O Crescer e o CRESCER

Quer um aumento? Mude de emprego. Essa é uma expressão que tenho visto ser utilizada de forma frequente por alguns consultores de gestão de pessoas.

Internacional

Minha geração é a mais Colorada de todas. E sempre será!

É Hora de Abandonar o "Complexo de Vira-Lata" e Arregaçar as Mangas

Certos acontecimentos são cíclicos. Não importa a época, de tempos em tempos eles se repetem. Mudam um pouquinho aqui ou ali, mas preservam a mesma essência...

A Legião Urbana Vence Tudo. Até o Tempo.

A eternidade é o prêmio concedido àqueles que realizam feitos notáveis, únicos ou não, mas que são capazes de perdurar a ponto de serem lembrados por diversas gerações subsequentes...

"Cer" ou "Não Cer"

- Como esse pessoal da TI gosta de falar em certificações - disse um amigo que é consultor de RH. Tem lógica..

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os Desafios de Iniciar um Projeto de Testes


Sempre que um projeto inicia, especialmente quando se trata de um relacionamento com um novo cliente, ele traz consigo uma série de reponsabilidades, afinal, este é o momento onde você está “vendendo o seu peixe” e precisa mostrar a que veio. Ora, se você está sendo contratado, é porque o cliente provavelmente não tem o conhecimento necessário dentro dos seus domínios para executar determinado trabalho e precisa que alguém o faça. Quando se fala em projetos de teste de software, especificamente com times distribuídos em diferentes países, as responsabilidades são ainda maiores.

Há diversas questões envolvidas, desde processos até a própria cultura da organização, passando, é claro, pelas pessoas. Ah, as pessoas... Por que precisamos lidar com elas em TI? Bem, este é o mundo. E se você é líder ou gerente de projetos, precisa saber lidar com gente, não tem jeito.

A partir de algumas experiências próprias, eu resolvi listar a seguir, sem comprometimentos didático-acadêmicos, algumas situações que normalmente enfrentamos quando precisamos iniciar um novo projeto internacional na área de teste de software, mas creio que a maioria dos itens pode servir para qualquer tipo de projeto, já que contemplam ações comuns ao dia-a-dia dessas atividades. É claro que cada projeto apresenta particularidades e alguns dos itens a seguir podem não fazer parte da sua realidade, mas creio que há mais coisas em comum do que distintas.


O Desafio

Lembram quando, na faculdade, os orientadores do trabalho de conclusão diziam que toda pesquisa parte de um problema? Ou seja, para que algo seja respondido, é preciso que exista o problema de pesquisa em si. Um projeto quase sempre inicia com um desafio, para o qual você é contratado para resolver ou fazer parte da solução. Vamos supor que a sua missão neste caso seja “montar um time offshore responsável pela execução de testes de regressão automatizados”.  Este é o começo de tudo. Provavelmente a empresa negociou um contrato com o cliente e esta é a proposta de trabalho, que partiu das necessidades dele. Você e sua equipe são as pessoas que irão executar esse serviço. Só com isso acertado é que as coisas começam, normalmente.

É também neste momento que você vai saber qual é o perfil do time que o cliente deseja, quanto ele vai pagar, quantas pessoas estarão envolvidas, enfim, a parte comercial da coisa toda. Pode ser que as pessoas já trabalhem na empresa e apenas sejam movidas para o seu projeto ou então exista a necessidade de contratação de novos profissionais. Se este último for o caso, adicione o processo de recrutamento e seleção na sua lista (você provavelmente será envolvido nele em algum momento).


O Início

Superadas as tratativas acima, chega a hora de operacionalizar o projeto, dar o pontapé inicial, o famoso kick-off. Quase sempre o início é uma fase meio “nebulosa”, onde você está recém conhecendo e se familiarizando com o que está por vir. Quando se tratar de um projeto internacional, as distâncias acentuam algumas dificuldades. Então tenha em mente que:


  • As informações disponíveis ainda são escassas: como é o começo, é natural que muita coisa ainda precise ser descoberta. Ter habilidade em buscar essas informações certamente ajudará bastante, mas você provavelmente só vai ter o que precisa com o passar do tempo;
  • A interação com times estrangeiros ainda é superficial: se você trabalhar com pessoas que estejam em outro país, as interações iniciais com elas normalmente são pontuais, mas vão aumentando com o tempo. Você pode ter algumas semanas junto a elas na sede do cliente, então procure saber com quem você irá trabalhar para poder estreitar esse relacionamento quando chegar a hora;
  • Seu time pode não estar completo ainda: se você estiver em fase de montagem do time, é bom considerar que isso pode limitar suas atividades iniciais. Um bom planejamento de seleção evitará uma demora excessiva em trazer novos membros para a sua equipe;
  • A infraestrutura ainda não está finalizada: perfeitamente normal. Afinal de contas, você pode não ter todo o time disponível para começar o trabalho. Sendo assim, itens como acessos a redes e bancos de dados, computadores, ferramentas, etc. ainda carecem de configuração;
  • Treinamentos Internos: caso exista necessidade, você pode ter de treinar os novos membros do time nas ferramentas que serão utilizadas. O ideal é que isso seja feito o quanto antes;
  • Viagens fazem parte do trabalho: em projetos internacionais que estão iniciando, você precisará passar algum tempo nas dependências do cliente para poder operacionalizar todo o processo. Esteja com a documentação em dia ou providencie passaporte e visto (se preciso) o quanto antes. O mesmo vale para o caso de mais pessoas irem com você;
  • Outro país, outra cultura: lembre-se de que as coisas podem ser diferentes do lugar onde você mora. Sendo um país estrangeiro, tenha em mente regras básicas que ajudem a evitar gafes, se localizar, se comportar, etc. Isso pode fazer uma grande diferença na imagem que você vai passar para o cliente. E é justamente essa diversidade que é uma das partes mais fascinantes de se trabalhar nesse tipo de projeto. É um aprendizado único e cativante. Saiba aproveitar.


Ambientação
 
Depois que você “quebra o gelo” e começa efetivamente a planejar na prática o seu objetivo inicial, vem a etapa de imersão no mundo do cliente, onde você precisa absorver e descobrir todas as informações possíveis para depois poder aplicar no seu trabalho. Em linhas gerais, é hora de:

  • Entender o negócio do cliente: parte fundamental do trabalho de um profissional de testes ou de desenvolvimento. Mesmo que seja complexo, ter um bom entendimento do negócio do cliente ajudará muito no trabalho de consultoria e na criação e execução de testes ou na codificação de programas. Para alguns clientes, inclusive, pode ser tão ou mais importante do que suas habilidades técnicas. Portanto, aprenda, tente compreender as regras de negócio envolvidas. Se possível, esteja próximo de alguém do time de business. Essa pessoa será uma ótima fonte de informação neste momento;
  • Conhecer os sistemas e suas atribuições: é nesse ponto que você conhece a prática do negócio do cliente e também quais sistemas você irá testar ou dar manutenção. Treinamentos internos normalmente são necessários e são conduzidos por pessoas da área de business. Caso parte do time esteja em outro país, podem ser feitos de maneira remota, via videoconferência. Atenção aqui é fundamental, pois ajudará a desbravar os “caminhos” de cada aplicação envolvida;
  • Estudar os processos atuais de testes e desenvolvimento e metodologias utilizadas: Normalmente o cliente já segue algum tipo de processo. Você poderá ou não sugerir ou implantar alguma melhoria. Mas sempre leve em conta que um processo ou metodologia deve ser uma ferramenta para auxiliar o seu trabalho e não uma filosofia de vida. Não se apegue demais a um conceito específico e procure focar na melhor solução para o cliente, pois você pode encontrar um ambiente que não seja tão favorável a mudanças radicais. Antes de sugerir algo, entenda primeiro o funcionamento atual das coisas. Lembre-se de que a melhor metodologia é o trabalho bem feito;
  • Verificar quais ferramentas são usadas: podem ocorrer dois casos distintos: um onde o cliente já tenha ferramentas em uso e outro onde ainda não há nenhuma. O primeiro caso ocorre em processos já em andamento, mas que podem precisar de melhorias. O segundo é mais comum quando nem processo existe e você irá trabalhar nas definições dos mesmos. No caso de processo existente, o mais normal é você trabalhar com as ferramentas já conhecidas. Em muitos casos a equipe já é contratada pensando neste quesito. Se não há ferramenta, você pode sugerir alguma. E aí leve em conta o custo-benefício. Nem sempre uma ferramenta “free” significa um custo menor em relação a uma paga. Se o setup dela for muito complexo e sua utilização exigir mais habilidades dos membros do time, você terá um custo de especialização (leia-se salários) que poderá, no longo prazo, ultrapassar os custos dos salários e das licenças de uma ferramenta paga. Preste bem atenção a isso. Analise as intenções do cliente e faça os cálculos para trabalhar com a ferramenta certa;
  •  Identificar as áreas onde o seu time irá trabalhar: conhecendo os sistemas, você precisa saber em quais efetivamente terá de atuar. Isso é o cliente quem vai dizer, de acordo com as necessidades de cobertura de teste ou desenvolvimento que ele tem.


Consultoria

É o momento onde você efetivamente passar a dar a sua contribuição para o projeto, identificando pontos de melhoria ou definindo padrões a serem usados. É a materialização da soma dos esforços feitos nas etapas anteriores. A sua experiência com projetos anteriores e as boas práticas já utilizadas valem muito neste estágio dos trabalhos. A quantidade de tarefas pode variar, mas há algumas mínimas que quase sempre aparecem:

  • Desenho do processo: quando já há um processo com fluxo definido, o mais provável é que você tenha de segui-lo. No caso de haver possibilidade de inserções de melhorias ou então de não haver processo definido, seu trabalho será bem maior. Em comum acordo com o cliente, defina etapas ou ciclos, tempos, pessoal envolvido, mitigação de problemas, fluxo das atividades e critérios de entrada e saída. O processo também precisa ser replicável no futuro, de forma contínua. Deixe espaço para melhorias, afinal, o processo deve ser visto como um organismo vivo e dinâmico, que pode (e deve) evoluir constantemente;
  • Definição dos padrões do projeto: a parte mais “braçal” e minuciosa do trabalho, mas uma das mais importantes. Você também pode aproveitar o que já existir, mas, caso não exista nada, terá de definir detalhadamente os padrões de nomenclatura (de testes, de objetos, etc.), tipos possíveis de defeitos, níveis de severidade e criticidade, padrões de código, tipos de status de criação e execução de testes, entre outros. Isso será utilizado pelo seu time ou por outros times, então desenvolva padrões que sejam claros e fáceis de serem seguidos. A utilização de padrões comuns em vários projetos ajuda em pontos como manutenção, rapidez de desenvolvimento e revisão. Uma boa prática, no caso das revisões, é criar um checklist com os itens que devem ser observados;
  • Identificação dos cenários de testes para futura seleção do escopo: se você for trabalhar em um projeto de release única ou de várias, sempre precisará saber o que deverá entregar.  Selecione, juntamente com o cliente, uma gama de possíveis cenários de testes a serem escritos ou automatizados, dentro das áreas que você definiu anteriormente. Comprometa-se apenas com aquilo que pode entregar, mas tente sempre surpreender positivamente;
  • Ouvir: pode não ser exatamente uma etapa, mas a parte mais importante de um trabalho de consultoria, e que está presente durante todo o tempo, é justamente saber ouvir. Dizem que não é à toa que temos dois ouvidos e apenas uma boca. Saiba utilizar isso. Faça suas propostas, busque a excelência, mas evite “bater o pé” com convicções exageradas. Em muitas vezes, você precisa abrir mão de algumas dessas convicções acadêmicas ou teóricas em detrimento ao bom senso, para que os objetivos sejam atingidos. É assim no mundo real dos projetos. Você não pode deixar de entregar um módulo do sistema que seja de suma importância apenas porque o código não está bonito. É um exemplo extremo, mas ilustrativo. Não há espaço para teimosias sem sentido quando há dinheiro em jogo, especialmente o dinheiro do cliente. Negocie o escopo e prazos se necessário, mas sempre procure entender o lado de quem precisa dos resultados do seu trabalho. Além disso, é ouvindo que você consegue aprender mais sobre o que está fazendo e é como você consegue obter a maioria das informações de que precisa. Saber ouvir, basicamente, é o que diferencia um bom consultor dos demais;
  • Criação do documento de Test Strategy: aqui está o output de todo o planejamento que você fez, juntamente com seu time e com o cliente. Este documento é o guia que mostra, formalmente, como tudo no projeto vai funcionar: quem faz o quê, quais são os riscos, os padrões e tudo mais. É a primeira entrega formal a ser feita como esforço do seu trabalho. Quanto mais claro, melhor. Quer saber como fazer um bom documento de Test Strategy? Clique aqui.


Execução

Após todo o planejamento e definições feitas, chega a hora de colocar a “mão na massa” e começar a produzir resultados tangíveis. A operação, em geral, pode ser simples se tudo estiver corretamente definido e você seguir corretamente aquilo que planejou na etapa anterior. Mas o ponto principal será a qualidade com que você vai fazer a entrega projetada. Uma boa prática para validar o processo é criar uma simulação antes da release propriamente dita. A fase de execução pode conter:

  • Estratégia: embora esteja traçada no documento de Test Strategy, é sempre bom ter uma versão revisada deste ponto antes de começar as atividades ou, ao menos, para servir como lembrança para a equipe daquilo que se pretende atingir;
  • Time treinado e ambientado: assume-se que, neste estágio, o time de testes já tenha conhecimento das ferramentas que serão utilizadas e dos sistemas que serão testados, bem como um conhecimento a respeito das regras de negócio, fundamentais para a criação dos testes ou scripts automatizados;
  • Definição do escopo: liste aqui a posição final em relação aos módulos ou scripts que você pretende entregar. A partir deste ponto, não há mais espaço para mudanças, portanto cerifique-se de que irá trabalhar em cima de um range realista de tarefas e entregas;
  • Criação (testes, código): Oba, agora a coisa começa a ficar visível! Dentro do tempo definido para isso, trabalhe na criação dos testes ou scripts, respeitando os padrões que foram estabelecidos anteriormente. Revise (peer review é uma boa prática) aquilo que foi criado antes de considerar como versão final. Não se esqueça de montar o suíte de testes antes da execução, para que fique demonstrado visualmente e todos saibam o que será coberto pelos testes;
  • Execução: com os testes construídos, é hora de executá-los. É importante manter um histórico das execuções, com os tempos, testes que passaram, falharam ou que não foram executados. Esses dados serão usados mais adiante quando forem reportadas as métricas. O processo precisa permitir que essas informações sejam guardadas de modo a serem acessadas no futuro, de preferência separadas por release;
  • Cadastro de Defeitos: durante a execução, os defeitos encontrados devem ser cadastrados na ferramenta apropriada. Certifique-se de que cada defeito respeita os padrões e que está endereçado para a pessoa certa, que irá trabalhar na resolução do mesmo. Procure pedir algum retorno caso haja demora na solução;
  • Relatórios de Métricas: ciclo terminado, é hora de contar a história da execução. O relatório de métricas deve fazer exatamente isso: mostrar como as coisas aconteceram, com números, claro, mas também com significado. Um número contextualizado fornece uma informação melhor do que apenas o valor “cru”. Use a criatividade ao apresentar os resultados, buscando fazer dessa informação um instrumento que auxilie os tomadores de decisão. Falconi já dizia que só aquilo que pode ser medido é que pode ser melhorado. É exatamente para isso que as métricas servem: para melhorar o processo e os sistemas, saber onde estão os gargalos, as maiores incidências de defeitos, mostrar o desempenho da aplicação, etc. Não use estas informações para servirem simplesmente como metas para a equipe. Você pode comprometer a qualidade do trabalho, criando competição em vez de colaboração;
  • Aprovação do cliente: o famoso sign-off. Depois de todo o engajamento, planejamento, execução e apresentação dos resultados, chega a hora de o cliente dizer se aprovou ou não aquilo que foi entregue. Você vai descobrir se poderá ir adiante e trabalhar em outras releases ou projetos, ou se ficará pelo caminho. Uma grande expectativa paira sobre a equipe neste momento. Pode ser, inclusive, que seu emprego dependa disso, portanto, tenha ao menos a certeza de que tudo foi bem feito e que os resultados obtidos terão valor para o cliente. É a oportunidade única de estabelecer uma relação de longo prazo e este ponto é onde você será capaz de saber se isso será ou não possível. Capriche!


Maturação

Após estar estabelecido com sucesso, vem a fase de amadurecimento do projeto. É onde você começa a pensar em como as coisas podem ser melhores e também corrigir eventuais distorções. Aqui o funcionamento das coisas vai ficando mais natural para todos e se pode vislumbrar o futuro das atividades. Para isso, é preciso:

  • Ajustes: todo motor precisa de revisão de tempos em tempos para que possa aumentar sua vida útil. Com um processo não é diferente. Depois de estar em operação pela primeira vez (e até bem depois disso), é adequado que ele passe por pequenos ajustes, seja de padrões que faltaram ou estão sobrando, correções no fluxo, troca de papéis e responsabilidades, etc.;
  • Organização da documentação: documentação deficiente ou a falta dela são problemas comuns no universo dos projetos. Mantenha a sua documentação sempre organizada, se possível faça com que todos tenham acesso e compartilhem as alterações feitas. Os documentos do início de projeto são importantes e precisam ser mantidos, assim como os novos que estão sendo gerados a cada release;
  •  Estabelecimento da rede de contatos: a primeira interação com o time já deve ter dado uma ideia de quem é responsável pelo quê e como você pode acessar essas pessoas. Se essa rede ainda não estiver clara, não se assuste.  Em muitos casos, novas situações exigirão novos contatos. Sua rede pode crescer sempre. Apenas cuide para que os contatos principais estejam na sua lista. E mantenha o relacionamento com essas pessoas o mais frequente possível. Isso faz uma diferença grande em termos de confiança percebida;
  • Replicar o que foi feito com sucesso nas releases seguintes: parece óbvio, mas sempre tem gente disposta a reinventar a roda. Não tente elaborar uma forma de procedimento diferente a cada release. Se um padrão de processo foi definido, faça ajustes, mas não tente algo novo a cada interação. Além de passar uma impressão de que você não tem certeza do que está fazendo, isso custará muito tempo de setup;
  • Revisar e melhorar o processo sempre que possível: mesmo tendo citado indiretamente em itens anteriores, nunca é demais lembrar que um processo deve ser encarado pela lógica Darwiniana, ou seja, algo que se modifica com a necessidade e se adapta às novas situações cotidianas. Quando você notar que há espaço para uma melhoria significativa, não hesite em sugerir ou aplicar as mudanças cabíveis. A eficiência vem daí.

Trabalhar com projetos internacionais, sejam de testes ou não, ainda tem diversos outros pormenores. Como já colocado, um nunca será igual ao outro e as variáveis são quase infinitas. Como dica final, há alguns pontos adicionais que eu considero relevantes:


Coisas com as quais que você precisa lidar

  • Distância: trabalhar com equipes distribuídas é sempre um desafio. Se você tem a oportunidade de viajar com frequência, mantendo um contato mais próximo, excelente. Caso contrário, minimize os efeitos dos quilômetros usando todos os recursos de comunicação possíveis. Hoje em dia, isso é bem mais fácil. Tente não ficar apenas no virtual, utilize videoconferências ou reuniões por telefone com maior frequência. Faça-se presente, mesmo distante;
  • Cultura: além da questão de saber “se virar” em outro país, como já mencionado, é muito produtivo você ter “jogo de cintura” para lidar com formas de pensar diferentes da sua. Informe-se a respeito disso para evitar problemas de comunicação. Dizer “o que você fez está tudo errado” pode ter interpretações diferentes, dependendo de quem está falando. Para alguns pode soar ofensivo, para outros é apenas dia-a-dia de trabalho. Atente para essas particularidades;
  • Fuso horário: este pode ser um grande desafio, dependendo de onde as pessoas do time estão. Fazer reuniões com diferença de uma hora do fuso horário é uma coisa. Fazer o mesmo com doze horas de diferença é outra. Muitas empresas pensam nisso ao contratar algum tipo de serviço, justamente porque está muito ligado à produtividade. Mas, em muitos casos, há períodos de tempo onde os times estão em sincronia. Aproveite isso ao máximo, marcando reuniões importantes para estes horários, assim todos podem participar;
  • Ambiente e segurança: Considere que há políticas rígidas de segurança da informação e acesso a determinados ambientes ou sistemas em muitos lugares. Pode ser um fator determinante no momento de se validar um build ou acessar um banco de dados. Esteja informado acerca das políticas de confidencialidade que porventura existam. Elas estão ali justamente para indicar até onde você pode ir;
  • Prazos de entrega: como em todo projeto, o prazo é quase sempre o vilão do trinômio. Saiba que você poderá ter de trabalhar com prazos mais ou menos apertados e, para isso, um bom plano de contingência ajuda. Organize seu trabalho de forma a terminar no prazo (ou antes), mas tenha um plano reserva caso adversidades apareçam e estabeleça isso com o cliente de forma transparente;
  • Comunicação: além de comportar os itens de distância, fuso horário e cultura, a comunicação tem outros detalhes que influenciam diretamente no andamento das atividades. A frequência com que a comunicação é realizada, os meios como ela é transmitida e as abordagens usadas para cada tipo de comunicação podem fazer a diferença. Entenda que também pode haver ruídos que precisam ser trabalhados e a melhor forma para isso é manter tudo o mais claro possível e dentro de um espaço de tempo que não atrase os trabalhos. Use sempre a informação mais atualizada e dissemine-a aos interessados. Saiba como o cliente prefere que você reporte os dados de que ele precisa e de que todos estão recebendo as informações no tempo certo;
  • Expectativas do cliente: um erro comum é tentarmos adivinhar o que o cliente quer. Evite achismos mantendo um diálogo permanente e procurando entender o que deve ser entregue. Dizem que, num projeto, a melhor surpresa é não haver surpresas. Para minimizar frustações e evitar aumento de custos, mantenha o seu trabalho e sua comunicação sempre alinhados com a expectativa do cliente;


Coisas que podem ajudar você

  • Paixão: elemento primordial para ter sucesso. Se você não faz o que gosta, procure ao menos gostar do que faz. Parecem duas frases iguais, mas há uma grande diferença entre elas. Quanto você coloca paixão no seu trabalho, as coisas andam com mais tranquilidade e seus objetivos ficam mais claros até para você;
  • Conhecimentos de testes: óbvio! Se você está trabalhando com um projeto de testes, é mais do que esperado que já possua um conhecimento no assunto. E isso nunca é demais. Quanto maior for sua vivência e experiência neste mercado, mais contribuições você tende a oferecer. Procure trazer pessoas especializadas para o seu time. Muitas empresas acham que qualquer um pode executar tarefas de teste, o que é um engano. Formação e carreira têm muito valor nessa área e o profissional de testes precisa ser valorizado;
  • Automação: cada vez mais presente no mercado, a automação, antes usada apenas em ambientes de regressão, tem feito parte de outras fases dos projetos de testes. Não sei se isso é certo ou não, afinal sabe-se que há um custo-benefício envolvido que deveria ser calculado, mas o fato é que tais conhecimentos são sempre úteis, independente da ferramenta que está sendo utilizada. Estes conceitos podem representar um diferencial na sua carreira. Se ainda não sabe sobre automação, aprenda.
  • Inglês: projetos internacionais normalmente tem o inglês como idioma oficial, mesmo quando há pessoas envolvidas em países que originalmente não falam a língua. Portanto, já passou da hora de os profissionais de TI que almejam carreira internacional aprenderem inglês. Outros idiomas podem complementar, mas inglês é o mínimo necessário para qualquer atividade desse tipo;
  • Error Guessing: como profissional de testes, você precisa ser bom em encontrar defeitos. Por mais que alguns relutem ou inventem nomes rebuscados para as atividades, o cerne do nosso trabalho ainda é encontrar erros. Quanto melhor você for nisso, mais valor irá trazer para o cliente. Isso, claro, se a atividade for percebida dessa forma. Não há receita para isso, mas experiência, curiosidade e técnica são facilitadores;
  • Ser proativo: clientes estrangeiros, especialmente os dos EUA, gostam bastante de profissionais proativos e que vão além das suas tarefas diárias. Saber fazer e deixar isso claro é importante, mas antecipar problemas ou situações não previstas, tomar a frente em tarefas de liderança ou organização são itens bem vistos aos olhos americanos, por exemplo.  Contribuir com algo mais é quase um dever e pode lhe dar uma visibilidade muito interessante frete a novas oportunidades;
  • Negociação e Flexibilidade: assim como saber ouvir, saber negociar e ser flexível a possíveis mudanças demonstra um envolvimento com o cliente e passa confiança a ele quanto ao seu trabalho. Em caso de mudanças bruscas necessárias, converse com o cliente, sincronize as expectativas, informe sobre riscos, mas sempre procure ajudar;


  • Ter um bom time trabalhando com você: ninguém trabalha sozinho, portanto tenha com você um time de pessoas comprometidas e competentes.  Busque agir de forma motivadora e colaborativa e estimule isso na equipe. Faça com que todos percebam a importância do trabalho coletivo, afinal, todos ganham ou perdem juntos. Ter um time do qual você tem orgulho de fazer parte não tem preço. E quando isso consegue se traduzir em conquistas e oportunidades, é bom para todos, inclusive para a sua empresa e para o cliente. 

Nunca é demais ressaltar que as dicas aqui mencionadas nem sempre podem representar a realidade de todos os projetos. Sendo assim, aproveite aquelas que possam ajuda-lo no seu trabalho e construa as bases daquilo que é distinto em relação ao seu caso. Lembre-se de que é um exercício diário que trás reponsabilidades, mas que pode render grandes frutos em termos profissionais. O maior legado que fica é que, à medida que vai enfrentando situações como essa, você enriquece sua mente e aumenta seu conhecimento. Isso nuca tem fim e é assim que se amadurece como profissional. Boa sorte!




quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Guia de Compra: Corsa GSi - O Foguetinho de Bolso da GM


Quem me conhece sabe da minha paixão por automóveis, em especial, os clássicos. Desde que me conheço por gente este já era o meu assunto preferido. Mesmo não tendo conhecimentos profundos de mecânica ou elétrica, sempre fui um apaixonado pelo universo automotivo e sua história. Acabei me tornando uma espécie de referência entre os meus amigos. Muita gente me procura pra conversar quando tem alguma dúvida a respeito do tema. Sou daqueles capazes que ficar horas seguidas conversando a respeito. Esses dias um amigo me comentou por e-mail: - por que tu não escreves ao no teu blog a respeito, já que gostas tanto e entendes do assunto? Então, resolvi colocar um primeiro post aqui. Eu acho que o tema merecia um blog só para ele, mas como este espaço não em foco específico, vou começar desse modo e ver como as coisas vão andar. Por isso, decidi iniciar com uma adaptação de um texto que escrevi há alguns anos para o Corsa Clube do Brasil (www.corsaclube.com.br), na época em que eu era um dos administradores nacionais do clube.

Eu sempre digo que o melhor carro é aquele que a gente tem hoje, porque foi adquirido, normalmente, a partir das nossas escolhas, que seguiram alguns critérios (prometo que escrevo sobre isso um dia). Mas, falando em termos de diversão, o carro mais legal que eu já tive foi um Corsa GSi 16v vermelho, ano 1994/1995, que ficou comigo por 5 anos exatos, até ser vendido para um comprador de São Paulo, que veio de avião buscar o carro e voltou dirigindo. Meu carro era seguramente um dos 10 mais inteiros e originais do país naquela época (2007). O comprador ter vindo de São Paulo para buscar o carro certamente corrobora para essa afirmação. Mas digo isso também respaldado pelo fato de ter muitos contatos oriundos das atividades do clube.

Infelizmente, chega um momento da vida em que precisamos abrir mão da diversão em detrimento da "vida adulta" e vendi o carro para terminar minha casa. A foto a seguir, foi a última que tirei dele, em frente ao cartório, no momento em que o passei ao novo comprador:


O que fazia ele especial, além de ser raro e estar impecável, era ele ser da primeira série lançada e de ter a própria General Motors do Brasil como primeiro dono nos documentos. Além disso, ele tinha um "irmão gêmeo", diferenciado unicamente pelo último algarismo da placa, e que consegui localizar em São Paulo, mas nunca mais vi. Depois de muito pesquisar, acabei descobrindo, extraoficialmente, que ambos os carros tinham sido usado em algumas matérias das revistas da época do seu lançamento. 

Eu comprei o carro porque sempre achei ele legal quando era mais novo. À época, ele custava três vezes o preço de um Corsa básico. Era um dos meus sonhos de garoto, juntamente com o Opala Comodoro Coupé Las Vegas e o Kadett GSi Conversível. Quando tive condições (?) de comprar um, me atirei. Foram cinco anos muito bons em termos de satisfação, mas também de aprendizado. No fim das contas, foi até saudável ter vendido o carro, dado o fanatismo com que eu já estava me relacionando com ele. Mas era justificável: o carrinho era muito bom! Andava muito e gastava pouco, tinha visual exclusivo, coisas que os puristas gostam. Era do tempo em que ainda se faziam versões esportivas de verdade no Brasil. 

E justamente por gostar tanto e conhecer bastante sobre o carro, muita gente me procurava na hora de comprar um. Queriam saber dicas, manhas, cuidados necessários, custos, essas coisas. Foi então que eu escrevi o guia a seguir, para ajudar a quem, como eu, é fã do modelo. Não sei se terei outro, dada a dificuldade em encontrar um que esteja em bom estado a um preço não extorsivo. Quem sabe um dia...

Então vamos ao que interessa: como comprar um Corsa GSi?



Apesar de ter sua produção interrompida em 1996, o GSi fascina os amantes de Corsa e de outros carros até hoje. E não é pra menos: seu desempenho, beleza e economia transformaram-no em um ícone da sua época, onde o conceito de carro esportivo nacional de verdade ainda existia. O fato de ele ser ainda hoje um carro desejado, respeitado e até cultuado, faz com que muitas pessoas procurem-no em lojas e anúncios classificados. Porém, por se tratar de um carro já com certa “idade” e com o detalhe de ser um esportivo, muitos desistem de comprá-lo ou por medo do seu real estado de conservação ou porque não possuem informações suficientes para realizar uma boa compra. E essa falta de informação pode levar a uma compra equivocada, fazendo com que o proprietário possa se arrepender mais tarde.

Essa preocupação pode ter sentido, mas não se o carro for realmente bem cuidado. Para quem conhece, sabe que o GSi tem uma mecânica muito boa e confiável, que, embora exija alguns cuidados, não representa uma ameaça ao comprador se o carro estiver em bom estado. Pelo contrário, a satisfação dos donos de Corsa GSi, mesmo com o preço de peças e manutenção, é muito grande. Quem tem, geralmente não pensa em vender.

Neste artigo, tento dar um auxílio àqueles que procuram um Corsa GSi para comprar e que talvez não conheçam alguns detalhes sobre o modelo. Detalhes estes que podem representar um grande negócio ou uma grande roubada, se o comprador não souber o que está adquirindo. Até por que se trata de um carro cujos acessórios e mecânica em geral custam caro quando não são bem cuidados. E são caros devido à exclusividade em relação aos demais modelos da linha Corsa e porque muitas peças são importadas.


1 – Características Principais do Veículo:

É importante saber por que o Corsa GSi é tão procurado e adorado. Para isso, basta listar algumas das suas características e especificações.

O Corsa GSi tem motor 1.6 de 16 válvulas, capaz de gerar 109 cv de potência a 6.200 rpm. Pode acelerar de 0 a 100 km/h em pouco mais de 9 segundos. Embora tenha pouco torque em baixa rotação (como todo 16v), o giro do motor sobre muito rápido e o carro simplesmente vira um foguete. A sensação de dirigibilidade esportiva é acentuada pelo comando de válvulas exclusivo e pela relação de marchas, que o deixa ainda mais esperto. A relação de marchas do GSi é a seguinte:

1ª – 3,73:1
2ª – 2,14:1
3ª – 1,41:1
4ª – 1,12:1
5ª – 0,89:1
Ré – 3,31:1

Embora o carro esbanje potência em alta, ele é incrivelmente econômico. Um carro original faz cerca de 12 km/l na cidade e 16 km/l na estrada. Sua taxa de compressão é alta para um motor movido exclusivamente à gasolina: 10,5:1. O motor é um Ecotec 1.6 16v, transversal e dianteiro, produzido pela GM da Hungria e trazido para o Brasil quase sem alterações. Aliás, o carro inteiro é praticamente igual ao europeu de mesmo ano.   


Ele vinha de fábrica completo, com ar condicionado inteligente (que não rouba a potência do motor) e sem CFC. Outros itens de série são: direção hidráulica, vidros e travas elétricas (com alarme na chave) e freios a disco ventilados na dianteira com ABS. Como acessórios de série, ele conta com bancos esportivos semelhantes aos Recaro, com padrão exclusivo em tecido navalhado. 

As laterais internas são revestidas do mesmo tecido. Outro item de série são os cintos de três pontos e encostos de cabeça vazados nos bancos dianteiros e traseiros, além de regulagem de altura para o banco do motorista. Por fora, existe um kit aerodinâmico completo: saias laterais, para-choque dianteiro exclusivo, com faróis de neblina integrados, aerofólio traseiro e rodas de liga-leve, também exclusivas, com pneus 185/60 R14. A ponteira de escape também é feita só para essa versão. 

Como opcionais, apenas teto-solar de acionamento manual, CD player, e indicador de tripla função no painel. Mas esses opcionais eram quase itens de série: pouquíssimos exemplares saíram sem estes acessórios (exceto o CD player).


2 – Procurar o Carro Certo:

Agora que já se tem uma breve noção do que é o carro, é hora de iniciar a busca. Primeiramente, o interessado em comprar um Corsa GSi deve saber como encontrar o carro certo. Esse primeiro passo talvez seja o mais importante, portanto deve ser feito com muito cuidado. Tenha em mente que é um carro de manutenção cara e que fica ainda pior no caso de ter sido mal cuidado.

Como já mencionado, todo carro esportivo carrega consigo a marca de ter sido maltratado pelo(s) antigo(s) dono(s). Infelizmente isso se confirma na maioria das vezes, seja lá qual carro esportivo você desejar comprar. Por isso, ao procurar o seu Corsa GSi, tente fazê-lo com um conhecimento prévio mínimo ou indicação de pessoas que conheçam a procedência do carro. Evite comprar o carro em lojas de automóveis usados, que, muitas vezes, fazem uma “maquiagem” ou até adulterações para esconderem defeitos. E defeitos escondidos em um carro de manutenção cara são um bom motivo pra se preocupar.

Dê preferência para carros particulares e dos quais você já conheça a história e o comportamento do dono. Avalie bem se todas as características originais do carro estão preservadas e se seu estado de conservação e mecânica estão em dia. Desconfie de quilometragem muito baixa (lembrem-se, os anos de fabricação do carro vão de 1994 a 1996!). Ao mesmo tempo em que isso pode significar uma joia rara, também pode ser uma bomba-relógio. Procure fazer uma avaliação mecânica aprofundada antes de comprar. Esse ponto é importante, pois pode mostrar possíveis defeitos de conserto caro e evitam que você cometa um engano.


3 – Analisando a Mecânica:

Se você encontrar o carro aparentemente certo, é bom fazer uma revisão geral na mecânica antes de optar pela compra. Já mencionei que algumas peças são caras e, portanto, os gastos que puderem ser evitados com isso já ajudam bastante. Muitas vezes, com o preço de algumas peças, daria pra pagar até o seguro do carro. Portanto, não deixe de avaliar esse quesito!

Comece pelas peças básicas de manutenção. Dê prioridade para a correia dentada e os esticadores/tensores. Caso um deles esteja com problema, você corre sério risco (como em qualquer carro 16v) de gastar muito dinheiro pra arrumar cabeçote e válvulas estragados em decorrência de quebra da correia dentada. Dependendo do estrago, pra pagar o conserto e não ficar no prejuízo total, você teria que vender o carro. A correia dentada pro GSi não é difícil de achar, mas custa bem mais que uma correia de Corsa 8v. Mas nada que não justifique o gasto. Se essas peças não estiverem em ordem, negocie a troca delas com o dono. Isso é fundamental. Vale a pena estar com elas em dia!

Da manutenção básica também não se pode esquecer os discos e pastilhas de freio. Como são discos ventilados especiais (na frente apenas), também custam caro. Mas se você procurar fora das concessionárias, também consegue um preço bem mais em conta. O ar condicionado, quando não funciona, também costuma ser um problema bastante chato de se resolver num carro dessa idade, embora não seja tão caro. Mesmo assim, é bom verificar se está tudo ok com ele.

Agora vêm os itens mais caros: sistema de injeção, bomba de ar secundária, válvula EGR e sistema ABS. Para se ter uma ideia, caso todos esses itens estejam com defeito e precisem de reposição, o valor disso já alcançaria o  do próprio carro. Dessa forma, preste bem atenção a qualquer defeito neles.


3.1 – Bomba de Ar Secundária:

Serve para auxiliar na estabilização e regulagem da marcha lenta, quando o carro está com motor frio. Fica em ação de 1 a 3 minutos após a ignição. É possível identificar sua ação por meio de um assovio contínuo que é emitido logo após ser dada a partida no motor. Durante esses 1 a 3 minutos com o assovio, o giro do motor fica mais alto, voltando a estabilizar logo após, quando a bomba desliga. Já vi casos de carros rodando sem ela, muitas vezes por ser cara e os donos não terem investido no conserto. Mesmo assim, não se pode saber qual era a real intenção do antigo proprietário que a retirou. Portanto, certifique-se de que ela exista e que esteja funcionando.
Abaixo, segue uma ilustração da bomba e a sua localização o cofre do motor: 







3.2 – Válvula EGR:

Essa válvula é considerada o “calcanhar de Aquiles” do Corsa GSi. Cerca de 70% dos modelos vendidos apresentaram defeito nessa peça. A função da EGR é retirar os gases com nitrogênio do escape e jogar na admissão (recircular), para controlar a emissão de poluentes. Se estiver com defeito, pode fazer o carro bater pino em altas rotações. Custa caro, então é bom ter cuidado com ela. Essa peça, juntamente com a bomba de ar secundária, não é muito fácil de encontrar fora das concessionárias. O principal sintoma de defeito é o carro morrendo em baixa rotação, principalmente durante as trocas de marcha.
Ela fica localizada atrás do motor, perto da borboleta, como mostra a figura a seguir.


Mas é importante dizer que a válvula EGR (ou válvula de recirculação de gases) não é tão problemática como se imagina. Na verdade, a culpa é da péssima qualidade da nossa gasolina. Vale lembrar que o motor usado no GSi brasileiro é o mesmo do europeu, portanto também roda por lá. Sendo assim, por que lá não apresenta esse problema? Simples: o que causa a falha na EGR é o seu entupimento. E isso só acontece quando ela carboniza. E a carbonização, por sua vez, é fruto de combustível de má qualidade. Como na Europa o combustível é bem superior em qualidade ao daqui, esse problema não ocorreu (ou quase não ocorreu) por lá.
O que muita gente não se dá conta ou não sabe é que na maioria das vezes não é necessária a troca dessa peça. Por isso, preste muita atenção quando algum mecânico disser que precisa trocá-la. Na maioria dos casos, basta descarbonizá-la e utilizar combustível de boa qualidade (gasolina Pódium, por exemplo). Mesmo assim, recomenda-se fazer uma descarbonização dessa válvula pelo menos uma vez por ano. Fazendo isso, você pode evitar ter de desembolsar os cerca de R$ 1.700,00 que pedem por ela nas concessionárias. Isso se você encontrar alguma loja que ainda tenha a peça.


3.3 – Sistema de Injeção Eletrônica:

Embora não seja um problema provável de ocorrer, é bom certificar-se de que todos os sensores da injeção eletrônica estão em ordem. A injeção do Corsa GSi é do tipo SFI (sequential fuel injection, ou injeção sequencial de combustível), usada nos principais modelos da marca de mesma época (Vectra "A", Calibra e Omega). Esse sistema é um dos responsáveis pela economia de combustível do carro. Estar com ele em dia também representa economia. Passe o carro num scanner para ter certeza de que tudo está funcionando corretamente.


3.4 – Sistema ABS:

Como todos sabem, o sistema ABS evita o travamento das rodas durante a frenagem. Esse sistema é de série. Todos os Corsas GSi têm esse recurso. O não funcionamento do sistema não atrapalha o desempenho normal dos freios (continuam funcionando como num carro sem ABS), mas sem o recurso extra do antitravamento. É do critério do comprador decidir se esse item é importante ou não. Pessoalmente, eu não abro mão. É muito fácil encontrá-lo dentro do motor. Como mostra a figura ao lado, ele fica localizado do lado direito do cofre. 





4 – Detalhes da Aparência do Carro:

Embora o Corsa GSi seja um carro bonito de série e dispense qualquer acessório estético, existem muitos por aí que sofreram transformações pelos antigos donos, pequenos retoques para disfarçar defeitos ou ainda perderam alguma peça original e o dono fez uma reposição com uma peça totalmente desconexa com resto do carro. Por isso, preste muita atenção a alguns detalhes de aparência que podem indicar o cuidado ou o desleixo do antigo proprietário.

A partir de agora, veremos alguns pontos do carro onde é mais comum serem feitas adaptações ou “gambiarras”, seja por gosto do próprio dono, seja para disfarçar possíveis defeitos.


4.1 – Cores:

Nosso Corsa GSi saiu em poucas cores, algumas presentes na Europa e outras não. Há raríssimos casos de carros trazidos do velho continente com outras cores, mas contam-se nos dedos de uma mão esses modelos, que possuem o símbolo da Opel. Qualquer um no Brasil que seja diferente dos anos e cores listadas abaixo, indica que houve repintura na lataria:

1995: Amarelo "Piquet" (o nome original não consta no catálogo da GM), Branco Mahler, Prata Rodin e Vermelho Bach; 


1996: Branco Mahler, Prata Rodin, Preto Liszt, Verde Rousseau, Vermelho Bach e Vermelho Goya.


4.2 – Estado Geral do Motor:

Não precisa ser tão especialista para saber se o motor do carro está ou não bom. É possível eliminar algumas possibilidades apenas abrindo o capô e olhando a aparência geral do motor do carro. Verifique se está limpo, sem manchas de óleo e se os plásticos e mangueiras apresentam desbotamento ou desgaste. O motor do GSi, originalmente, é assim:





Mas é possível encontrar motores de péssima aparência, como este: 





Um motor com aparência de velho e estragado tem muitas chances de realmente estar assim. Mas é bom não ir pelas aparências. Às vezes, pode parecer limpo e estar com problemas. Nesse caso, a observação é importante apenas para eliminar os casos mais “gritantes”. Para que se saiba realmente se ele está bom, verifique com o mecânico de sua confiança. 

Recomendo evitar carros turbinados, como o da foto ao lado. Um GSi já anda bem ao natural, mas tem quem goste de envenená-lo ainda mais. O resultado geralmente é um carro bastante desgastado. Além disso, não é um motor que qualquer um sabe turbinar, pois exige bastante conhecimento por parte do preparador. Você ainda corre o risco de pegar um carro turbinado que pode ter problemas no futuro por ter sido mal preparado. É melhor não correr o risco.



4.3 – Saias Laterais:

Estes são os itens mais alterados ou retirados do carro. Cada saia é fixada com 35 presilhas (cada presilha custa cerca de R$ 5,00) e é composta por seis partes (incluindo as molduras dos para-lamas dianteiro e traseiro, que são diferentes dos outros Corsas e mais caras também), o que desanima muita gente na hora de repor a original perdida ou danificada. O modelo original é como o mostrado na figura abaixo: 




Não existe Corsa GSi com outro modelo de saia lateral. O que acontece é que muita gente perde/destrói as saias originais e faz adaptações. Se o modelo for diferente do original, suspeite. Abaixo, um exemplo de tais adaptações. Repare na diferença desta saia para a original, já mostrada acima:



Outro fato comum é a perda das tampinhas das saias (aquelas que se retiram pra colocar o macaco e trocar o pneu), como as da figura abaixo. Dê preferência aos carros que tiverem o conjunto de saias original e completo, pois as peças são difíceis de encontrar, mesmo em concessionárias (cada tampinha custa em torno de R$ 50,00 sem pintura!). Se estiverem todas lá, significa que o dono foi cuidadoso e que não andou com o carro em terrenos muito ruins. 

  


 4.4 – Rodas:


Simples e direto: O Corsa GSi só saiu com as rodas iguais às mostradas na figura a seguir:



  
Se encontrar algo diferente, torça o nariz. Sabe-se lá o que aconteceu com as rodas originais... E se as rodas estiverem certas, verifique se as calotas centrais existem e se as rodas não estão arranhadas. As calotas centrais são de liga leve e não de plástico. Portanto, custam caro e nem sempre são repostas. Verifique também se a chave que retira as calotas está presente. Sem ela, ficará difícil abrir as calotas para desparafusar as rodas. Abaixo, exemplos de rodas diferentes ou sem as calotas centrais:   






4.5 – Para-choque Dianteiro:

Por ser caro, geralmente se opta por consertá-lo em vez de comprar um novo. Só que raramente o conserto fica bem feito, e é fácil de perceber o que foi feito de errado, pois os erros de quem conserta são sempre os mesmos. Talvez o mais comum seja pintar as entradas de ar da mesma cor do carro. Quem conhece o modelo, sabe que as entradas de ar do para-choque dianteiro têm as laterais com detalhes pretos e não da cor do carro, como pode ser visto no exemplo:





No entanto, é muito comum ver casos como este:





Esse tipo de “gambiarra” pode indicar um abalroamento dianteiro ou colisão que tenha exigido um reparo ou repintura no para-choque.

Outro erro muito comum nesse item é o spoiler emborrachado (ou simplesmente borrachão), que fica embaixo do para-choque dianteiro. O modelo original é de borracha, dividido em duas partes e preto, como mostra a foto: 





O que se faz em caso de problema, é deixar o carro sem essa peça ou então mandar fazer uma em fibra, que quebra com facilidade. Verifique de perto este item e veja se é realmente de borracha e se não está muito arranhado ou desgastado. Pra variar, o original é caro. Abaixo, seguem exemplos de peça de fibra ou de falta de borrachão: 





Embora não seja comum, alguns ainda trocam a grade frontal pela dos Corsa Wind, ou então pintam a mesma da cor do carro. A grade original do GSi é diferente das demais e, além disso, é preta, como mostra a foto:   




Mesmo assim, tem gente que pinta as grades, como nesse caso: 





4.6 – Teto Solar:

Embora seja raro, existem alguns GSi sem teto solar. O acessório era listado como opcional, mas a maioria dos carros fabricados vinha com ele. Se você ver um sem teto solar, não se assuste, não necessariamente é um carro capotado que recebeu outro teto. Mas dê preferência aos que tiverem o acessório, pois valoriza o carro e é muito bonito e funcional. Só não deixe de verificar se existe infiltração. O teto sempre foi bem vedado e situações de infiltração são raríssimas, mas é sempre bom cuidar esse aspecto. Para os que ainda não viram, segue a foto de um GSi sem teto solar: 




Outro detalhe importante: todos os Corsas GSi com teto solar têm esse equipamento com acionamento manual. Não existiu teto solar elétrico nesse modelo. Alguns proprietários adaptaram tetos elétricos de outros carros como Omega ou Vectra, devido à facilidade de adaptação. Mas não é original:







4.7 – Maçanetas:

Pode até ser bonito, mas nenhum Corsa GSi saiu com as maçanetas das portas ou do capô traseiro pintadas na cor do carro. São todas pretas. Um GSi com as maçanetas pintadas pode ter sido recuperado de algum acidente ou então pintado a gosto do dono. Não posso considerar isso um defeito, mas é bom verificar o histórico do carro, por via das dúvidas. 



4.8 – Detalhe do Retrovisor:

Outro ponto muito pintado pelos donos, mas que não faz parte da originalidade. Esse canto do retrovisor externo é preto, assim como as maçanetas. 





É comum encontrar retrovisores com esse canto pintado. Pode ser indício de gosto pessoal do dono ou então de algum acidente que arrancou o retrovisor, etc. De qualquer forma, averigue o que realmente aconteceu.


4.9 – Frisos Laterais:

O Corsa GSi não tem frisos laterais, como a maioria dos outros Corsas. Sua lateral é completamente lisa, sem frisos. Se você encontrar um com frisos, suspeite. Pode ter levado uma porrada na porta e ter sido consertado logo depois. Além da questão de recuperação de um acidente, a colocação do friso é imoral: é complicado imaginar que alguém teria um gosto tão ruim pra colocar frisos nesse carro apenas por vontade própria. A ausência de frisos é justamente um dos fatores que dá ao carro a sua identidade única, o seu grau de exclusividade em relação aos irmãos mais "comportados".
Veja como fica feio:





4.10 – Bancos:

Esse é um item que merece bastante cuidado. Embora muitos achem que sim, os bancos do Corsa GSi não são da Recaro. Imitam bem o formato, mas não são dessa marca. É bom que você avalie muito bem o estado dos bancos e estofamentos do carro, pois isso poderá indicar desgaste. Compare com o desgaste do volante e com a quilometragem. Se estiverem em bom estado, os bancos são deste jeito:





Porém, há quem não cuide dos estofados, e os deixam em péssimo estado. Procure descartar carros com estofados ruins, pois o tecido navalhado do acabamento interno (bancos e laterais) do Corsa GSi custa cerca de R$ 70,00 o metro. Embora tenham um tecido que dure bastante, não é raro encontrar estofamentos detonados como este:





Outra dúvida comum é em relação aos bancos de couro. O Corsa GSi nunca ofereceu bancos de couro, nem como opcional. Mesmo que alguns tenham esse acessório, não são provenientes da fábrica. Ou foram encomendados pelos primeiros compradores junto às concessionárias ou foram instalados posteriormente. Ficam bonitos, mas não são originais. Se sua intenção não é ser colecionador, nem precisa se importar com isso, pois o couro, além de bonito, valoriza o carro. Mas é bom informar que não se trata de acessório de série do carro. Veja um exemplo bem sucedido:  






4.11 - Faróis e Lanternas:

Muitos donos colocam os faróis do modelo 2000 nos seus Corsas de anos anteriores. No GSi não é diferente. Mas os faróis originais não são lisos e as lanternas traseiras não são aquelas com “bolhas” em relevo. A substituição pode, muitas vezes, indicar que o carro tenha sido batido, ou então apenas um gosto do proprietário. Certifique-se do motivo da troca, caso tenha ocorrido.
Abaixo, seguem exemplos dos faróis e lanternas originais: 
























4.12 – Logotipos (decalques):

Os logotipos originais do Corsa GSi não são fabricados desde outubro de 2003. Mas ainda é possível encontrá-los em algumas concessionárias ou no mercado paralelo. E o preço, para o logotipo “GSi16v” gira em torno de R$ 100,00 o par.
O logotipo original é este:




O preço, como se pode ver, é caro se for comparado com os dos decalques dos primeiros Astra GSi, que são bem parecidos e custam em torno de R$ 50,00 o par. Deve ser por isso que muitos compram esse logotipo para colocar no Corsa GSi. Com o logotipo do Astra, o carro fica mais ou menos assim: 





Encontrar um GSi com os logotipos originais e bem conservados é difícil. Os logotipos originais ficam pretos com a idade, se o carro for exposto ao tempo. Mas se encontrar um que ainda preserve esses logotipos em bom estado, pode ser um sinal de que o dono é caprichoso. Afinal, se investiu R$ 100,00 em logotipos originais é porque realmente gosta do carro e quer preservá-lo. Mesmo assim, avalie o estado geral do carro e não apenas esses itens.


4.13 – Painel do Carro:

Analisar o painel do GSi também é importante para que se tenha a garantia de uma boa compra. Procure ver itens como a quilometragem (já mencionada) e detalhes como a luz do ABS (lado direito) e da injeção eletrônica (lado esquerdo). Se elas permanecerem acesas após ser dada a partida no motor, pode indicar avaria nesses sistemas. Procure evitar carros com estes problemas, pois como já dissemos, vai sair bem caro arrumá-los. 




4.14 – Indicador de Tripla Função (TID) e Rádio:

O indicador de tripla função (TID), embora opcional, equipa 95% dos Corsas GSi. Ele fica logo acima do painel e sua função é indicar data, hora e temperatura (quando o rádio é ligado, a temperatura é substituída pela estação selecionada).
Veja: 




Existem alguns GSi sem esse acessório. O painel desses carros fica parecido com o do Corsa Wind: 




De série, o carro possui rádio toca-fitas, integrado ao TID, pois o toca-fitas não possui display próprio. O rádio original é este:   



Existem alguns modelos que possuem CD player. Esse acessório era opcional na época. Não está integrado com o indicador de tripla função, pois possui display próprio. O modelo é este: 





4.15 – Volante e Manopla:

No GSi, o volante e a manopla de câmbio são ótimos “dedos-duros”. A partir do seu estado de conservação, é possível saber se o carro sofreu desgaste excessivo e inclusive verificar visualmente se a quilometragem real bate com o hodômetro. Por serem de couro, com o tempo eles podem sofrer deformações. Em carros com muito desgaste nesses itens, mas com baixa quilometragem, é possível encontrar indícios de adulteração. O volante é o mais delicado. É nele onde os efeitos do tempo aparecem com maior intensidade.
Originalmente, o volante é assim:  





Mas, com o desgaste, ele pode ficar até desse jeito:





Evite carros nessas condições. É extremamente difícil de repor essas peças e também um pouco caro.


Bem, espero que essas dicas ajudem você a encontrar um Corsa GSi em bom estado e que não vá lhe causar aborrecimentos ou arrependimento. Pelo menos agora você terá uma boa base de conhecimento para saber o que é e o que não é original no carro, e avaliar se é ou não uma boa compra. Desejo que, com este pequeno artigo, os interessados em comprar esse lindo carro possam se defender de muitos oportunistas que tentam enrolar o consumidor na hora de fechar um negócio.

Vale aqui ressaltar novamente a importância de conhecer a procedência e o histórico do carro. É tão importante quanto observar as dicas aqui listadas. Pelo fato de o GSi ser o modelo mais desejado da linha Corsa, com maior custo de manutenção e com mais itens a se cuidar, achei que essa contribuição seria válida, ainda que simples.

Agora, é com você. Vá em frente, avalie bem o carro que deseja comprar e seja feliz com o seu Corsa GSi 1.6 16v!