre o corpo, que usava como se fora uma capa de chuva. Ele estava pedindo dinheiro para as pessoas no ponto de ônibus, para poder comer e tomar um café, segundo ele. Perguntava se as pessoas tinham 5 centavos para ajudá-lo. Via-se que ele tentava ser discreto e, à medida que as pessoas chegavam, ele ia uma a uma perguntando se tinham algo para dar a ele. Naquele frio todo e com aquela chuva, ali estava um retrato um pouco mais verdadeiro do nosso país, bem diferente da minha realidade, onde eu acabara de comprar um bem de consumo relativamente caro. Ele veio até mim e eu sinalizei que não teria nada para dar a ele. Mas eu acabei de comprar um laptop! Como assim eu não tenho dinheiro? Bem, eu não costumo dar dinheiro para pessoas na rua. Não por falta de solidariedade, mas porque acho que isso não resolve o problema dessas pessoas. Fico com muita pena e, às vezes, reflito se não deveria ter ajudado. Mas nunca se sabe para quê a pessoa vai utilizar o dinheiro, se vai realmente comer ou vai comprar bebidas, drogas, etc. Além disso, se todo mundo der dinheiro, essas pessoas podem achar mais cômodo ficar assim do que tentar encontrar trabalho ou coisa parecida.

Mas, não sei por que, eu ainda fiquei pensando durante um bom tempo se deveria ter ajudado. É complicado. Meu pai sempre disse que não devemos ser omissos. Não sei se era o caso. Racionalmente eu acho que fiz bem, mas emocionalmente minha consciência cristã sempre fica me cobrando. Mas fico sem saber o que fazer nessas situações.

Aquilo mudou meu pensamento na mesma hora. Deixei de lado a empolgação e passei a pensar sobre o quanto nós, muitas vezes, nos vestimos de certa pseudo-sofisticação, talvez proporcionada pelas ilusões que o mundo da tecnologia nos apresenta, e esquecemos que estamos, na verdade, em uma situação privilegiada em nosso país. Sim, embora o Brasil esteja em evidência no mundo, ainda somos um país de muitas carências, que ainda precisarão de longas décadas para serem resolvidas. Eu e, possivelmente, você, somos a “nata” economicamente ativa do país, muito embora o conceito de “rico” seja algo que passe bem longe de minhas posses, realisticamente falando. 

Eu dou valor a isso justamente porque tive uma infância sem luxos, com algumas restrições, mas onde não me faltou nada em termos de amor e valores morais. Meu pai trabalhou muito para adquirir o que tem, que nem é tanto, mas que é bem melhor do que no tempo das "vacas magras" e possibilita a ele ter certo conforto, agora que está aposentado. E eu devo muito da minha formação a isso. Ver o quanto ele e minha mãe davam duro pra manter a casa e criar os filhos, de certa forma, me ajudou a buscar objetivos com mais serenidade. Se eu pude ter melhores condições que ele teve na sua infância, assim espero que meu filho tenha melhores condições que eu. E que assim siga sendo. Essa é ou não é a lógica que se gostaria de ver em uma família?

Aquele rapaz do ponto de ônibus, por mais que fosse gastar tudo o que lhe dessem em algum tipo de vício, estava ali, passando frio, sem ter nem como se proteger da chuva, sem futuro. Sendo ou não um aproveitador, não se pode dizer que estava numa situação confortável. Longe disso. Sinto-me mal com esse tipo de coisa. Eu gostaria que todos pudessem ter as mesmas chances que eu, mas muitos não as têm. É claro que muito é culpa das próprias pessoas, mas também há os que são vítimas da sociedade. Difícil é saber quem é quem. De qualquer forma, sempre é possível tentar resolver a situação, seja por si mesmo, seja procurando ajuda. Aí eu sinto vontade de voltar a trabalhar para a minha comunidade, como fazia na adolescência, na paróquia do meu bairro. Mas a falta de tempo de hoje vem sempre como desculpa. Uma hora eu crio vergonha e volto. Tenho certeza. Preciso disso, de certa forma: poder ser útil além das fronteiras daquilo que me pagam para fazer. Um “obrigado” tem um poder enorme, não raro maior do que qualquer valor monetário que se receba por algo que se faça. 

Nessas horas de choque de realidade é que eu acho que Deus nos dá uma dica, uma oportunidade para enxergarmos com mais clareza e entendermos que não podemos nos iludir com as coisas materiais e que devemos pensar e agir com mais simplicidade e humildade. Mais que isso, é uma obrigação nossa, pessoas ditas cultas, de repassar esses valores de alguma forma para a sociedade. Não devemos perder tanto tempo reclamando, mas sim em ver tudo o que há de bom naquilo que conquistamos, para que possamos seguir conquistando.

E isso se aplica ao nosso dia-a-dia no trabalho. Quando conseguimos sucesso em alguma coisa, saibamos que ele não foi alcançado só pelas nossas mãos. Precisamos compartilhá-lo com aqueles que nos apoiaram e fizeram parte dele. Da mesma forma, devemos pensar melhor nos momentos de frustração, insatisfação ou derrota: antes de reclamar ou lamentar, é bom que tenhamos em mente que nossos problemas são pequenos perto do fardo que tantas outras pessoas têm de carregar. Devemos ser gratos pelas oportunidades que temos e seguir em frente, tentando sempre melhorar como profissionais, e principalmente como seres humanos. É isso que vale. É isso que fica.


Na sua empresa, há pessoas com realidades e origens diferentes. Mas todas elas, seja lá que cargo ocupem, são importantes e devem ser respeitadas, reconhecidas e ouvidas, do porteiro ao diretor. Da faxineira à secretária executiva. Todas contribuem para o sucesso da organização. Um “bom dia” que seja já pode fazer a diferença no dia de uma pessoa. Creio que a sofisticação das ideias está na simplicidade do saber ouvir. E, para isso, você deve enxergar as outras pessoas a partir de um mesmo patamar que o seu. Todas ali têm uma história, todas querem progredir, todas têm dificuldades, talvez maiores do que as suas. O segredo das pessoas de sucesso sempre foi o fato de não ignorarem o que estava à sua volta. Muitas ideias revolucionárias vieram das coisas mais simples. A capacidade de enxergá-las é que faz a diferença. É possível sim que a simplicidade e a sofisticação convivam e produzam bons frutos. Não é um exercício fácil. Mas se a humildade, acompanhada da ação, forem chamadas para compor o quarteto, há mais chances de sair uma boa música.
Tão boa quando a do Ed Motta.


* Adaptação do texto publicado em  31/07/2008


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Lição do "Tiozinho" das Frutas

Lembram-se daquele comercial memorável da Mastercard (intitulado "Caipira" e que foi bastante premiado, por sinal) onde um cara apanha umas frutas de um pomar e um fazendeiro vem cobrar por elas? O sujeito então indica que não tem dinheiro, mas tem um cartão Mastercard. Quando ele pensa que vai conseguir levar as frutas de graça, o "tiozinho", supostamente dono do pomar, mostra pra ele uma máquina wireless de cartão de crédito, evitando que o "cliente" tivesse desculpas para não pagar pela mercadoria adquirida.

Essa cena já é uma realidade em muitos lugares, especialmente em pontos turísticos, pois facilita enormemente a vida de estrangeiros que querem comprar algo em outro país. É uma facilidade, sem dúvida. Você só precisa ter seu cartão de crédito em mãos para poder comprar praticamente qualquer coisa que o seu limite permita e só precisa aguardar uns dias para pagar as compras na sua fatura.


Mas não são todos os lugares que oferecem tal conveniência, infelizmente. Essa facilidade deveria ser, no mínimo, "de praxe" em qualquer cidade turística. No Brasil, porém, as coisas ainda estão demorando a acontecer. Temos um imenso potencial turístico, mas parece que ainda não estamos preparados totalmente para atender a essa demanda. Quando eu falo em "totalmente", refiro-me ao fato de observarmos diferentes comportamentos a respeito de uso da tecnologia para facilitar a vida dos turistas, de acordo com a região do país. Lembro agora de dois exemplos distintos que, de certa forma, me deixaram um pouco envergonhado em relação ao Rio Grande do Sul.

Há alguns anos, tivemos a visita de uns americanos na empresa onde eu trabalhava. Como iriam ficar por aqui durante quase um mês, resolvemos levá-los para conhecer um pouco do Rio Grande do Sul. Ora, qual lugar seria mais indicado e de fácil acesso do que a Região das Hortênsias na serra gaúcha (leia-se Gramado e Canela)? Foi o que fizemos. Levamo-los para dar uma volta e conhecer um pouco de um dos lugares mais legais de serem visitados em todo o Brasil. Começamos por Canela, para vermos as belezas naturais, e depois fomos para Gramado, onde a gastronomia e a "gastonomia" são melhores. Eis que os americanos simplesmente se apaixonaram pela cidade e queriam levar tudo o que
encontravam pela frente. E, como não falavam português, coube a nós servirmos de intérpretes e negociadores, pois eles sempre querem desconto em tudo.

Mas a euforia deles logo murchou, pois praticamente nenhuma das pequenas lojas de artesanato do centro de Gramado trabalhava com algum tipo de cartão. Parecia algo inconcebível, mas eles não conseguiram comprar nem metade do que queriam por causa disso. Rapidamente a paixão pela cidade transformou-se em indignação. - Onde já se viu uma cidade turística não aceitar cartão de crédito em nenhuma loja? - disse um deles. Era constrangedor, realmente. A falta de preparo da cidade para com esse tipo de situação ficara evidente naquele momento. E olha que andamos diversas quadras, com lojas uma ao lado da outra. Eram poucas as que aceitavam cartão. E, como sabemos como o americano é em relação ao consumo, obviamente eles não recomendariam (ou, pelo menos, não falariam bem) a cidade para outro americano que quisesse vir para cá.

Pouco tempo depois disso, eu viajei em férias para Pernambuco, onde conheci lugares maravilhosos e paradisíacos. Lugares remotos, distantes, mas de uma beleza natural impressionante. Num desses passeios, estive em Itamaracá, na ilha da Coroa do Avião. Um lugar lindo, num dia lindo, onde você realmente se sentia em férias e se emocionava só de olhar para os lados e ver toda aquela natureza exuberante. Ali, na ilha, havia uma série de quiosques e barzinhos, que atendiam os turistas com almoço, lanches e muita água de coco.  


Muitos bares são associados às agências de turismo, que ganham comissão se levarem turistas até lá. Obviamente, são os lugares mais caros. Eu, como já conheço esse esquema, resolvi caminhar um pouco e procurar algo mais em conta (fica a dica!). Eu estava de férias, é verdade, mas não queria ser explorado. Caminhamos um pouco e encontrei o "Bar do Beto". Era um lugar bem legal, com comida tão boa quanto os demais, mas com um preço mais acessível. Sem falar na simpatia dos atendentes. Após almoçarmos e tomarmos água de coco, o estúpido aqui lembrou que deixou o dinheiro no cofre do hotel. Mas eu tinha o cartão de crédito na carteira! Só que também lembrei que na ilha sequer parecia haver eletricidade. Quando eu estava pronto para recorrer à carteira da minha esposa, o atendente falou: - Se o senhor preferir, nós temos máquina de cartão de crédito sem fio. Bingo! Logo me lembrei do comercial mencionado no início deste post.

Consegui sair dali satisfeito com o lugar, com a comida, com o atendimento e com a consideração ao turista que eles demonstraram. Um lugar totalmente isolado e sem energia elétrica pôde fornecer um serviço que Gramado, uma cidade com padrão europeu (e, teoricamente, mais rica e com melhores condições de lidar com as taxas e comissões que as operadoras dessas máquinas cobram), não conseguiu. São essas discrepâncias que ainda fazem do Brasil um país que "engatinha" em termos de aproveitamento do potencial turístico. A tecnologia está aí pra facilitar esse tipo de serviço. Por que então não utilizá-la e aumentar as receitas e a arrecadação? Se o "tiozinho" das frutas consegue, todos os polos turísticos deveriam conseguir.



* Adaptação do texto publicado em 03/07/2008 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Dica de Leitura: Livro "A IBM e o Holocausto"



Para quem gosta de ler a respeito de teorias conspiratórias, essa é uma boa pedida. Este livro trata de uma aliança entre a IBM e a Alemanha de Hitler, onde a empresa fornecia suporte tecnológico de diversas formas ao Terceiro Reich. No livro, a Big Blue é acusada de fornecer sistemas de identificação e catalogação de pessoas (no caso, de judeus) a Hitler através de sua tecnologia de cartões perfurados, o que possibilitou a ele confiscar bens, deportar, torturar e matar essas pessoas.

A empresa, segundo o autor, não se preocupou com valores morais, tendo suas ações claramente baseadas nos lucros exorbitantes que conseguiria e que, segundo o livro, foi uma das causas que ajudaram a alavancar a IBM e a levá-la ao patamar de grande corporação mundial. Edwin Black fala ainda que os números assombrosos do Holocausto só puderam ser atingidos porque a IBM forneceu tecnologia para isso, uma vez que seria quase impossível para Hitler conseguir fazer esse processo de catalogação de milhões de Judeus de forma manual e em tão pouco tempo.

É uma leitura para reflexão, sem dúvida. Mais que uma teoria conspiratória, o livro cita diversos fatos, alguns dos quais a empresa até hoje, apesar de negar as acusações, ainda não conseguiu explicar claramente. Leia e tire suas próprias conclusões.

 

Dados do Livro:
Título: A IBM e o Holocausto
Autor: Edwin Black
Editora: Campus
Páginas: 624


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Foto-legenda: O Colorido do Outono Americano


Nem de longe eu me considero um fotógrafo, sequer um amador nessa bela arte. Mas gosto de tirar fotos, e algumas até ficam boas, pelo menos na minha visão. Não sei usar todos os recursos da câmera, normalmente é só apontar e clicar. Ainda quero fazer um curso de fotografia, quando me sobrar tempo. Digo isso previamente para avisar algum fotógrafo de verdade que por ventura leia este tópico e se decepcione com a óbvia falta de técnica. Mas garanto que as fotos foram melhorando um pouco ao longo dos anos.

Uma coisa eu aprendi: foto é momento. E registrar esse momento é mais importante do que qualquer conhecimento científico sobre fotografia. A lembrança que está ali registrada é o que vale. É claro que uma foto bem batida representa melhor o momento. Mas acho que, desde que não saia completamente tremida ou borrada, a foto, mesmo amadora, é capaz de transmitir a mensagem. Por esse motivo, gostaria de dividir om os leitores, a partir de hoje, alguns momentos pessoais traduzidos em fotos.

Para começar, uma foto que eu acho muito legal pelo colorido natural que apresenta. Tirei ela em White Plains, NY, em uma viagem de trabalho aos EUA. O curioso é que a paisagem surgiu por acaso. Eu havia saído para caminhar num dia frio de novembro. Perto do hotel havia uma estação de trem. E essas árvores com o colorido do outono estavam na avenida que passava do outro lado dos trilhos. Passei batido por ela na ida para a caminhada e não percebi. Na volta, foi impossível não ver. Só iria perceber o quanto a foto ficaria bonita uns dias depois, quando o inverno se aproximava e o frio e a neve derrubaram todas as folhas, transformando o colorido em cinza


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os Nerds não Saem Mais de Férias. Eles Agora Aprendem Gestão!

O Johnny era um nerd daqueles de carteirinha. Embora fosse um cara muito bom para se bater um papo sobre qualquer coisa, ele acabava sempre falando de computador, Linux, Redes, etc. Sabe como é, né? O cara respirava a tal da informática, a ponto de ter engordado uns 15 quilos depois de ter mudado o plano de banda-larga que tinha em casa, entende?

Pois bem. Certo dia, a empresa resolveu, numa daquelas febres de final de ano, que iria mudar completamente sua estrutura de TI. Toda a área de desenvolvimento de sistemas iria mudar radicalmente. A empresa precisava se reorganizar de alguma forma, pois estava crescendo e sua estrutura física de média empresa já não comportava mais o seu tamanho em termos de trabalho e produção.

Eis que o gerente de TI chega pro coitado do
Johnny, que era, até então, um "simples programador", e fala: - Cara, com essa nova estrutura, tu vais ser gerente da área de sistemas de Automação Comercial. O Johnny fez uma cara de apavorado e disse, com voz de menosprezo a ele mesmo: - Mas não é o meu perfil, eu nunca gerenciei nada antes! - Ah, pois é, mas agora tu tens uma nova oportunidade, disse, com aquela cara e sorriso daqueles vendedores que aparecem na TV, o gerente de TI.

Um tempo depois o
Johnny descobriu que tinha habilidades que nem ele sabia. Ele conseguiu ser um bom gerente de área, mesmo não tendo formação administrativa. Se não me engano, até hoje ele está nessa empresa como gerente e não escreve mais uma linha de código sequer.

Com as novas dinâmicas de trabalho nas empresas, os nerds que possuíam formação meramente técnica começam a ter de abraçar gerências de áreas ou de projetos. Isso, muitas vezes, para quem não tem preparo, pode ser desastroso. Nem todos têm o jogo de cintura que o
Johnny tinha e, muitas vezes, não dão certo no novo posto. Mas o que dá pra notar é que, cada vez mais, o pessoal técnico está se vendo diante de um dilema: Quem diria que um dia teriam de estudar administração? Pois é, os tempos mudam.

Tenho notado que muitos gerentes nerds estão entrando em MBA's de gestão empresarial, gestão de TI, gestão disso, gestão daquilo. Em SP, por exemplo, você encontra MBA's cujos preços variam de R$ 10 mil a R$ 60 mil. Tem pra todos os gostos e para todos os bolsos. É lógico que essa variação de preços tem lá suas justificativas, afinal, alguns cursos oferecem até mesmo módulos de estudo no exterior incluídos no pacote. Tem também a questão de estudar em escolas renomadas, de status, etc. Algumas empresas pagam os cursos mais caros para seus executivos, porque acham importante a qualificação, ou para manterem esses caras motivados e sem pensar em trocar de emprego, afinal, são um capital intelectual estratégico para a empresa. Tem muito engenheiro, analista de sistemas e outros mais procurando preencher uma lacuna de habilidades que lhes faltam. Falando francamente, muitos deles estão procurando, na verdade, conhecimento em uma área que achavam superficial e sem tanta importância, comparada às habilidades técnicas.

Particularmente, sempre achei que faltava administração na informática. Eu presenciei muita burrada sendo feita e muita decisão sendo tomada por falta de conhecimento ou mesmo por falta de vivência administrativa. Por mais embasamento técnico que um sujeito tenha, ser um gestor requer o desenvolvimento de várias outras habilidades que eles nunca iriam conseguir em um tutorial na internet. E o mais interessante é que, com todo esse conhecimento técnico, eles têm um grande potencial para tornarem-se bons gestores. Os bem preparados, inclusive, tomam lugares dos bacharéis em administração em muitas empresas.

Lógico que, para tanto, precisam vencer uma série de barreiras. Uma delas é deixarem de ser "bichos-do-mato", precisam parar de serem nerds introvertidos e se relacionarem mais e melhor com as pessoas. Afinal, uma das gestões a que precisarão ter ciência é a gestão de pessoas, que hoje em dia deixou de ser tarefa exclusiva do RH nas empresas e passou a ser incumbência de cada gerente, líder, gestor ou coisa que o valha.

De experiência própria, eu digo que vale muito a pena. Eu continuo sendo um nerd (tá bom, pseudo-nerd), mas hoje em dia sou bem menos. Quem não é nerd e conversa comigo quase nem nota que sou um. Aprendi, de certo modo, a ter habilidade de conversar com vários tipos de pessoas diferentes. Isso vem com o tempo. Mas o ato de deixar de ver o próprio umbigo e passar a olhar as coisas de forma sistêmica me ajudou muito a entender melhor o mundo. E aqui, a ciência da administração, tão criticada por muitos técnicos, ajuda pra caramba. Mais que isso, ela (quem diria) está se tornando a grande salvação para as carreiras desse pessoal que achou que ia ficar "escovando bit" para o resto da vida e que agora se vê liderando uma equipe. O
Johnny que o diga...



* Adaptação do texto publicado em 19/11/2007