quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Círculo de Confiança no Ambiente de Trabalho


Quando você tem uma relação de confiança, supõe-se que seja bilateral. Caso contrário, não teria sentido ou não seria uma relação de confiança. Ao menos, eu sempre vi dessa forma. Só funciona em sua plenitude quando as duas (ou mais) partes realmente acreditam uma na outra. A confiança gera outra coisa chamada sintonia. As coisas tendem a fluir melhor quando as partes estão "na mesma página", como se diz. Sabe aquele seu colega de trabalho com o qual você nem precisa dar maiores instruções e ele parece que já entendeu o que você queria fazer? É disso que eu falo. Nas relações interpessoais não é diferente. Muito daquela sensação de que uma pessoa te completa, que parece que pensa do mesmo jeito que você, vem dai. É a confiança que fortalece essa percepção.

Dias atrás eu estava revendo um daqueles filmes de uma série chamada "Entrando Numa Fria" e suas variantes. Para quem não conhece, trata-se de uma comédia onde um agente reformado da CIA (Robert De Niro) pega no pé do seu novo quase genro (Ben Stiller), por achar que ele não é o cara mais adequado para casar com sua filha. O filme tem ótimas sacadas e é engraçado. Em determinada parte do segundo filme, De Niro, quase em tom militar, fala na importância da família estar unida e caminhar na mesma direção, seguindo os mesmos preceitos. Ele estabelece um "círculo de confiança" para ilustrar essa ideia. A personagem de Ben Stiller, obviamente, não está dentro deste círculo e De Niro faz de tudo para que ele nunca entre. O interessante é que o próprio De Niro age de forma contrária ao seu próprio método, mentindo para a família e inventando situações para provar à sua filha que o pretendente a genro "não vale nada".

Usar o círculo como figura ilustrativa é uma prática antiga. Essa forma geométrica denota unidade, algo que não se sabe onde começa ou termina, que é perfeito. Quando uma parte dele se rompe, perde-se a harmonia das formas, tem-se um choque na sua representação de continuidade, fica faltando algo. E é por isso que se ilustra a confiança através de um círculo. Se uma parte se perde, abala-se toda a estrutura e esta fica mais frágil. Da mesma forma, há também a representação de um conjunto comum de valores, e estar fora dele representa estar em dissonância com o que ali se quer expressar. É o caso do filme. Mas não só do filme...

Trabalhar em um ambiente onde a confiança é recíproca faz diferença. Há empresas que dizem confiar no trabalho das pessoas, mas estão sempre fiscalizando ou tentando forçar uma direção dos esforços, de acordo com uma determinada linha de pensamento. É um ambiente onde não se tem nenhum tipo de independência para se tomar decisões ou escolher a melhor forma de trabalhar em equipe. O tratamento humano acaba ficando "mecanizado", todo mundo precisa agir de um jeito, jogar o jogo pré-estabelecido. A figura do líder, em alguns casos, é meramente ilustrativa, afinal, não é ele realmente quem vai formatar o trabalho do time. A própria empresa exerce um papel centralizador através dos cargos mais altos, o que deixa pouco espaço para que o líder dê a sua "cara" para os projetos. Na mesma proporção, ele acaba descontente com esses movimentos e, junto com outras pessoas do time que têm vontade de fazer as coisas certas, pode acabar sendo mais um nas estatísticas de turn over. A menos, é claro, que ele faça parte do "sistema". Aí temos aquele caso onde o turn over se dá apenas abaixo dele. Quem gosta de trabalhar com liberdade e contribuir positivamente não aguenta trabalhar perto deste tipo de pessoa. É mais fácil notar essa espécie de "liderança" quando se analisa a quantidade de pessoas que passaram pelo time dela durante o ano. Este é apenas um fator, mas ajuda na identificação do arquétipo mencionado.

E se você não consegue acreditar ou confiar nem no líder da sua equipe, como é que pode esperar que ele ou a própria empresa acreditem no seu trabalho? Esse tipo de sentimento causa muito descontentamento, especialmente em equipes maiores e heterogêneas. É o momento em que o "círculo de confiança" se quebra. Ou você está fora do círculo da empresa, ou a empresa está fora do seu, considerando as suas convicções pessoais.

Uma das funções do líder é justamente estimular os demais membros da equipe a também desenvolverem a liderança que há dentro deles. E eu penso que não se consegue formar líderes sem estabelecer uma relação de confiança com as pessoas. Se fizer diferente disso, você corre o risco de ter ao seu redor, fantoches, puxa sacos ou então pessoas iguais a você. Evitar esses estímulos, muitas vezes, é uma questão de medo de perder o "poder" ou de ver alguém superar o líder dentro da equipe. Mas é um pensamento retrógrado. É muito melhor você trabalhar com os melhores! Se um dia forem melhores que você, ao menos se poderá aprender com eles. Vejo que a vida na empresa pode ser temporária, um dia você irá embora. Não é melhor que alguém possa ficar no seu lugar e você estar seguro com essa decisão? Sair sabendo que seu trabalho poderá continuar ou ficar ainda melhor é muito mais estimulante. O que as pessoas não entendem é que a empresa estará ali e seu trabalho não tem razão de ser se apenas você for o beneficiado. Um líder de verdade pensa no valor do seu trabalho no futuro, mesmo quando não fizer mais parte da organização.

É realmente muito bom quando se consegue sentir essa sinergia no seu ambiente de trabalho. Posso me considerar um privilegiado por isso hoje, ainda mais por já ter vivido experiências completamente opostas no passado. O fato de ter a oportunidade de mostrar o seu trabalho com a confiança de empresa te dá um poder (no bom sentido da coisa) que você não imaginava que possuía. Logicamente que a sua competência é que vai fazer a diferença a seu favor, mas as coisas tendem a acontecer naturalmente quando se tem essas premissas. Eu poderia citar alguns sinais importantes nesse sentido:

a) A equipe é "sua". Você tem autonomia nas decisões internas do time. A empresa raramente ou nunca interfere operacionalmente. Mas isso vem muito do fato de você estar comprometido com os valores da companhia. Você naturalmente vai reportar resultados para alguém e será cobrado por isso. Mas a empresa sabe que no dia-a-dia ela pode contar com alguém para gerenciar as pessoas e as tarefas dos projetos;

b) A transparência é recíproca. Tão importante quanto transmitir as informações de forma clara e transparente a quem trabalha com você, é receber na mesma moeda. Se as pessoas que estão ao seu redor, acima ou abaixo na hierarquia, sempre procuram deixá-lo "na mesma página" que elas, é porque veem em você alguém a quem podem confiar tais informações e que realmente possa contribuir com os objetivos;

c) O conceito de time fica mais claro. Quando todos confiam no trabalho dos colegas, o respeito e a colaboração se tornam mais naturais. Você sente que jogar para o time é mais importante que para si e sabe que poderá contar amanhã com a ajuda das pessoas que você auxiliou hoje.

d) Você é visto como referência. Se você realizou um bom trabalho ao longo do tempo, e a empresa reconhece isso, certamente serão confiadas a você tarefas em outras iniciativas que demandem as mesmas competências, em vez de se buscar algum profissional externo para fazer o trabalho. Ou seja, além da competência, comprometimento e trabalho duro, a confiança também pode ser um fator gerador de oportunidades.


Esses foram apenas alguns exemplos. Acredito que outros sinais possam ser vistos num ambiente de confiança mútua. De qualquer forma, o que eu sempre percebi foi que, quando as partes acreditam umas nas outras, a tendência é que se gere um círculo virtuoso, onde tudo funciona com mais facilidade e a satisfação das pessoas, em geral, aumenta. Isso reflete diretamente na qualidade de vida no trabalho. Atuar num ambiente "pesado" provavelmente não lhe proporcionará essa impressão. Mas é sempre bom lembrar que essa é uma via de mão dupla. Você só pode esperar confiança se também for confiável aos olhos dos outros, se estiver dentro do círculo. Você está?




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