Reestruturação à vista.
Sabe quando a empresa se dá conta de que passou muito tempo tomando as decisões erradas e quer, de alguma forma, mostrar para seus clientes e acionistas que ela é dona de seu destino, que consegue se reestruturar e, ao menos, aparentar que ainda tem muita força no mercado? E ainda manda um aviso: os concorrentes que se cuidem, pois agora estamos vindo com tudo! Como se antes isso não devesse ter sido feito...
Esse é um exemplo fictício, mas nem tanto. De qualquer forma, é algo que afeta todo mundo, especialmente aqueles os quais a cabeça está a prêmio. O pior dessa história é que, num caso desses, algumas empresas ainda parecem utilizar uma cultura antiga de gestão de pessoas versus custo. Vejamos outro cenário hipotético: a empresa divide sua área de TI. Numa metade estão funcionários dela (contratados via CLT). Na outra metade estão profissionais terceirizados (na sua maioria contratados como Pessoas Jurídicas, os tais “PJs”), que pertencem a outra empresa, mas que trabalham como se fossem funcionários celetistas. Em outras palavras, os times são, em geral, mistos. Sim, sejam bem-vindos ao mundo do “outsourcing multi-plataforma”.
Pois bem, a empresa percebe que gastou demais e precisa reduzir os custos operacionais. Decide então começar a cortar algumas posições. É aí que ela começa a "economizar". O último verbo está entre aspas de propósito. Isso porque essa economia nem sempre é inteligente. O erro que comumente se comete é pensar apenas em cortar custos para equilibrar o balanço, ao invés de investir. Só que o corte de custos funciona quase sempre apenas no período em que ele é aplicado. E depois? Se não houver investimentos e a empresa não crescer no período seguinte, aquele equilíbrio aparente nas contas vai por água abaixo, pois pode chegar um momento em que não haja mais custos a serem cortados. E se a empresa não investiu para crescer, corre sérios riscos de ter sua situação financeira piorada, e muito! Esse raciocínio faz parte de princípios básicos de contabilidade, mas infelizmente ainda não foi aprendido por todos.
Voltemos ao nosso exemplo: pela lógica acima descrita, o que será que a empresa optaria por fazer? Acertou quem disse que ela começaria demitindo os profissionais terceirizados. Mas a mão de obra terceirizada não é a mais barata? Sim, mas demitir funcionários celetistas sai bem mais caro, devido ao enorme peso dos encargos envolvidos. Só que alguns pontos não estão sendo lembrados: O desempenho e a competência profissional. É natural que em grupos mistos existam terceirizados mais competentes que funcionários ou vice-versa. Sendo assim, num processo de layoff, não seria mais adequado a empresa optar por ficar com as pessoas mais competentes e que possam agregar mais valor? Nem sempre. Em alguns casos, fica quem custar menos no fim das contas.
As justificativas para isso são as mais variadas. Mas a principal delas é ainda o custo. E, por mais que possa parecer dar um ar de "má imagem" para a empresa perante o mercado, isso não acontece. Ao contrário, o mercado e os acionistas veem que a empresa cortou gastos, equilibrou suas contas e, no fim, suas ações sobem. Bem, pelo menos até a próxima crise...
É óbvio que a questão das pessoas qualificadas ou incompetentes versus custos e benefícios é apenas uma pequena parte de um todo que engloba uma reestruturação. Só que talvez seja uma das partes mais importantes, pois são as pessoas que serão os agentes responsáveis para que empresa vire o jogo a seu favor. São esses detalhes podem demonstrar o quanto uma empresa é ousada e corajosa e o quanto ela está preparada para enfrentar o mundo e realmente ser melhor naquilo que faz.
* Adaptação do texto escrito em 18/06/2008