sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Índio e o Executivo


Quando você pensa em um grande zagueiro da história do Internacional, que nome lhe vem à cabeça? O grande Dom Elias Ricardo Figueroa Brander, campeão brasileiro de 1975, autor do "gol iluminado" na final daquele ano contra o Cruzeiro e referência técnica para muitos até hoje?  Ou quem sabe Carlos Alberto Gamarra Pavón, que já foi considerado o melhor zagueiro do mundo, dono de uma incrível habilidade de roubar a bola sem fazer falta (chegou a jogar uma Copa do Mundo inteira sem fazer uma falta sequer)?

Para mim, nenhum dos dois. Que me perdoem os saudosistas, mas o maior zagueiro da história do Sport Club Internacional não fala castelhano. Ele atende pelo nome de Marcos Antônio de Lima, ou, simplesmente, Índio.

Não há como questionar os seus números. Além se ser um dos zagueiros que mais vezes vestiu a camisa Colorada, é o que mais gols marcou, inclusive em Grenais. Um verdadeiro terror para os lados da Azenha/Humaitá. Mas é nos títulos conquistados que Índio comprova, com sobras, a minha tese: desde que chegou ao Inter, em 2005, foram 4 Campeonatos Gaúchos, 2 Libertadores, 1 Mundial FIFA, 1 Copa Sul-Aamericana, 2 Recopas e 1 Copa Suruga. Isso só para citar torneios oficiais. Ainda teve a Dubai Cup, que era torneio amistoso, mas que tinha participação de outros gigantes de futebol mundial. E poderia ter sido ainda melhor, não fossem os diversos vice-campeonatos que ocorreram durante o caminho. 

Sozinho, ele tem mais títulos que a maioria dos clubes Sul-Americanos. Isso não é pouca coisa. É provável que até a sua aposentadoria eu tenha de atualizar os números deste post.  

Atualizado em 14/05/2012: Agora são 5 Campeonatos Gaúchos

Atualizado em 05/05/2013: Agora são 6 Campeonatos Gaúchos

Atualizado em 13/04/2014: Agora são 7 Campeonatos Gaúchos

Com todo o respeito, Figueroa e Gamarra não ganharam nada, se comparados com Índio.

Todo colorado se lembra da imagem emblemática de Índio sangrando em campo durante a final do Mundial de 2006, contra o poderoso Barcelona, após ter sido atingido pelo colega Fabiano Eller numa disputa de bola pelo alto. Jogou o resto da partida com o nariz quebrado. Poucos minutos depois, iniciava a jogada que terminaria com o gol do título.

Mas há ainda algumas lições pessoais e profissionais que podemos aprender com Índio. Analisando a sua carreira até aqui, eu percebi algumas características que poderiam até servir de exemplo para executivos, gerentes, líderes ou demais cargos estratégicos que compõem uma empresa. Figuras como a do executivo são frequentemente associadas às tomadas de decisões. Por eles passa o futuro das organizações. Essas decisões são embasadas por diversos fatores, mas nem sempre explicada pelos mesmos. Em muitos casos, é possível perceber e entender claramente as decisões apenas analisando o perfil daqueles que as tomaram.

Deixo claro é que apenas um exercício de percepção, sem nenhum comprometimento direto com teorias acadêmicas, mas que, nem por isso, as deixam totalmente de lado. Listo algumas das características mencionadas a seguir: 

Resiliência e Perseverança: Já perto dos 40 anos, mas ainda em atividade, não são poucas as críticas que recebeu. Todos os anos ele é apontado como sendo velho para o futebol. E todos os anos ele levanta uma taça, sempre jogando bem. Tem períodos de baixa, como todo atleta profissional, mas sempre dá a volta por cima. Não desanima com as dificuldades e com as pancadas que recebe. Se ele passa um tempo no banco de reservas, trabalha para voltar ao time. E sempre volta, sempre consegue se superar.

É comum encontrarmos dificuldades e tomarmos pancadas durante a vida profissional. O que vai fazer você se diferenciar é justamente a capacidade de reação a essas adversidades. Esse detalhe pode significar um sucesso futuro ou um fracasso imediato, dependendo da sua escolha. Insistir naquilo que você acredita nem sempre é sinal de teimosia. Pode fazer muitas pessoas se surpreenderem com seus resultados, especialmente quando quase ninguém mais acreditava em você.



Capacidade de Adaptação: Depois de certa idade, se um jogador pretende continuar apresentando um futebol de alto nível, tem de aprender a mudar seus hábitos e, principalmente, redobrar os cuidados com sua forma. Índio aprendeu. Não por acaso é um dos mais elogiados pelos preparadores físicos a cada começo de temporada. Recebeu o apelido de “interminável” porque, mesmo com a idade, parece continuar correndo como um guri. Sabe que não pode ter mais o mesmo vigor de um jovem, então procura compensar isso tendo mais disciplina e cuidados extracampo.

Talvez a questão de manter-se atualizado sempre seja um dos maiores clichês do mercado de trabalho moderno. Porém, para uma posição de liderança, especialmente aquelas que lidam com grandes responsabilidades, isso se faz necessário. Saber “ler” o mercado, estar atento ao que acontece à concorrência e mudar os planos ou definir novos projetos é parte do jogo. Aprender um novo idioma para negociar com outros países ou lidar com uma nova tecnologia são fundamentais para manter você, ao menos, competitivo, mesmo depois de uma carreira já consolidada. Se a idade chegou, não deixe que ela limite sua capacidade ou reduza sua vontade de aprender. Deve-se utilizar a experiência adquirida para encontrar os “atalhos do campo”.



Foco: Não existe jogador de futebol santo. Todos aprontam alguma coisa na sua vida pessoal. Índio nunca foi conhecido como boêmio (baladeiro, pra usar uma expressão mais atual), mas já protagonizou episódios polêmicos fora das quatro linhas. Certa vez, foi muito criticado por chegar a um treino com um corte na mão, fato que o deixou alguns dias sem poder jogar. Se o corte foi feito durante os excessos de uma festa ou se foi um acidente doméstico, não importa. Ao contrário de tantos outros jogadores que vemos por aí, cuja vida pessoal aparece mais do que o futebol mostrado em campo, ele evitou polêmicas, seguiu calado, baixou a cabeça e continuou trabalhando duro, intensamente. O assunto se encerrou em poucos dias. E os bons resultados continuaram a vir mais tarde.

Saber realmente o que se quer, onde se pretende chegar e o que é preciso fazer para conseguir isso é o que diferencia as pessoas de sucesso das demais. Não dá pra ignorar os erros e fatores externos que se apresentam no caminho, há de se saber conviver com eles. Mais do que isso: deve-se aprender a minimizar possíveis impactos negativos trazidos por eles e que tendam a desviar você dos seus objetivos. Estratégias de Marketing tem mais sucesso quando estão segmentadas corretamente; objetivos empresariais são mais facilmente atingidos quando se tem um rumo a seguir. Defina o seu foco e trabalhe duro nele. Dificuldades fazem parte do caminho, mas não podem ser o fator determinante.



Humildade: Antes de ser jogador de futebol, Índio era cortador de cana, homem humilde. Não passou por categorias de base. Foi direto da várzea ao profissional. Mas sua humildade não ficou restrita às suas origens. Quando marcou seu 27º gol pelo Inter (hoje já são mais de 30), ultrapassando a marca do lendário Figueroa, Índio, sem querer, acabou fornecendo uma das explicações do seu sucesso no clube. Ao final do jogo, um repórter veio ao seu encontro e lhe perguntou como era a sensação de entrar para a história, ultrapassando justamente um ídolo da torcida. Ele respondeu dizendo: "Eu sou um mero coadjuvante, um simples trabalhador. Ultrapassar em gols o Figueroa me enche de alegria". Ainda viria mais. Como já disse, Índio tornou-se o zagueiro que mais marcou gols na história do Inter. Mesmo com toda a carga histórica do feito, com todas as conquistas que teve, ele ainda se considerava coadjuvante. Sempre foi jogador de exaltar o grupo. Sabe que nada se consegue sozinho. Mesmo estando no topo, ainda quer mais. Acha que pode mais. Quer aprender mais. 

Muita gente confunde humildade com “se fazer de coitado”. Isso é um erro. Ser humilde consiste, acima de tudo, em saber de suas limitações e ter certeza de que não se sabe de tudo; de que sempre há o que aprender e que se deve estar disposto a isso. É também saber respeitar outras pessoas que estão ao seu redor, afinal, você nunca está sozinho, seja em família, seja no trabalho. Assim como comentei sobre estar sempre atualizado e preparado, é igualmente importante ter em mente que você não é perfeito e nem soberano. Trabalhar em equipe requer lidar com pessoas diferentes, com anseios diferentes e com habilidades diferentes, não inferiores.



Todas essas pequenas lições acima são apenas uma forma de demonstrar como sempre é possível obter bons e úteis exemplos das coisas mais simples e distintas. Quando você imaginaria que a história de um ídolo do futebol poderia fornecer contribuições para o uso no dia-a-dia do seu trabalho? Talvez se você olhar apenas com os olhos de torcedor rival, isso não lhe acrescente muito. Mas olhando com os olhos de profissional e de ser humano, tenho certeza de que há muita coisa a ser aproveitada, ou, ao menos, que possa servir como reflexão para a forma como você está agindo no seu trabalho. Talvez o ponto principal aqui seja: não importam as dificuldades que possam aparecer, você sempre pode ser um vencedor. Basta querer e trabalhar muito para isso.


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