sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Uma Homenagem ao "Boné"


Uma parte da história do Beira-Rio vai ser retirada no fim de semana entre os dias 17 e 19 de Agosto de 2012. O famoso "Boné", como ficou conhecida a cobertura parcial, ao lado da Av. Padre Cacique, deixará de existir. Será retirada pela contrutora Andrade Gutierrez para dar lugar à nova e moderna cobertura do estádio da Copa de 2014, que começará a ser construída ainda em 2012. Para quem não conhece ou não é torcedor do Inter, aquele pedaço de marquise isolado (do lado oposto, a arquibancada superior é toda coberta) pode não ter muito valor, mas, ao menos para mim, aquele setor do Gigante tem um significado todo especial.

Maquete do Projeto Original do Beira-Rio
A história do "boné" data da construção do estádio, que começou a ser erguido em meados dos anos de 1960. Muita gente nem desconfia, mas o plano original era que o Beira-Rio tivesse três anéis de arquibancadas no lado onde o "boné" foi construído, como mostra a maquete ao lado.
Este plano foi logo descartado por falta de recursos financeiros. Vale lembrar que o clube não tinha o patrimônio e o tamanho que tem hoje e que boa parte do estádio foi contruído com doações dos torcedores. Pois bem, havia outra questão: a chacota por parte da torcida adversária em relação ao fato de o Beira-Rio ser construído sobre um aterro. Onde antes só havia água, agora havia terra e o maior estádio de futebol particular do mundo até então seria erguido ali em cima. Obviamente, muitos duvidaram que isso fosse possível, ainda mais para os padrões e para a engenharia da época. Gremistas riam e diziam que os sócios do Inter teriam direito a uma "bóia cativa", em vez de uma cadeira cativa no novo estádio. Perto de sua inauguração, era possível descer de barco ao lado do estádio.

Muitos chegavam  de barco ao estádio, literalmente
Mas, contra tudo e contra todos, o Gigante começou a tomar forma. Para mostrar que não havia mais volta e que o estádio era uma realidade, o Inter decidiu dar uma "amostra" de como pretendia deixar a arquibancada superior no futuro. O "boné" foi uma das primeiras estruturas a ficarem prontas, antes mesmo da arquibancada inferior, contrariando a lógica. Era uma forma de dizer que, mesmo não tendo recursos no momento para cobrir todo o estádio, se pretendia fazê-lo no futuro, e aquele pedaço de cobertura seria o "modelo" a ser seguido. Digamos que foi uma espécie de "jogada de marketing" que não deu muito certo, mas que acabou ficando na história. Curiosamente, depois dele, todo o lado da social foi coberto, conforme planejado inicialmente, seguindo o mesmo padrão. Mas o "boné" permaneceu lá, solitário, ao lado da Av. Padre Cacique, servindo de abrigo para cadeiras centrais, pouco tempo depois.

O "boné" foi uma das primeiras estruturas do Gigante a ficarem prontas

Antes das arquibancadas, lá estava o "boné"


Décadas se passaram, até, finalmente, o "boné" deixar de existir. Pode parecer estranho dar tanta importância a um pedaço tão pequeno do estádio, um atestado da falta de dinheiro para terminar o que se começou. Mas acreditem, esse pedaço, além de se confundir com a própria história do Beira-Rio, tem uma importância enorme e sempre terá um lugar guardado no coração dos Colorados. Muitos jogos assisti ali. O último foi Inter 2 x 1 Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro de 2011 (meu pai disse que o gol do Bolatti valeu o ingresso). De lá para cá, só frequentei as sociais. Bem, ao menos enquanto as arquibancadas antigas ainda existiam. Particularmente, tenho muitas lembranças daquele lugar. Não era um dos que eu mais frequentava, mas gostava de lá. Vi muita coisa boa e outras nem tanto acontecerem dentro de campo estando sentado ali naquela região.

Em 2008, mudança na inscrição do topo
Hoje em dia, com a proporção e visibilidade mundial que o Inter alcançou, talvez o "boné" não tenha uma grande relevância para as novas gerações. Mas, na época das "vacas magras", nos anos 1980 e 1990, era o símbolo de uma das únicas coisas que ainda fazia a torcida creditar no Inter: a inscrição "A Maior Torcida do Rio Grande" (em 2008 trocaram para "A Maior e Melhor"). Mais do que a polêmica e ira que despertava nos tricolores, o "boné" era um símbolo. Além de proteger os torcedores das intempéries, dali se tinha uma visão privilegiada do campo e do pôr-do-sol do Guaiba.
Bela vista do pôr-do-sol do Guaíba

Jogo da Seleção Brasileira, em 2005
           
Mas o maior valor dele era para quem não ficava abrigado sob sua "aba". Tu entravas no estádio pelo outro lado e, das sociais, vias de frente aquela inscrição imponente. Aquilo te dava uma força inimaginável, não importava o resultado da partida ou contra quem o Inter estava jogando.

Das sociais, era essa a imagem que se via



Ao ler aquelas palavras, parece que elas te faziam acreditar que era sempre possível ganhar. Quando decidiu escrever aquilo, além de criar uma marca registrada que identificava o estádio, o clube dava a noção exata de quem eram os protagonistas do espetáculo: os Torcedores Colorados. Era a certeza de que sempre seríamos grandes, não importava o que acontecesse.


O velho "boné" com certeza vai deixar saudades, boas lembranças. Mas o novo sempre vem, precisa vir. Teremos um remodelado, confortável e moderno estádio, padrão FIFA, que, se não terá mais o "boné", ao menos conservará consigo todo o seu valor histórico. O único do RS que viu três Campeonatos Brasileiros, uma Copa do Brasil, duas Libertadores da América, duas Recopas e uma Copa Sulamericana serem erguidas. Pelo menos, até agora. Não é pouca coisa. E sei que iremos escrever novos capítulos de sucesso da centenária história do clube do povo. Que venha o futuro, e que a história seja tão gloriosa quanto foi até agora!

Novo Beira-Rio, Estádio Oficial da Copa do Mundo de 2014

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