segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

D'Alessandro Fica. O Futebol Agradece.

A situação é a seguinte: você trabalha em um lugar. Gosta desse lugar. Ali você realizou suas maiores conquistas profissionais. E este lugar ainda lhe oferece ótimas condições de trabalho, um salário bem acima da média e muitas possibilidades de crescimento e conquistas futuras. Mais importante: você foi uma peça chave nas últimas conquistas e as pessoas gostam de você. Até os concorrentes te admiram.
Mas aí surge uma proposta irrecusável de uma multinacional chinesa, que oferece o dobro do que você ganha. Você naturalmente fica balançado. Vê ali uma oportunidade de garantir financeiramente o seu futuro e o da sua família. Não que isso já não seja possível hoje, mas ver a possibilidade de dobrar um salário que já é altíssimo certamente põe qualquer um a pensar.
Parecia inevitável a sua saída. Os concorrentes também estavam angustiados. Afinal, por muitas vezes você teve ajudou a obter êxitos sobre eles. Tornou-se um verdadeiro algoz, um carrasco. Não seria de se admirar estes concorrentes respirarem aliviados e até darem pulos de alegria com a sua saída. Afinal, não aguentavam mais perder pra você.
Mas eis que, surpreendentemente, você resolve ficar. Óbvio, pede uma compensação salarial para tanto, mas que ainda não chega aos valores oferecidos pelos chineses. Mas fica.
Por quê?
O episódio recente da possível ida de Andrés D'Alessandro do Internacional para o futebol chinês teve grande repercussão no futebol gaúcho e, por que não dizer, no futebol brasileiro. Sua saída era dada como certa, os 40% azul do RS estavam felizes com  o seu adeus. Mas ele disse ao povo Colorado que fica.  Fazendo isso, ele não somente deixa feliz uma nação inteira, mas faz um grande bem ao futebol.
Digo isso porque não há hoje, no RS, um jogador que jogue como ele. E, na sua função, talvez não haja nem no Brasil. Uns vão dizer que isso é exagero, etc. Mas eu me arrisco a manter minha posição, baseado não apenas na visível qualidade técnica de D'Ale, mas também por tudo o que ele já conquistou aqui. Desde 2008, quando desembarcou no Beira-Rio, D'Alessandro ganhou uma Copa Sul-Americana, uma Libertadores, uma Copa Suruga, uma Recopa e dois Campeonatos Gaúchos. Isso sem falar em outras campanhas boas, que terminaram com o segundo ou terceiro lugar. Aí eu pergunto: tem algum jogador na sua posição em atividade no Brasil hoje que, ao mesmo tempo, seja querido pela torcida e identificado com o clube, esteja jogando em alto nível e que tenha tantas conquistas? Por essas e outras, eu digo que não há.
D'Alessandro criou raízes profundas no Beira-Rio. Virou ídolo da torcida. E isso não é algo que acontece todos os dias. Alguém lembra qual o último ídolo que veio lá dos lados do coirmão da Azenha/Humaitá? Faz tempo que não aparece um. É bem verdade que o bom momento do clube e os títulos ajudam a formarem novos ídolos. Mas isso é natural. Se do outro lado nada aparece, nem títulos nem ídolos, não é problema dos Colorados. O fato é que tivemos vários ídolos nos últimos anos, muito por causa dos títulos, é verdade. Mas D’Alessandro é um dos maiores desses ídolos recentes porque, além de vencedor, joga muita bola. É o maestro do time. Tem momentos ruins, mas sempre está lá nas decisões, seja pra pressionar o juiz, seja pra fazer um gol em grenal, ou para dar um passe milimétrico que termine em  gol.
A decisão de ficar no Inter passa muito por isso. Aqui ele ganhou tudo o que nunca havia ganhado em qualquer outro clube. Aqui ele está há mais tempo do que já ficou em qualquer outro clube. Aqui ele é decisivo e importante como jamais foi em qualquer outro clube. Estar perto da Argentina, sua terra natal, certamente contribui. Mas ser ídolo é mais importante do que apenas o retorno financeiro. Mesmo que não vá ganhar o mesmo que na China, não dá pra dizer que ele já não tenha a vida ganha, financeiramente. É um absurdo o que se paga para um jogador de futebol, mas, no caso de D'Ale, ao menos o aumento está sendo feito para alguém que já deu e ainda pode dar retorno ao clube. Ou será que os títulos acima mencionados não valem o esforço? Mesmo que ele não ganhe mais nenhum, já terá dado ao clube muito mais do que o investido nele.
Essa é a diferença. Muitos tricolores reclamam que a imprensa falava mal em pagar tanto para as novas contratações azuis e pouco sobre o aumento que D’Alessandro receberá. Mas nem teria por que falar. Simplesmente não dá pra comparar. Uma coisa é pagar “X” para quem já deu tantas glórias ao clube e ainda tem potencial para dar mais. Outra é pagar esse mesmo “X” para quem ainda é uma aposta, que poder dar certo, mas que também pode fracassar. D'Alessandro deu muito certo!
Não é só a identificação com o clube, o folclore do "La Boba", as jogadas decisivas, a raça em campo. A questão é que os Colorados olham para D'ale e veem ali outro Colorado, seja em momentos bons, seja em ruins. Esse talvez seja o maior motivo do clamor pela sua permanência. Sabem que ele ainda irá decidir muitos grenais, disputar muitos títulos e talvez ganhar alguns.
É também importante sua permanência para que tenhamos uma redução na exportação de bons jogadores para os grandes centros de maior poderio financeiro. Ganham o clube, a torcida e o futebol em si. Sonho um dia ainda ver os clubes brasileiros serem tão grandes quanto os Europeus, que o Brasil seja o lugar onde todo mundo quer jogar. Já fomos referência, hoje estamos muito atrás. Recuperar isso é fundamental e podemos começar mantendo os bons jogadores em nossos clubes, mesmo os estrangeiros, como D'Alessandro.
Tenho para mim que, mais que simplesmente dinheiro, ser ídolo é para sempre. Perguntem a Larry, Falcão, Valdomiro, Figueroa, Fernandão e Cia. o que eles sentem até hoje em serem lembrados por seus feitos e como eles ainda são ovacionados pelos torcedores nas ruas. Se os citei aqui, é justamente porque seus nomes tem peso na história do Internacional, oras. E perguntem se eles acham que isso tem preço, que dinheiro algum no mundo é capaz de comprar esse tipo de coisa. Amigos gremistas, perguntem o mesmo a seus ídolos do passado. É nisso que D'Alessandro provavelmente pensou e colocou do lado Colorado da balança, juntamente com tantos outros fatores, claro.
Afinal, vale mais encher os bolsos, ir para a China e ser esquecido, ou encher um pouco menos os bolsos, ficar onde terás outras tantas oportunidades e consolidar seu nome na história? Andrés D’Alessandro, com certeza, será lembrado daqui a muitos anos, como foram seus antecessores, igualmente ídolos, hoje lembrados com carinho pela torcida do futebol bem jogado, não somente a do Internacional.
Obrigado por ficar, D'Ale. O futebol agradece!



1 comentários:

  1. Aspiro a um dia poder contar a meus netos que vi Andres D'Alessandro jogar, assim como ouvi de meus antepassados sobre Falcão e Figueroa. Penso em um dia mostrar a eles como é "La Boba" e comentar saudoso sobre um passse, um toque que desconstrói a defesa adversária, uma jogada orquestrada pelo maestro D'Ale que culmina em um grande e importante gol. Meus filhos ja vêm isso hoje e serão minhas testemunhas de que Andres D'Alessandro é não apenas craque, mas ídolo, ícone, artista e principalmente um HOMEM DE HONRA, que é profissional mas não apenas o dinheiro importa, ao contrário do que se viu em alguns episódios nessa mesma cidade, onde o dinheiro sobrepujou o grito da torcida implorando, a diretoria se esforçando para contratar, um suposto amor que se percebeu inexistente e principalmente.... a HONRA.

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