sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência

Vocês já notaram o desinteresse da população em geral pela política? O descrédito que a figura de um político tem? Pra mim, um dos aspectos que reforça esse cenário é a sensação de “eu não me sinto representado por essa pessoa”. Eles têm o papel de representar seus eleitores, porém, de maneira geral, o povo não consegue confiar neles (por alguns motivos bem óbvios). Mas os políticos de carreira continuam existindo porque, por falta de vontade, tempo, aptidão, conhecimento ou (situacional) capacidade, não assumimos uma postura que torne desnecessária a sua existência. Essa não é nem de longe uma constatação inédita, mas é possível perceber certas nuances semelhantes no ambiente de trabalho.

O Jarbas trabalha com TI. É analista de testes terceirizado em uma grande empresa (algo que "quase não se vê" por aí...). Ele se considera, até certo ponto, um pouco "peão". O seu negócio é implementar a coisa, é “sentar tijolo até levantar a parede”. Não tem muito skill de liderança ou negociação. Aliás, se tivesse de ficar negociando o tempo todo, ia perder tempo de trabalho. Não, ele não é um recurso alienado, um workaholic, etc. Simplesmente o foco do seu interesse é no “fazer”, e não no “fazer acontecer através de”. E é justamente por ter maior aptidão para atividades técnicas que ele se sente melhor em assumir um papel de alguém que “põe a mão na massa”.

Então, enquanto ele foca em fazer o que gosta de uma forma bem feita, ele precisa de alguém que resolva o resto. Seja por preservar energia e usá-la em outra atividade, seja por não ter aptidão para negociar de maneira eficiente, ele sabe que precisa de cobertura.
 

Atualmente, Jarbas está envolvido em fazer existir algo grande, um daqueles projetos de enorme importância. Se fosse algo em menor escala, dava conta sem problemas. Mas dessa vez, pra conseguir realizar o que é proposto, é necessário mais um grupo de pessoas com conhecimentos e capacidades parecidas com as dele, senão a coisa toda só vai ficar pronta daqui a anos. Então, enquanto ele e o grupo trabalham, precisam de alguém para resolver a questão da comunicação, do planejamento, daquilo que fica em volta do seu trabalho, mas que não é exatamente o seu trabalho. Ele e o grupo criaram a necessidade de existir alguém para gerenciar.

Então alguém assume formalmente esse papel. Maravilha. Tem alguém pra fazer a cobertura, pra complementar, pra prover o que mais é necessário para o trabalho acontecer. É um papel difícil, sem dúvida. Essa pessoa vai ter de ajudar a organizar o trabalho de todos, filtrar a comunicação com quem está precisando da solução que está sendo construída. Além do mais, vai ser o responsável por dar algumas notícias ruins de vez em quando. Mas também é um papel de destaque, vitrine mesmo. E é aí que está o perigo. Os responsáveis pelo elenco escolheram quem parecia ter perfil de liderança e experiência nessa atividade pra resolver essa necessidade.

Só que, dessa vez, falta algo para o cara que assumiu esse papel...

O time diz que precisa de mais prazo pra fazer direito, ele vem com uma explicação vazia de porque não vai dar. O time diz que faltam alguns recursos, ele fica tentando convencer todos pra simplesmente se virarem com o que tem. Se alguém fica aborrecido, ele tenta resolver a cara de aborrecido, em vez de resolver o que está causando o problema. A coisa está pegando fogo e o líder só fica botando panos quentes, dizendo “isso é assim mesmo” e coisas do tipo... Às vezes fica parecendo que ele só serve pra repassar (filtrando) algumas notícias que vem de cima, e pra dar um jeito de manter todo mundo ocupado.

Jarbas sente que, dessa vez o “líder formal” não o representa. E também não representa o resto do time muito bem.

Mas o cara gosta do papel de liderança, então fica tomando suas providências para continuar no posto. Que jogada! Ele troca o esforço de realizar aquilo que ia conquistar o apoio de várias pessoas abaixo dele pelo esforço de conquistar o apoio de duas ou três pessoas acima... E assim a equipe vai seguindo, sem acreditar muito no que está fazendo e sem motivação para tentar algo novo. Mas o líder vai fazendo o seu cartaz para com os gerentes logo acima dele. 


Mesmo tendo o trabalho elogiado por alguns desenvolvedores, Jarbas não recebe o mesmo reconhecimento por parte do líder. Ao contrário, este diz a Jarbas que tente fazer o seu trabalho de forma "mais comum", para que não fique muito evidente a diferença técnica dele perante outros colegas, especialmente aqueles que demonstram problemas de comprometimento, mas que são "amigos" do líder. A situação chega a tal ponto que Jarbas, numa conversa com um colega de trabalho, chora. É um choro de raiva, misturada com stress, frustração e sensação de estar fazendo papel de bobo. Isso porque ele vinha trabalhando tanto a ponto de cobrir a incompetência de alguns colegas, mas sem ter os méritos. Ele consegue suportar mais alguns meses, e então pede demissão. O projeto, como se podia esperar, entre em produção, mas completamente "capenga". Soube-se depois, que ainda levou uns dois anos para acertarem todos os problemas. Mas Jarbas já estava livre, e em outro emprego melhor, não mais precisava se preocupar com aquilo.

Pensando nessa história quase real é que eu vi a semelhança com os políticos. Há muitas equipes por aí "nos cascos" porque seus líderes não as representam na hora das dificuldades. Ficam de politicagem, jogando aquele jogo pra continuar nas suas posições. Creio que enquanto os organogramas tiverem gargalos, e a pessoa que está desempenhando esse papel condensador não representar realmente quem está respondendo para ela, vai ser sempre difícil fazer com que as coisas possam fluir harmonicamente e os times sejam coesos e engajados. Uma das coisas mais importantes em uma equipe é você olhar para o lado e ver que pode contar com o seu colega. Ter essa mesma visão a respeito do líder, é tão fundamental quanto.
 
Se você é líder ou gerente de equipe e parece não haver sintonia com quem responde para você, então você pode ser mais uma parte do problema. A dica é bem simples: se você assumiu esse papel de liderança formal e não tem o que é necessário para conquistar a confiança dos que te respondem, não tente garantir a sua posição através da “politicagem”, do “networking”, do “combinaço”. Não procure manter seu papel simplesmente conquistando o apoio de cima. Ao invés disso, passe a comprar as brigas de quem está abaixo de você ou a seu lado. Já é um passo bem simples e eficaz para que a equipe enxergue em você a representatividade esperada. Afinal, também faz parte da sua função comprar essas brigas e estar do lado das pessoas as quais você lidera.



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